14.10.2014 Views

“disposições para crer, disposições para agir”: jovens de ... - Uece

“disposições para crer, disposições para agir”: jovens de ... - Uece

“disposições para crer, disposições para agir”: jovens de ... - Uece

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

108<br />

A oferta da modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> EJA como alternativa <strong>para</strong> a particularida<strong>de</strong> das<br />

situações <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados <strong>jovens</strong> que não alcançam o Ensino Médio na ida<strong>de</strong><br />

recomendada, ou que “<strong>de</strong>sejam” trabalhar, po<strong>de</strong> falsear a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma condição em<br />

que o direito universal à educação como igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso e igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> condições <strong>de</strong><br />

permanência na escola não é ainda garantido a todos. Sob a perspectiva formal da<br />

legislação vigente, garante-se<br />

a alguns o monopólio <strong>de</strong> certos possíveis que, no entanto, encontram-se<br />

oficialmente garantidos a todos (como o direito à educação). Os direitos<br />

exclusivos consagrados pelo direito constituem apenas a forma visível, e<br />

explicitamente garantida, <strong>de</strong>sse conjunto <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s apropriadas e <strong>de</strong><br />

possíveis antecipados, logo convertidos, <strong>para</strong> os <strong>de</strong>mais, em proibições <strong>de</strong><br />

direito ou em impossibilida<strong>de</strong>s efetivas [...] (BOURDIEU, 2001, p.276).<br />

Proibições e impossibilida<strong>de</strong>s interpõem-se nas trajetórias pessoais <strong>de</strong> muitos<br />

<strong>jovens</strong> que passam a percorrer caminhos diferentes daqueles percorridos por outros <strong>jovens</strong><br />

da mesma ida<strong>de</strong> aos quais está socialmente garantido o monopólio <strong>de</strong> “certos possíveis”:<br />

como alcançar sucesso em seus processos <strong>de</strong> aprendizagem no ambiente escolar ou po<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong>dicar-se integralmente à escola sem precisar inserir-se no mercado <strong>de</strong> trabalho antes <strong>de</strong><br />

complementar uma formação escolar básica, como o Ensino Médio.<br />

As políticas públicas <strong>de</strong> educação, fundadas em princípios universais, ten<strong>de</strong>m a<br />

<strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar as especificida<strong>de</strong>s dos sujeitos <strong>para</strong> quem se direcionam. Em certa medida,<br />

tais políticas aproximam-se da concepção universalista <strong>de</strong> justiça <strong>de</strong>fendida por Rawls que,<br />

na interpretação <strong>de</strong> Estevão (2004, p.18), “[...] acredita ser possível encontrar princípios<br />

mínimos <strong>de</strong> justiça a partir <strong>de</strong> um acordo entre pessoas livres e razoáveis colocadas numa<br />

“posição original”, sob um “véu <strong>de</strong> ignorância” ou <strong>de</strong> imparcialida<strong>de</strong> [...]”. Nessa perspectiva<br />

<strong>de</strong> justiça, acredita-se na possibilida<strong>de</strong> do indivíduo usufruir <strong>de</strong> benefícios e vantagens que<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da posição que ocupa <strong>de</strong>ntro da estrutura da socieda<strong>de</strong>, uma vez que a todos<br />

estaria garantida uma justa igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s. Assim, a oferta <strong>de</strong> vagas nas<br />

escolas como resposta a um direito universal constituiria a oportunida<strong>de</strong> criada <strong>para</strong> todos<br />

que estariam, teoricamente, sob mesmas condições <strong>de</strong> usufruir <strong>de</strong>sse direito. Mas, como<br />

esperar que <strong>jovens</strong> <strong>de</strong> diferentes origens econômicas, sociais e culturais possam obter os<br />

mesmos resultados <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um campo, como o campo escolar, em que predominam<br />

valores, culturas e conhecimentos muitas vezes tão diversos e distantes da vida cotidiana<br />

daqueles nascidos sob condições <strong>de</strong> baixos volumes <strong>de</strong> capital econômico, cultural e social?<br />

A EJA, tradicionalmente, aten<strong>de</strong>u a um público que não teve acesso aos estudos<br />

na ida<strong>de</strong> certa, consi<strong>de</strong>rando a pequena oferta <strong>de</strong> vagas no ensino público, em décadas<br />

anteriores, ou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ingresso no mercado <strong>de</strong> trabalho por parte <strong>de</strong> muitos<br />

brasileiros <strong>de</strong>sprovidos <strong>de</strong> capital econômico suficiente <strong>para</strong> se manterem na escola sem

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!