Pensar o ambiente: bases filosóficas para a educação ambiental
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Antes de a cidade ser pela primeira vez bombardeada, as tropas soviéticas<br />
esvaziaram as bibliotecas, transportando seus pertences <strong>para</strong> lugares desconhecidos.<br />
Em vista disso, muitos livros e manuscritos de autoria, propriedade e uso pessoal de<br />
Kant encontram-se até hoje desaparecidos, investindo-se por isso intensas buscas<br />
em sua localização.<br />
Um professor russo, da aí localizada e agora chamada Universidade Immanuel<br />
Kant, declarou-me que considera exótico que Kant seja estudado no Brasil. No<br />
entanto, a Sociedade Kant Brasileira é uma das maiores sociedades kantianas do<br />
mundo, e em setembro de 2005 promoveu na Universidade de São Paulo, por delegação<br />
da Sociedade Kant da Alemanha (Kant-Gesellschaft), o X Congresso Kant<br />
Internacional (10th International Kant Congress), que pela primeira vez foi realizado<br />
fora do circuito Alemanha/Estados Unidos. Até uma Moto Tour desde Vilna, capital<br />
da Lituânia, até São Paulo foi organizada e efetuada em homenagem a Kant, por<br />
motivo do Congresso Kant no Brasil, passando antes pelo túmulo de Kant junto à<br />
Catedral de Königsberg e, uma vez na América, descendo por terra desde o México<br />
até o Brasil, numa extensão aproximada de dez mil quilômetros rodados neste<br />
último trecho. Isso faz supor que o estudo do pensamento de Kant, no Brasil, não<br />
seja nada exótico, mas que Kant tenha, antes, uma mensagem a transmitir a toda a<br />
humanidade, à filosofia, à ciência, ao direito, à política, ao nosso tempo e aos séculos<br />
vindouros, como a tiveram e continuam tendo privilegiadamente Platão e os Gregos.<br />
A propósito, o filósofo norte-americano Richard Rorty escreveu recentemente<br />
que o estudo da filosofia tem de se fazer hoje a partir de Platão e Kant.<br />
Então, limitando a sua existência à sua própria cidade natal, Kant foi pelas<br />
suas contribuições teóricas e pelo seu espírito um filósofo cosmopolita, no sentido<br />
estrito do termo. Ele viveu o século XVIII, época do Iluminismo, chamada em alemão<br />
de Aufklãrung (Esclarecimento). Essa foi uma época racionalista, de crença no<br />
triunfo da ciência e de crença em um ainda mais ilusório futuro feliz da humanidade,<br />
presumidamente proveniente do progresso da ciência. Só que a ciência nunca<br />
bastou <strong>para</strong> tornar os homens melhores. Ela é em mais de duas terças partes posta a<br />
serviço da guerra. Kant – que propôs como lema do Esclarecimento: Ousa pensar!<br />
(ou: ousa servir-te autonomamente de teu próprio entendimento, sem necessidade<br />
do auxílio de outrem!), e que viu como causas da falta de pensar próprio a covardia e<br />
a preguiça – foi um crítico de seu tempo. À pergunta, se vivemos numa época esclarecida,<br />
ele respondeu: “Não! Mas vivemos numa época em vias de esclarecimento”.<br />
O seu senso realista e crítico proveio teoricamente do fato de ele ter procurado<br />
superar as parcialidades e reunificar as virtualidades comuns das filosofias<br />
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