âdisposições para crer, disposições para agirâ: jovens de ... - Uece
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educação e do trabalho, pois a matriz <strong>de</strong> socialização familiar apresenta papel importante na<br />
constituição <strong>de</strong> disposições fortes, que po<strong>de</strong>m ser transferidas, posteriormente, <strong>para</strong> as<br />
diversas situações extrafamiliares enfrentadas pelos <strong>jovens</strong>.<br />
Na entrada <strong>de</strong>sses <strong>jovens</strong> em novos espaços <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong>, como a escola,<br />
organizações religiosas, políticas ou culturais, bem como nas relações estabelecidas no<br />
campo do trabalho e, ainda, nas vivências na rua, po<strong>de</strong> ocorrer uma reativação das<br />
disposições construídas no ambiente familiar, adaptadas ao novo contexto. Mas, também<br />
po<strong>de</strong> ocorrer a transformação <strong>de</strong> uma disposição, consi<strong>de</strong>rando as especificida<strong>de</strong>s dos<br />
diversos campos que esses sujeitos po<strong>de</strong>m passar a atuar. Uma disposição “po<strong>de</strong> ser<br />
inibida (estado <strong>de</strong> vigília) ou transformada (<strong>de</strong>vido a sucessivos reajustes congruentes)”<br />
(LAHIRE, 2004, p. 30), reajustes que po<strong>de</strong>m ser exigidos pelos novos contextos <strong>de</strong> vivência.<br />
3.1 Diferentes Motivações <strong>para</strong> a Inserção nas Turmas <strong>de</strong> Ensino Noturno <strong>de</strong><br />
EJA<br />
De acordo com as observações nos espaços escolares, questionários ou<br />
entrevistas realizadas com os estudantes <strong>de</strong> EJA do Mondubim e do Bonsucesso, a entrada<br />
<strong>para</strong> o ensino noturno apresentava-se associada à inserção em alguma ocupação geradora<br />
<strong>de</strong> renda. Entretanto, outras motivações também foram apontadas pelos <strong>jovens</strong>, como a<br />
negativa por parte das escolas em efetuarem matrícula no ensino diurno <strong>para</strong> estudantes<br />
em situação <strong>de</strong> distorção ida<strong>de</strong>-série e ainda a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> assumir as tarefas<br />
domésticas <strong>de</strong> casa ou o cuidado com os irmãos mais novos enquanto as mães<br />
trabalhavam. Quanto à inserção em turma <strong>de</strong> EJA, essa constituía a única possibilida<strong>de</strong><br />
oferecida no período noturno, uma vez que as escolas investigadas nos dois bairros não<br />
disponibilizavam matrículas <strong>para</strong> turmas do Ensino Fundamental regular no referido turno.<br />
Os sujeitos interlocutores <strong>de</strong>ste estudo, são <strong>jovens</strong> estudantes <strong>de</strong> escola pública,<br />
moradores <strong>de</strong> bairros periféricos da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fortaleza e provenientes <strong>de</strong> famílias com<br />
acesso a baixos volumes <strong>de</strong> capital econômico. Essa condição <strong>de</strong> inserção em famílias <strong>de</strong><br />
limitado po<strong>de</strong>r aquisitivo po<strong>de</strong> favorecer o ingresso <strong>de</strong> muitos <strong>de</strong>sses <strong>jovens</strong> em práticas <strong>de</strong><br />
trabalho que ferem as <strong>de</strong>terminações da Lei nº 8.069/1990 que instituiu o Estatuto da<br />
Criança e do Adolescente - ECA e que afirma em seu Art. 60 a proibição <strong>de</strong> qualquer tipo <strong>de</strong><br />
trabalho a menores <strong>de</strong> <strong>de</strong>zesseis anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, salvo na condição <strong>de</strong> aprendiz a partir dos<br />
quatorze anos. Entre os <strong>jovens</strong> trabalhadores entrevistados das turmas <strong>de</strong> EJA, a maioria<br />
das situações i<strong>de</strong>ntificadas infringiam essas <strong>de</strong>terminações legais estabelecidas pelo ECA.<br />
Para muitos <strong>de</strong>sses <strong>jovens</strong>, trabalhar, mesmo em condições em que a Lei não<br />
autoriza, po<strong>de</strong> constituir a única forma <strong>de</strong> acesso a uma renda mínima <strong>para</strong> contribuir com o