Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental
Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental
Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
autômatos. Também não é propondo receitas ou ditando imperativos de seja<br />
feliz. Espinosa seria absolutamente contrário à proposta recente da Inglaterra<br />
de dar “aulas de felicidade” a alunos da escola pública, na tentativa de enfrentar<br />
comportamentos agressivos e a depressão, que atinge 0% das crianças inglesas<br />
na faixa de anos. Para ele, essa seria uma <strong>educação</strong> por obediência 6 , um ato<br />
derivado e passivo que, por isso mesmo, exprime mais a virtude do poder do<br />
que a dos cidadãos (CHAUÍ, 2003, p. 279).<br />
A <strong>educação</strong> não deve formatar ou disciplinar as emoções, como também<br />
não deve execrar as paixões tristes. Ela deve se preocupar em fazer os homens<br />
aceitarem e entenderem a gênese de suas paixões e a criarem processos de fortalecimento<br />
da própria força de resistência às forças opressoras (preconceito,<br />
desmesura do poder e superstição).<br />
Educar implica a configuração de uma maneira de viver que promove a<br />
liberdade e a felicidade individuais, interiores e personalizadas, mas que se concretizam<br />
nas relações como estado de amor, reencontro de si com um estatuto<br />
universal, pois se descobre o lugar que se ocupa no todo.<br />
Em síntese, pode-se afirmar que Espinosa opera um giro metodológico<br />
que permite colocar a <strong>educação</strong> <strong>ambiental</strong> de uma maneira nova.<br />
Temos razões <strong>para</strong> temer a destruição de nosso planeta, mas não vamos<br />
conseguir detê-la pelo medo ou pela submissão.<br />
Na <strong>educação</strong> <strong>ambiental</strong>, <strong>para</strong>fraseando o que disse Espinosa ao se referir<br />
aos fundamentos do Estado,<br />
[...] o fim último não é dominar os homens nem coagi-los<br />
pelo medo, ao contrário, é libertar cada um do medo, [...] a<br />
fim de que mantenham, sem prejuízo <strong>para</strong> si e <strong>para</strong> os outros,<br />
o seu direito natural a existir e a agir [...]. É fazer com<br />
que a sua mente e seu corpo exerçam com segurança as suas<br />
respectivas funções [...] e que não se digladiem por ódio,<br />
cólera ou insídia, nem se deixem arrastar por sentimentos<br />
de intolerância”. (TTP, cap. XX, p.367).<br />
A atualidade de Espinosa está também na orientação que ele oferece à<br />
construção de um <strong>para</strong>digma ecológico, que conecta todas as coisas, pessoas,<br />
6 Sobre obediência como ação interior da vontade, ver B. Espinosa, Tratado teológico-político, cap. XVII.<br />
84