Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental
Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental
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clínico e teórico, tornou evidente que a união com os outros – isto é, o erotismo, no<br />
seu sentido mais amplo – constituía uma necessidade imperiosa do homem.<br />
Afirmando a existência de uma pulsão agressiva autônoma no homem, Freud<br />
teorizou a integração do sujeito na vida social a partir da ótica da oposição e da<br />
dominação. Assim, na sua perspectiva, a consciência moral do sujeito era produzida<br />
através da repressão da pulsão agressiva, sendo sua energia apropriada pela autoridade<br />
introjetada (superego), atuando no psiquismo do sujeito como uma autoridade<br />
repressiva.<br />
Criatividade, historicidade e natureza<br />
Convém distinguir entre as constatações fáticas operadas na experiência e a<br />
elaboração teórica dessas constatações. Freud partiu, <strong>para</strong> formular sua teoria sobre<br />
o caráter natural e insuperável da pulsão de morte, da constatação clínica da agressividade<br />
nos processos psíquicos, bem como da observação da vida social e da história<br />
humana, bem como da “compulsão à repetição” também constatada clinicamente.<br />
Esta constatação, contudo, não faz da teoria da pulsão de morte uma conseqüência<br />
necessária. Como se viu, esta teoria emerge da interpretação da agressividade humana<br />
no bojo de alguns pressupostos centrais do <strong>para</strong>digma moderno (determinismo,<br />
individualismo, dualismo ser humano – natureza), da leitura do conhecimento científico<br />
da época (entropia), do momento civilizacional (pessimismo provocado pela<br />
guerra e a crise de pós-guerra) e da própria subjetividade de Freud. 0<br />
A leitura winnicottiana – que apenas poderemos mencionar aqui – se insere<br />
num contexto completamente diferente. Apoiando-se nas descobertas freudianas,<br />
o autor inglês pensou a emergência da subjetividade a partir do encontro entre<br />
cada indivíduo (psico-soma) e seu <strong>ambiente</strong>. A agressividade, na sua ótica, é apenas<br />
expressão da motilidade que, como impulso vital, anima o indivíduo e que, junto<br />
com o erotismo, constitui o patrimônio natural da espécie. A agressividade é vista<br />
então como expressão do amor primário, e não como expressão de um movimento<br />
pulsional visando a morte e a destruição. O destino dessa motilidade, <strong>para</strong> Winnicott,<br />
dependerá fundamentalmente da qualidade do <strong>ambiente</strong> (‘mãe suficientemente<br />
boa’) e de sua confiabilidade. Um <strong>ambiente</strong> positivo, capaz de permitir o movimento<br />
de autocriação e criação do sujeito, constitui <strong>para</strong> ele o fulcro do qual emerge o<br />
10 Sem dúvida, o desencanto provocado – não apenas em Freud – pela carnificina da primeira guerra mundial<br />
e, mais em geral, pelo fim da “belle époque” e a abertura do prolongado período de crise que levou à<br />
segunda guerra mundial, bem como aspectos da vida pessoal de Freud, constituíram fatores subjetivos a<br />
influenciar sua produção teórica.<br />
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