Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental
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A metodologia proposta por Paulo Freire está centrada na cultura 5 como<br />
dimensão da formação de uma consciência crítica que, pelo seu caráter dialógico,<br />
permite aos sujeitos partilharem laços interpessoais e interpretar a realidade, fundamentando<br />
a transição entre a identidade da resistência e o projeto social de emancipação<br />
coletiva 6 . Portanto, a noção de diálogo freireano está diretamente vinculada<br />
à ação, na medida em que pronunciar o mundo 7 (meta central de qualquer diálogo,<br />
nesta concepção) é, ao mesmo tempo, compreendê-lo e transformá-lo. Este diálogo<br />
é essencialmente um ato de criação de uma nova realidade, um ato de liberdade<br />
solidariamente construído no compromisso da transformação da situação de dominação<br />
e de exclusão, contra a desumanização resultante de uma ordem injusta.<br />
Uma ação dialógica implica na solidariedade entre pares que se reconhecem<br />
como humanos, com a capacidade potencial de serem sujeitos históricos e pronunciar<br />
o mundo. Envolve-nos em todas as dimensões da nossa humanidade, tanto as<br />
cognitivas quanto as afetivas, criando utopias e esperanças.<br />
Para Freire (2005), o diálogo verdadeiro implica o pensar ético, a ação politicamente<br />
comprometida com o “outro”, em que não existe a dicotomia entre Homem<br />
e Mundo, mas sim a inquebrantável solidariedade que, criticamente, analisa<br />
e intervém, captando o futuro (o ser mais), o devir da realidade, temporalizando o<br />
espaço, indo <strong>para</strong> além do presente normatizado e estratificado que caracteriza o<br />
pensamento ingênuo. 8<br />
O desafio da superação dessa consciência ingênua, determinada pelas condições<br />
de exclusão e opressão que não permitem a expressão plena da humanidade,<br />
5 A cultura como o acrescentamento que o homem faz ao mundo que não fez. A cultura como resultado do<br />
seu trabalho. Do seu esforço criador e recriador. O sentido transcendental de suas relações. A dimensão humanista<br />
da cultura. A cultura como aquisição sistemática da experiência humana. Como uma incorporação,<br />
por isso crítica e criadora, e não como uma justaposição de informes ou prescrições ‘doadas’.” in Educação<br />
como prática da liberdade (FREIRE, 1980, ps.109).<br />
6 Para Castells (1999), os grupos que se reúnem em torno de uma identidade de projeto utilizam-se de materiais<br />
culturais, redefinem sua posição na sociedade através da construção de uma nova identidade e, ao<br />
fazê-lo, buscam a transformação de toda a estrutura social. A identidade de projeto produz sujeitos capazes<br />
de criar uma história pessoal, de atribuir significados a suas experiências pessoais. Ou seja, a construção<br />
de uma identidade coletiva tem, como condição, a internalização individual pelos seus atores, da finalidade<br />
de suas ações. Vemos aqui a mesma construção dialética subjetividade-objetividade proposta por Freire.<br />
(AMARAL, 2002)<br />
7 É nesse agir-conhecer sobre o mundo, transformando-o, que o Homem cria sua cultura (“estrutura vertical”)<br />
e na medida em que esse mundo da cultura se entrelaça com as transformações ocorridas em outras<br />
épocas, constrói sua História (“estrutura horizontal”). Todavia, toda essa construção exige uma condição<br />
indispensável: a intercomunicabilidade. O Homem não está sozinho em seu mundo e o ato de conhecer um<br />
objeto não se reduz simplesmente na relação entre esse homem e o seu objeto de conhecimento. ´Sem<br />
a relação comunicativa entre sujeitos cognoscentes em torno do objeto cognoscível, desapareceria o ato<br />
cognoscitivo´ (Freire, 1979:65). É neste movimento de encontro entre os homens que a subjetividade individual<br />
abre passagem <strong>para</strong> a intersubjetividade do coletivo. Intercomunicar-se é colocar em comunicação as<br />
diversas subjetividades em função de uma relação gnosiológica” (AMARAL, 2002).<br />
8 Ver esta proposição nas págs. 107 à 110, de Pedagogia do Oprimido. (FREIRE, 2005).<br />
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