Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental
Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental
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“Penso, logo existo”: o sujeito da Razão como<br />
fundamento da verdade<br />
A partir de suas experiências e observações de viagem, Descartes chega à<br />
conclusão de que os costumes e a cultura em geral não podem ser usados <strong>para</strong><br />
determinar a veracidade de coisa alguma, uma vez que há nas culturas tanta divergência<br />
e discórdia quanto entre os próprios filósofos. Ele escreve:<br />
Assim, o maior benefício que daí tirei foi que, percebendo uma<br />
série de coisas que, entretanto, nos parecem aceitas e aprovadas<br />
comumente por outros grandes povos, aprendi a não confiar<br />
muito em nada do que me fora incutido somente pelo exemplo<br />
e pelo hábito, e, desse modo, livrei-me gradativamente de<br />
muitos erros que podem ofuscar nossa luz natural e nos tornar<br />
menos capazes de ouvir a voz da razão. (Ibid., pp. 37-38).<br />
À época de Descartes, já havia uma desconfiança de que os hábitos e pensamentos<br />
fossem produzidos pela cultura. Na verdade, mesmo antes de Descartes,<br />
Montaigne já propunha que a verdade era relativa e intrinsecamente ligada à cultura<br />
em que era produzida. Na tentativa de eliminar tais suspeitas, Descartes busca<br />
descobrir um fundamento sólido e verdadeiro que não dependesse da cultura a que<br />
pertencia. É através de sua obra sobre a diversidade de opiniões na cultura que Descartes<br />
chega ao momento crucial do Discurso do Método – a mudança da história,<br />
cultura e tradição ao“eu”, a base de todo o conhecer.<br />
A partir desse movimento elementar emergirão as fundações metafísicas da<br />
modernidade: “Mas, depois que, por alguns anos, apliquei-me a estudar no livro do<br />
mundo, a procurar adquirir alguma experiência, tomei um dia a decisão de estudar<br />
também a mim próprio, e de empregar todas as forças de meu espírito na escolha<br />
dos caminhos que devia seguir” (Ibid., p. 38).<br />
Na Parte II do Discurso do Método, Descartes propõe suas famosas reflexões<br />
feitas numa sala aquecida pelo fogão. Tais reflexões ilustram particular e claramente<br />
a mudança do “eu” como centro de toda a certeza e verdade. Escrevendo em 6 9,<br />
num dia de solitária reflexão, Descartes propõe pela primeira vez que há no trabalho<br />
de uma pessoa individual e única muito mais perfeição do que na produção<br />
de um grupo de indivíduos. Os trabalhos de um único arquiteto também parecem<br />
<strong>para</strong> Descartes muito mais belos do que qualquer trabalho em que um número de<br />
pessoas tenha participado. Descartes suspeita de qualquer ciência que não resulte da<br />
“luz natural da razão”. Ele concluiu que: