âdisposições para crer, disposições para agirâ: jovens de ... - Uece
âdisposições para crer, disposições para agirâ: jovens de ... - Uece
âdisposições para crer, disposições para agirâ: jovens de ... - Uece
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
6<br />
RESUMO<br />
A preocupação central <strong>de</strong>ste estudo está direcionada aos <strong>jovens</strong> entre 15 e 17 anos, estudantes <strong>de</strong><br />
escolas públicas, que ainda não ingressaram no Ensino Médio, etapa da Educação Básica<br />
oficialmente recomendada <strong>para</strong> essa faixa-etária. Discutimos, a partir das narrativas dos<br />
entrevistados, suas condições <strong>de</strong> acesso ao capital cultural representado pela cultura escolar e ao<br />
capital econômico e social, capitais que também funcionam como capital simbólico capaz <strong>de</strong> interferir<br />
nas posições <strong>de</strong>sses <strong>jovens</strong> <strong>de</strong>ntro do campo escolar, na formação <strong>de</strong> suas disposições em relação à<br />
educação e ao trabalho, em suas pretensões <strong>de</strong> cursar o Ensino Médio, <strong>de</strong> profissionalização e <strong>de</strong><br />
inserção no Ensino Superior. Procuramos pensar em que medida esses atores sociais se aproximam<br />
ou se distanciam da outra parcela <strong>de</strong> <strong>jovens</strong> da escola pública que consegue chegar ao Ensino Médio<br />
na ida<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rada a<strong>de</strong>quada. Desse modo, esta discussão também se esten<strong>de</strong> a esses <strong>jovens</strong><br />
entre 15 e 17 anos que já se encontram no Ensino Médio. A partir <strong>de</strong> Bourdieu, refletimos sobre os<br />
direitos consagrados aos <strong>jovens</strong> pelo Direito, no campo da educação, e sobre a (<strong>de</strong>s) igualda<strong>de</strong> na<br />
distribuição <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s entre esses estudantes. O pensamento <strong>de</strong> Lahire nos ajuda a enten<strong>de</strong>r<br />
as relações entre os contextos <strong>de</strong> vivência dos entrevistados e suas disposições diante do mundo,<br />
que são diversas, já que somos indivíduos plurais. A fase <strong>de</strong> campo <strong>de</strong>sta pesquisa foi realizada em<br />
03 (três) escolas públicas <strong>de</strong> Fortaleza. A primeira fase foi <strong>de</strong>senvolvida na escola on<strong>de</strong> atuávamos<br />
como docente. As outras duas escolas foram selecionadas por meio do critério <strong>de</strong> maior e menor taxa<br />
<strong>de</strong> distorção ida<strong>de</strong>-série nos anos finais do Ensino Fundamental (6º ao 9º Anos). A participação total<br />
<strong>de</strong> estudantes foi <strong>de</strong> 98 (noventa e oito) <strong>jovens</strong> entre 15 e 17 anos, sendo 53 (cinquenta e três) da<br />
Educação <strong>de</strong> Jovens e Adultos – EJA, 6 (seis) estudantes matriculados nas turmas <strong>de</strong> 8º e 9º Anos e<br />
39 <strong>jovens</strong> do Ensino Médio. A pesquisa, <strong>de</strong> natureza qualitativa, foi realizada através <strong>de</strong> observações<br />
in loco, aplicação <strong>de</strong> questionários, entrevistas individuais semiestruturadas e grupos focais. Os<br />
resultados apontaram os estudantes da EJA como os mais afetados pela estrutura <strong>de</strong>sigual <strong>de</strong><br />
distribuição <strong>de</strong> capital econômico, cultural e social entre todos os entrevistados. Com trajetória<br />
escolar marcada por dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem acumuladas e não solucionadas; reprovação;<br />
perda do direito ao ensino diurno e não acesso ao Ensino Médio na ida<strong>de</strong> oficialmente recomendada,<br />
a maioria <strong>de</strong>sses estudantes, mesmo apresentando disposições <strong>para</strong> <strong>crer</strong> na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
inserção futura em profissões socialmente consi<strong>de</strong>radas <strong>de</strong> prestígio, <strong>de</strong>monstraram poucas chances<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver disposições <strong>para</strong> agir na perspectiva <strong>de</strong> formação <strong>para</strong> essas profissões,<br />
consi<strong>de</strong>rando as condições objetivas e subjetivas que vivenciam. Ao contrário, os <strong>jovens</strong> <strong>de</strong> 8º e 9º<br />
em situação <strong>de</strong> distorção ida<strong>de</strong>-série e os estudantes do Ensino Médio <strong>de</strong>monstraram conviver em<br />
uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> relações em que há maior circulação e valorização do capital cultural escolar por parte<br />
<strong>de</strong> familiares e amigos, favorecendo a construção <strong>de</strong> disposições <strong>para</strong> <strong>crer</strong> e também disposições<br />
<strong>para</strong> agir no sentido <strong>de</strong> realização <strong>de</strong> seus projetos <strong>de</strong> futuro.<br />
Palavras-chave: Jovens; Escola Pública; Desigualda<strong>de</strong>s, Disposições em relação ao futuro