Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental
Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental
Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
“ A virtude pode ser encarada sob dois pontos de vista: enquanto resultado da inteligência,<br />
e enquanto produto dos costumes. No primeiro caso ela pode, na maior parte<br />
das vezes, ser ensinada, sendo, pode-se dizer, suscetível de geração e de crescimento; por<br />
esse motivo necessita de tempo e de experiência; mas, no segundo caso, nasce do ethos<br />
(costume, hábito), daí se deriva seu nome de ética. Isso nos permite perceber claramente<br />
que nenhuma virtude moral existe em nós enquanto produto imediato da natureza, porque<br />
nada que provém da natureza pode ser alterado pelos costumes. Assim, a pedra, cuja<br />
tendência natural puxa sempre <strong>para</strong> baixo, nuca alterará esta direção, mesmo que nos esforcemos<br />
<strong>para</strong> acostumá-la a uma direção contrária, lançando-a no ar seguidamente. Em<br />
suma, não há qualquer meio de, através dos costumes, alterar as inclinações e tendências<br />
impressas pela natureza. Portanto, as virtudes nunca são em nós fruto da natureza, nem<br />
evidentemente contrárias à natureza, mas a natureza simplesmente nos torna capazes de<br />
recebê-las, cabendo a nós aperfeiçoá-las através do hábito. Além do mais, trazemos em<br />
nós logo ao nascer as faculdades específicas daquilo que existe em nós como produto da<br />
natureza, mas só seguidamente é que vimos produzir os atos, tal como claramente ocorre<br />
com os sentidos. Não foi por ver ou ouvir repetidamente que adquirimos esses sentidos,<br />
ao contrário, já os tínhamos antes de usá-los e não passamos a tê-los por usá-los. No caso<br />
das virtudes, contudo, nós as adquirimos por tê-las praticado, tal como acontece com as<br />
artes. A prática é nosso principal meio de instrução no caso das coisas que só fazemos<br />
bem quando as sabemos fazer. Por exemplo, é construindo que nos tornamos pedreiros,<br />
tocando lira que nos tornamos músicos; do mesmo modo, é praticando a justiça que<br />
nos tornamos justos, agindo moderadamente que nos tornamos moderados e corajosamente<br />
que nos tornamos corajosos. Aquilo que se passa na sociedade é prova disso, pois<br />
os legisladores formam os bons cidadãos habituando-os a agir bem. [...] Se não fosse<br />
assim não seriam necessários os mestres, pois todos os homens teriam nascido, bem ou<br />
mal, dotados <strong>para</strong> as suas profissões. Logo, acontece o mesmo com as várias formas de<br />
excelência moral, na prática dos atos em que temos que nos engajar uns com os outros,<br />
tornamo-nos justos ou injustos; na prática de atos em situações perigosas e adquirindo<br />
o hábito de sentir receio ou confiança, tornamo-nos corajosos ou covardes. O mesmo<br />
se aplica aos desejos e à ira; algumas pessoas se tornam moderadas e amáveis, enquanto<br />
outras se tornam concupiscentes e irascíveis, por se comportarem de maneiras diferentes<br />
nas mesmas circunstâncias. Em outras palavras, nossas disposições morais correspondem<br />
às diferenças entre nossas atividades.<br />
38<br />
Ética a Nicômaco (II. )