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Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental

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fragmentos, destes pensadores nos remetem não somente a um momento histórico<br />

anterior a Sócrates, de acordo com o nome pelo qual eles foram intitulados pela<br />

história da filosofia. Antes, e de modo mais essencial, Heidegger dirá, eles são os<br />

pensadores originários, de cuja origem brotaram diferentes expressões históricas e<br />

de pensamento. E, sobretudo, são pensadores originários porque pensam a Origem<br />

de todas as coisas, o princípio, que, em grego, se diz arché. Esta palavra, por sua<br />

vez, designa não somente o início de algo; arché é a fonte inaudita de tudo que é,<br />

e de onde tudo brota incessantemente; é também o poder, a força, o príncipe, isto<br />

é, o princípio regente e constitutivo do que estes pensadores chamavam physis. A<br />

pergunta, o interesse fundamental dos pensadores originários, ou pré-socráticos, era<br />

pensar a arché da physis. A palavra physis, por sua vez, diz mais do que aquilo que<br />

nós consideramos a física, ou o mundo físico. Este “mais” diz respeito a um sentido<br />

de abrangência, e também mostra uma experiência do real que só foi possível porque<br />

estes pensadores pensaram numa dimensão de pensamento diferente da dimensão<br />

na qual pensamos na modernidade.<br />

No sentido da abrangência, pertence à physis tudo que é, em qualquer nível de<br />

ser: uma pedra, uma planta, o ser humano, mas também um sentimento, um deus,<br />

tudo que é uma expressão de physis. Mas embora designe a totalidade do real em<br />

qualquer nível de ser, o sentido de physis não se traduz como a soma aritmética de<br />

todas as coisas.<br />

Em outro nível, a própria palavra physis provém de um verbo, phuein. Este<br />

tem o sentido de jorrar, brotar, espocar, como uma fonte que jorra ou uma vegetação<br />

que brota. O crescimento espontâneo pelo qual algo vem a ser o que é, não<br />

por imposição de um fator externo, mas por uma força que lhe é inerente. Nesta<br />

compreensão, cada ser (e a totalidade do que existe) é experienciado como uma<br />

manifestação desta dinâmica de surgimento. À physis pertencem o céu e a terra, a<br />

pedra e a planta, o animal e o homem, o acontecer humano como obra do homem<br />

e dos deuses, e os próprios deuses, como a expressão mais brilhante da physis, sua<br />

ontofania. E sobretudo, o que esta palavra evoca não é somente a pedra e a planta, o<br />

deus e o homem, mas ao próprio “surgir”. Nos indica que a experiência do real vivida<br />

pelos gregos daquela época é a experiência da realização, do constante vir-a-ser,<br />

que se presentifica incessantemente ao olhar admirado do ser humano. A procura<br />

da arché é o princípio que acompanha e constitui a dinâmica essencial deste manifestar;<br />

é o princípio, a lei unificadora, a fonte perene deste emergir. Neste sentido,<br />

physis e arché não são conceitos que podem ser se<strong>para</strong>dos como meros instrumentos<br />

de classificação: denominam dimensões de um mesmo movimento da realidade se<br />

manifestando em sempre novas realizações, e falam ao mesmo tempo da unidade<br />

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