Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental
Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental
Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
lismo winnicottiano é postulado no bojo de uma reflexão que se mantém colada à<br />
experiência clínica, ao que esta permite entrever sobre a experiência da vida e, em<br />
particular, dos primórdios da vida emocional. Postula assim uma tendência inata ao<br />
desenvolvimento do indivíduo humano, uma tendência à integração do ego (Winnicott,<br />
2000, 223) e uma tendência à produção de um sentimento ético espontâneo.<br />
Espontaneidade é uma palavra-chave no vocabulário winnicottiano. Ela exprime<br />
um dinamismo da natureza viva (Winnicott, 200 , 5) que, no entanto, só pode se<br />
atualizar – como criação – num <strong>ambiente</strong> que favoreça essa espontaneidade (Winnicott,<br />
200 , 7). Para finalizar essas breves considerações em torno da perspectiva<br />
psicanalítica sobre a natureza, creio conveniente sublinhar que, permitindo pensar<br />
nossa indissolúvel ligação com a natureza, ela torna possível conceber um novo<br />
humanismo, que, <strong>para</strong> dizê-lo com as palavras de Edgard Morin, “não poderá mais<br />
ser portador da orgulhosa vontade de dominar o universo, [passando] a ser essencialmente<br />
o da solidariedade entre humanos, o qual implica uma relação umbilical<br />
com a natureza e com o cosmos”.<br />
“ Cap. II (págs. 94 e 95)<br />
Voltar-nos-emos, portanto, <strong>para</strong> uma questão menos ambiciosa, a que se refere<br />
àquilo que os próprios homens, por seu comportamento, mostram ser o propósito e a<br />
intenção de suas vidas. O que pedem eles da vida e o que desejam nela realizar? A resposta<br />
mal pode provocar dúvidas. Esforçam-se <strong>para</strong> obter felicidade; querem ser felizes e<br />
assim permanecer. Essa empresa apresenta dois aspectos: uma meta positiva e uma meta<br />
negativa. Por um lado, visa a uma ausência de sofrimento e de desprazer; por outro, a<br />
experiência de intensos sentimentos de prazer. Em seu sentido mais restrito, a palavra felicidade<br />
só se relaciona a esses últimos. Em conformidade a essa dicotomia de objetivos, a<br />
atividade do homem se desenvolve em duas direções, segundo busque realizar – de modo<br />
geral ou mesmo exclusivamente – um ou outro desses objetivos.<br />
Como vemos, o que decide o propósito da vida é simplesmente o programa do<br />
princípio de prazer. Esse princípio domina o funcionamento do aparelho psíquico desde<br />
o início. Não pode haver dúvida sobre sua eficácia, ainda que o seu programa se encontre<br />
em desacordo com o mundo inteiro, tanto com o macrocosmo quanto com o microcosmo.<br />
Não há possibilidade alguma de ele ser executado; todas as normas do universo<br />
são-lhe contrárias. Ficamos inclinados a dizer que a intenção de que o homem seja “feliz”<br />
148