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Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental

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No artigo O conceito de história, antigo e moderno, Arendt discute as diferenças<br />

entre o conceito de história e natureza entre os antigos, particularmente os gregos,<br />

e os pensadores da época moderna . Como nos mostra a autora, <strong>para</strong> os gregos<br />

daquela época não existe a idéia de natureza, tal como a entendemos hoje. O que<br />

compreende todas as coisas vivas no mundo grego é a physis. A physis abarca todas<br />

as coisas que vêm a existir por si mesmas, sem assistência dos humanos. Coisas<br />

que existem <strong>para</strong> sempre e por isso não necessitam da recordação humana <strong>para</strong> sua<br />

existência futura. Todas as criaturas vivas, inclusive a humanidade enquanto espécie<br />

(mas não as pessoas enquanto indivíduos mortais), pertencem a esse ser-<strong>para</strong>-sempre.<br />

A physis é o lugar da ordem e da regularidade, do movimento perpétuo e inteligente<br />

e se desvela como um fenômeno exterior ao humano, é auto-evidente. Neste<br />

sentido, pode-se dizer que o pensamento grego quer saber como as coisas vieram a<br />

existir, mas não duvida de sua existência.<br />

Há duas palavras no mundo grego que nomeiam diferentes sentidos da palavra<br />

vida: Zoe e Bios. Zoe designa o simples fato de viver, fato comum a todos os<br />

seres vivos. Nomeia a condição da vida biológica, que não é a vida do sujeito político,<br />

mas apenas a vida reprodutiva. Bios, por sua vez, designa a forma ou maneira de<br />

viver própria de um grupo. Por exemplo, pode designar a vida contemplativa (bios<br />

theoreticós), a vida de prazer (bios apolausticós) ou a vida política (bios politicós). Em<br />

todo caso, é sempre uma vida qualificada. A existência biológica do ser humano, enquanto<br />

animal de uma espécie (humana), partilha da condição da vida como Zoe. A<br />

existência do indivíduo humano, contudo, <strong>para</strong> além de sua condição de Zoe, participa<br />

também da dimensão da vida como Bios, na medida em que se constitui como<br />

uma história identificável do nascimento à morte, retilínea, irrepetível e mortal, que<br />

secciona transversalmente o ciclo repetitivo da vida biológica e do ser <strong>para</strong> sempre,<br />

e cujos feitos podem se tornar imortais.<br />

O que pode tornar a ação humana um feito imortal ou memorável, isto é,<br />

que transcende a condição de acontecimento biológico, é a narrativa da poesia e/ou<br />

da história – que neste período do mundo grego se sobrepõem. A História se apresenta,<br />

desta forma, como uma ponte entre a imortalidade da physis e a mortalidade<br />

do humano. É o modo próprio do humano acessar a condição de imortalidade. O<br />

exemplo emblemático é o do poeta e o historiador Heródoto, cuja tarefa é a da<br />

imortalização pela recordação dos grandes feitos humanos. Também Homero, na<br />

Odisséia, narra a cena de Ulisses escutando a própria história de seus feitos e sofrimentos,<br />

como um objeto fora dele. Esta cena poderia ser considerada a matriz da<br />

1 Arendt entende moderno como o período que se inicia com a Renascença, marcando as grandes mudanças<br />

em relação à antigüidade e ao período medieval, e segue até o final do séc. XVIII.<br />

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