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Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental

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A possibilidade de formação do homem virtuoso, como finalidade da<br />

<strong>educação</strong>, no Emílio, só pode ser adequadamente compreendida diante do projeto<br />

político apresentado em Do contrato social, cuja publicação também é de<br />

762. Nessa obra, o autor defende um princípio de cidadania que rompe com<br />

as desigualdades sociais e pensa uma nova sociabilidade, baseada na vontade<br />

geral. A liberdade moral alcançada pela virtude, em Emílio, pre<strong>para</strong> a posterior<br />

aceitação da vontade geral. Assim, o projeto antropológico-educativo de Emílio,<br />

ao descrever cuidados próprios à infância, mais que um modelo, é uma clara<br />

indicação da necessidade da <strong>educação</strong> <strong>para</strong> a constituição de uma sociedade de<br />

homens verdadeiros.<br />

A <strong>educação</strong> se viabiliza pelo respeito à força da natureza, pela necessidade<br />

de ouvir a voz que está no coração da criança e assegurar o desenvolvimento<br />

natural das diferentes fases que compreendem a infância até a adolescência.<br />

Entretanto, deve-se destacar que a volta à natureza não representa uma experiência<br />

da natureza como tal ou conservar uma experiência natural própria da<br />

infância. Através das atividades de contato com o mundo natural, como, por<br />

exemplo, situar-se em relação à posição dos astros, manipular objetos como<br />

contar, medir, com<strong>para</strong>r, Emílio aprende e realiza um distanciamento em relação<br />

à natureza.<br />

Rousseau sabe que o estado da natureza não é uma situação de fato, conforme<br />

ele mesmo adverte no Prefácio do Discurso sobre a Desigualdade, ao afirmar<br />

que o estado natural “[...] não mais existe, que talvez nunca tenha existido, que<br />

provavelmente jamais existirá, e sobre o qual se tem, contudo, a necessidade de<br />

alcançar noções exatas <strong>para</strong> bem julgar nosso estado presente”. Não se trata de<br />

realizar uma contemplação da natureza que a tudo absorveria, mas de ter um<br />

ponto de referência <strong>para</strong> aquilo que há de enganoso na sociedade, um critério<br />

<strong>para</strong> fundar o juízo crítico do mundo social. O estado da natureza é hipotético<br />

do ponto de vista social, mas do ponto de vista psicológico é um estado efetivo,<br />

porque se refere à espontaneidade e à liberdade interior.<br />

“Observai a natureza e segui o caminho que ela vos indica” é o fio que<br />

tece a <strong>educação</strong> de Emílio. Por esse caminho forma-se primeiro o homem, que<br />

encontra dentro de si uma lei firme, <strong>para</strong> depois, como cidadão, preocupar-se<br />

com as leis do mundo. O homem tem por objetivo a sua própria conservação, e<br />

o cidadão, a conservação do corpo social. A liberdade moral do cidadão depende<br />

da pre<strong>para</strong>ção do homem, pois este só pode dar-se às leis sociais quando for<br />

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