Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental
Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental
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que cresce a partir de si mesmo, daquilo que se move a partir de seu crescimento<br />
intrínseco. Para ele, os avanços tecnológicos resultantes da exploração da energia<br />
atômica deflagraram um movimento que se desenvolve num ritmo sempre mais<br />
acelerado, que já independe da vontade do homem. A planetarização de uma sociedade<br />
que aboliu fronteiras espaciais e temporais coloca um desafio <strong>para</strong> o homem<br />
contemporâneo enquanto tal: o desafio de aprender a lidar com o poder da técnica.<br />
Para que isso aconteça, precisa compreender seu sentido.<br />
Heidegger não propõe uma recusa do mundo tecnológico. Seria uma insensatez,<br />
afirma ele, atacar a tecnologia cegamente. Precisamos das invenções técnicas<br />
e delas dependemos. Aquilo de que não precisamos e do qual nem dependemos é<br />
manter uma relação de tal modo unidimensional com o tecnológico que essa relação<br />
se torne uma servidão. O que podemos fazer é aprender a lidar com o poder que<br />
o mundo tecnológico traz, cuidando sempre <strong>para</strong> que essa relação seja de independência.<br />
Entretanto, Heidegger alerta <strong>para</strong> o profundo perigo da situação vivida pelo<br />
homem contemporâneo.<br />
A onda que se aproxima da revolução tecnológica poderia de<br />
tal modo cativar, enfeitiçar, seduzir e absorver o homem, que o<br />
pensamento que calcula viesse um dia a ser aceito e praticado<br />
como o único modo de pensamento (Heidegger, 980, p. 47).<br />
Se isso acontecesse, o ser humano se alienaria de sua natureza essencial, que<br />
é a de ser um ser que medita, ou seja, um ser que ausculta o sentido de tudo que<br />
existe. É esta via de um pensar meditante que “exige de nós que não nos fixemos<br />
sobre um só aspecto das coisas, que não sejamos prisioneiros de uma representação,<br />
que não nos lancemos sobre uma via única numa única direção” (Id., p. 44).<br />
Para isso, é preciso uma atitude de que se dispõe a ‘deixar-ser’ os seres e as<br />
coisas, inclusive os objetos tecnológicos. Podemos reconhecer nos objetos tecnológicos,<br />
que fazem parte de nosso cotidiano, seu lugar de coisas que não têm nada<br />
de absoluto, e que dependem de uma realidade mais alta. Ao pensar o mundo da<br />
técnica no qual estamos envolvidos, Heidegger convida-nos à mesma atitude de<br />
desapego e deixar-ser. Podemos dizer sim à utilização dos objetos técnicos e, ainda<br />
assim, manter-nos livres diante deles. Podemos “deixar-ser” estes objetos como algo<br />
que não nos envolve intimamente; dizer ao mesmo tempo “sim” e “não” aos objetos<br />
tecnológicos é não permitir o estabelecimento de uma relação de exclusividade com<br />
eles – que é a relação na qual o homem contemporâneo termina por ser dominado<br />
pelo mundo tecnológico que ele mesmo criou.<br />
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