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“disposições para crer, disposições para agir”: jovens de ... - Uece

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casa <strong>para</strong> terem acesso aos conteúdos curriculares que não são trabalhados pelos<br />

professores em <strong>de</strong>corrência da limitação do tempo escolar noturno. Referindo-se à situação<br />

do ensino noturno, o mesmo jovem afirmou: “Porque também a carga horária é menor. Aí a<br />

matéria é atrasada ... A carga horária da manhã, por ser maior, po<strong>de</strong> adiantar o assunto”.<br />

(Jovem <strong>de</strong> 17 anos, 3º Ano, Grupo Focal).<br />

As narrativas dos entrevistados do ensino noturno indicam a existência <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s entre os estudantes <strong>de</strong> diferentes turnos no acesso aos conteúdos escolares<br />

consi<strong>de</strong>rados importantes <strong>para</strong> aprovação nos processos seletivos <strong>para</strong> ingresso no Ensino<br />

Superior, como passar no ENEM, por exemplo. Desse modo, mesmo nos espaços internos<br />

da escola, reproduzem-se <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s que dificultam os processos <strong>de</strong> formação escolar<br />

<strong>de</strong>sses <strong>jovens</strong>.<br />

As especificida<strong>de</strong>s dos estudantes do ensino noturno nem sempre são<br />

capturadas pelo olhar dos gestores, o que po<strong>de</strong>, muitas vezes, colocar esses sujeitos<br />

sociais em situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>svantagem <strong>de</strong>ntro do próprio contexto escolar. É importante<br />

pensar que “manerar na matéria” talvez não signifique aten<strong>de</strong>r ao que esses <strong>jovens</strong><br />

esperam da escola como âncora <strong>para</strong> seus projetos <strong>de</strong> futuro.<br />

Se o tempo escolar disponível <strong>para</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento curricular no ensino<br />

noturno não é suficiente <strong>para</strong> que os estudantes possam ter acesso às informações e<br />

conhecimentos exigidos nos processos seletivos que preten<strong>de</strong>m participar, novas<br />

estratégias pedagógicas po<strong>de</strong>m ser elaboradas na perspectiva <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r às <strong>de</strong>mandas<br />

<strong>de</strong>sses <strong>jovens</strong>.<br />

A construção <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> futuro mantém relação com as próprias condições<br />

em que se vive o presente. Segundo Bourdieu (2011a, p.89),<br />

[...] aquém <strong>de</strong> um certo patamar, não é possível constituir a própria<br />

disposição estratégica que implica a referência prática a um futuro, por<br />

vezes muito distante, como se a ambição efetiva <strong>de</strong> dominar o futuro fosse,<br />

inconscientemente, proporcional ao po<strong>de</strong>r efetivo <strong>para</strong> dominá-lo. E, longe<br />

<strong>de</strong> representar um <strong>de</strong>smentido, as ambições sonhadas e as esperanças<br />

milinaristas manifestadas, por vezes pelos mais carentes dão ainda<br />

testemunho <strong>de</strong> que [...] a “<strong>de</strong>manda efetiva” encontra seu fundamento e,<br />

também, seus limites no po<strong>de</strong>r, medidos pelas chances <strong>de</strong> saciar o <strong>de</strong>sejo e<br />

satisfazer a necessida<strong>de</strong>.<br />

Para o autor, não se po<strong>de</strong> pensar em futuro quando se está abaixo <strong>de</strong> um<br />

<strong>de</strong>terminado patamar. Tal situação inviabiliza a existência dos meios necessários <strong>para</strong> a<br />

construção das próprias disposições que permitem essa alusão a um futuro. Desse modo,<br />

<strong>para</strong> se “viver o presente pensando no futuro”, como foi <strong>de</strong>stacado na narrativa <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>

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