âdisposições para crer, disposições para agirâ: jovens de ... - Uece
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A oferta da modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> EJA como alternativa <strong>para</strong> a particularida<strong>de</strong> das<br />
situações <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados <strong>jovens</strong> que não alcançam o Ensino Médio na ida<strong>de</strong><br />
recomendada, ou que “<strong>de</strong>sejam” trabalhar, po<strong>de</strong> falsear a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma condição em<br />
que o direito universal à educação como igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso e igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> condições <strong>de</strong><br />
permanência na escola não é ainda garantido a todos. Sob a perspectiva formal da<br />
legislação vigente, garante-se<br />
a alguns o monopólio <strong>de</strong> certos possíveis que, no entanto, encontram-se<br />
oficialmente garantidos a todos (como o direito à educação). Os direitos<br />
exclusivos consagrados pelo direito constituem apenas a forma visível, e<br />
explicitamente garantida, <strong>de</strong>sse conjunto <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s apropriadas e <strong>de</strong><br />
possíveis antecipados, logo convertidos, <strong>para</strong> os <strong>de</strong>mais, em proibições <strong>de</strong><br />
direito ou em impossibilida<strong>de</strong>s efetivas [...] (BOURDIEU, 2001, p.276).<br />
Proibições e impossibilida<strong>de</strong>s interpõem-se nas trajetórias pessoais <strong>de</strong> muitos<br />
<strong>jovens</strong> que passam a percorrer caminhos diferentes daqueles percorridos por outros <strong>jovens</strong><br />
da mesma ida<strong>de</strong> aos quais está socialmente garantido o monopólio <strong>de</strong> “certos possíveis”:<br />
como alcançar sucesso em seus processos <strong>de</strong> aprendizagem no ambiente escolar ou po<strong>de</strong>r<br />
<strong>de</strong>dicar-se integralmente à escola sem precisar inserir-se no mercado <strong>de</strong> trabalho antes <strong>de</strong><br />
complementar uma formação escolar básica, como o Ensino Médio.<br />
As políticas públicas <strong>de</strong> educação, fundadas em princípios universais, ten<strong>de</strong>m a<br />
<strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar as especificida<strong>de</strong>s dos sujeitos <strong>para</strong> quem se direcionam. Em certa medida,<br />
tais políticas aproximam-se da concepção universalista <strong>de</strong> justiça <strong>de</strong>fendida por Rawls que,<br />
na interpretação <strong>de</strong> Estevão (2004, p.18), “[...] acredita ser possível encontrar princípios<br />
mínimos <strong>de</strong> justiça a partir <strong>de</strong> um acordo entre pessoas livres e razoáveis colocadas numa<br />
“posição original”, sob um “véu <strong>de</strong> ignorância” ou <strong>de</strong> imparcialida<strong>de</strong> [...]”. Nessa perspectiva<br />
<strong>de</strong> justiça, acredita-se na possibilida<strong>de</strong> do indivíduo usufruir <strong>de</strong> benefícios e vantagens que<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da posição que ocupa <strong>de</strong>ntro da estrutura da socieda<strong>de</strong>, uma vez que a todos<br />
estaria garantida uma justa igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s. Assim, a oferta <strong>de</strong> vagas nas<br />
escolas como resposta a um direito universal constituiria a oportunida<strong>de</strong> criada <strong>para</strong> todos<br />
que estariam, teoricamente, sob mesmas condições <strong>de</strong> usufruir <strong>de</strong>sse direito. Mas, como<br />
esperar que <strong>jovens</strong> <strong>de</strong> diferentes origens econômicas, sociais e culturais possam obter os<br />
mesmos resultados <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um campo, como o campo escolar, em que predominam<br />
valores, culturas e conhecimentos muitas vezes tão diversos e distantes da vida cotidiana<br />
daqueles nascidos sob condições <strong>de</strong> baixos volumes <strong>de</strong> capital econômico, cultural e social?<br />
A EJA, tradicionalmente, aten<strong>de</strong>u a um público que não teve acesso aos estudos<br />
na ida<strong>de</strong> certa, consi<strong>de</strong>rando a pequena oferta <strong>de</strong> vagas no ensino público, em décadas<br />
anteriores, ou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ingresso no mercado <strong>de</strong> trabalho por parte <strong>de</strong> muitos<br />
brasileiros <strong>de</strong>sprovidos <strong>de</strong> capital econômico suficiente <strong>para</strong> se manterem na escola sem