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“disposições para crer, disposições para agir”: jovens de ... - Uece

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comunida<strong>de</strong>, transformam-se em assunto nas rodas <strong>de</strong> conversas dos estudantes:<br />

comentários sobre uma jovem grávida, irmã <strong>de</strong> algum dos colegas ou a vizinha que é ou foi<br />

estudante da escola; uma briga entre pais e filhos e a saída <strong>de</strong> casa do filho <strong>para</strong> morar com<br />

um amigo; a orientação sexual do irmão do colega; o envolvimento <strong>de</strong> algum conhecido em<br />

práticas <strong>de</strong>lituosas; o assassinato ou a prisão <strong>de</strong> algum morador da comunida<strong>de</strong>.<br />

Dessa forma, tínhamos acesso à informação sobre diversas situações do<br />

cotidiano <strong>de</strong>sses sujeitos como o envolvimento <strong>de</strong> familiares com o alcoolismo; o tipo <strong>de</strong><br />

trabalho <strong>de</strong>senvolvido pelos pais ou pelos próprios <strong>jovens</strong>, muitas vezes classificados por<br />

seus pares como <strong>de</strong> menor valor, como foi observado o caso <strong>de</strong> um dos <strong>jovens</strong> que ajudava<br />

a mãe a ven<strong>de</strong>r verduras na CEASA 28 , tornando-se motivo <strong>de</strong> brinca<strong>de</strong>ira entre os colegas,<br />

estes afirmavam que ele falava alto na sala <strong>de</strong> aula porque estava acostumado a gritar na<br />

CEASA, oferecendo os produtos vendidos pela mãe. Po<strong>de</strong>ríamos inferir que, <strong>para</strong> esses<br />

<strong>jovens</strong>, tal ocupação carregaria um capital simbólico negativo, uma vez que não constituiria<br />

tipo <strong>de</strong> trabalho consi<strong>de</strong>rado <strong>de</strong> prestígio <strong>de</strong>ntro do nosso atual mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> organização<br />

social.<br />

Outra situação observada referiu-se ao caso <strong>de</strong> um dos estudantes da turma <strong>de</strong><br />

EJA V cujo irmão adolescente, menor <strong>de</strong> 15 anos, que também era estudante da mesma<br />

escola no período diurno, trabalhava como manicure em um “Salão <strong>de</strong> Beleza” do bairro e<br />

em domicílio. Nesse caso, a reação dos colegas não estava associada à <strong>de</strong>squalificação do<br />

tipo <strong>de</strong> trabalho realizado por esse adolescente, mas eram feitas insinuações quanto à sua<br />

orientação sexual. As brinca<strong>de</strong>iras realizadas pelos colegas expressavam preconceito pelo<br />

fato do adolescente <strong>de</strong>senvolver ativida<strong>de</strong> tradicionalmente realizada por mulheres. O jovem<br />

<strong>de</strong>fendia-se das brinca<strong>de</strong>iras dos colegas afirmando que o irmão adolescente chegava a<br />

levar <strong>para</strong> a mãe, ao final do dia, cerca <strong>de</strong> R$ 30,00 (Trinta Reais) obtidos através <strong>de</strong>sse<br />

trabalho.<br />

Assim, muitas particularida<strong>de</strong>s do cotidiano <strong>de</strong>sses sujeitos manifestavam-se <strong>de</strong><br />

forma explícita ou velada nas conversas <strong>para</strong>lelas na hora da aula, nas brinca<strong>de</strong>iras, nos<br />

momentos <strong>de</strong> intervalo entre as aulas ou mesmo diretamente nos diálogos que estabeleciam<br />

com os profissionais da escola, on<strong>de</strong> costumavam falar sobre o que haviam feito no final <strong>de</strong><br />

semana e sobre as ocorrências do bairro que consi<strong>de</strong>ravam importante compartilhar na<br />

escola.<br />

28 “A CENTRAIS DE ABASTECIMENTO DO CEARÁ S/A-CEASA/CE, Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Economia Mista, vinculada à<br />

Secretaria <strong>de</strong> Desenvolvimento Rural do Estado do Ceará, cuja instituição foi autorizada pela Lei nº 9.448, <strong>de</strong> 12<br />

<strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1971, com autonomia administrativa, financeira e personalida<strong>de</strong> jurídica <strong>de</strong> direito privado. A<br />

CEASA/CE tem se<strong>de</strong> e domicílio no município <strong>de</strong> Maracanaú-CE, na Rodovia Dr. Men<strong>de</strong>l Steinbruch, s/nº,<br />

Pajuçara e foro jurídico na Comarca <strong>de</strong> Maracanaú-CE”. Fonte: www.ceasa.ce.com.br – Consulta realizada em<br />

06/12/2012.

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