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“disposições para crer, disposições para agir”: jovens de ... - Uece

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espaço social possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> mudança na condição vivida, o que po<strong>de</strong> indicar não<br />

somente um “senso <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>” <strong>de</strong> que o fato <strong>de</strong> não saber ler não lhe permite sonhar com<br />

o acesso a outras profissões. Mas, também, po<strong>de</strong> indicar que a entrevistada não percebe<br />

em sua volta a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio, seja da escola, seja <strong>de</strong> outras ações institucionais no<br />

bairro. Não haveria alternativas a serem buscadas.<br />

Em uma <strong>de</strong> suas narrativas, já comentada em outra parte <strong>de</strong>ste estudo, a<br />

mesma afirmou: “[...] a minha vonta<strong>de</strong> é <strong>de</strong> ler muito, mas eu não... (chora). Ninguém me<br />

ensina...” A expressão “ninguém” po<strong>de</strong>ria implicitamente conter o sentimento <strong>de</strong> ausência <strong>de</strong><br />

uma ação direcionada a esse problema, particularmente, da escola, instância <strong>de</strong><br />

socialização em que o processo <strong>de</strong> alfabetização aparece como uma <strong>de</strong> suas atribuições no<br />

contexto da educação da socieda<strong>de</strong>.<br />

Nesses casos em que os <strong>jovens</strong> não i<strong>de</strong>ntificam a existência <strong>de</strong> condições<br />

objetivas que possam concretizar suas pretensões no campo da educação, torna-se mais<br />

difícil o processo <strong>de</strong> construção das disposições <strong>para</strong> agir, consi<strong>de</strong>rando que as próprias<br />

disposições <strong>para</strong> <strong>crer</strong> po<strong>de</strong>rão ser fragilizadas diante dos impedimentos percebidos em suas<br />

trajetórias escolares vividas no presente.<br />

Apesar da <strong>de</strong>scrença na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter outra profissão além <strong>de</strong> costureira,<br />

a jovem afirmou preten<strong>de</strong>r cursar o Ensino Médio. A intenção <strong>de</strong> prosseguir os estudos até<br />

esse nível <strong>de</strong> ensino foi verificada entre todos os outros entrevistados <strong>de</strong> EJA do<br />

Bonsucesso:<br />

Terminar todinho. Melhor <strong>para</strong> arranjar trabalho. (16 anos, EJA IV).<br />

Terminar e fazer faculda<strong>de</strong>. (17 anos, EJA IV).<br />

O povo diz que é bom fazer o Ensino Médio. (16 anos, EJA IV)<br />

É por isso que eu to fazendo o EJA. Eu quero terminar. Vou pro Heráclito (João<br />

XXIII) (Jovem <strong>de</strong> 16 anos, EJA IV).<br />

Em uma conversa observada no pátio entre algumas estudantes que estavam<br />

concluindo a EJA V, as <strong>jovens</strong> <strong>de</strong>monstraram <strong>de</strong>scontentamento quanto à escola <strong>de</strong> Ensino<br />

Médio <strong>para</strong> a qual estariam sendo transferidas ao final do ano letivo. Referida escola fica<br />

distante <strong>de</strong> suas residências, dificultando o <strong>de</strong>slocamento diário das estudantes durante o<br />

período noturno, tendo em vista a distância e o risco <strong>de</strong> roubos ou assaltos. De acordo com<br />

as <strong>jovens</strong>, não haveria mais vagas <strong>para</strong> a escola mais próxima e todos os estudantes <strong>de</strong><br />

EJA da escola pesquisada do Bonsucesso estariam sendo transferidos <strong>para</strong> a unida<strong>de</strong><br />

escolar mais distante.

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