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“disposições para crer, disposições para agir”: jovens de ... - Uece

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medida, representaria o mesmo que “não fazer nada”, ou o fracasso do investimento<br />

escolar, uma vez que era <strong>para</strong> esse supermercado local que muitos <strong>jovens</strong> da escola já<br />

eram encaminhados mesmo ainda cursando o Ensino Médio. O posicionamento da jovem<br />

expressa o pensamento <strong>de</strong> que trabalhar no Center Box após a conclusão <strong>de</strong> certa trajetória<br />

no campo escolar constituiria uma situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sprestígio.<br />

O círculo das esperanças nos títulos proporcionados pela educação fragiliza-se<br />

quando não são percebidas oportunida<strong>de</strong>s concretas <strong>para</strong> a vida profissional futura. Alguns<br />

<strong>de</strong>sses títulos, como a certificação da Educação Básica e mesmo <strong>de</strong> Ensino Superior, como<br />

foi mencionado por uma das entrevistadas, não seriam mais percebidos como garantia <strong>de</strong><br />

ocupação dos cargos <strong>de</strong>sejados e <strong>para</strong> a entrada em novas posições sociais. De acordo<br />

com Bourdieu (2001, p.286),<br />

De um lado, a generalização do acesso à educação – com o consequente<br />

<strong>de</strong>scompasso estrutural, logo as posições esperadas, e os cargos obtidos – e da<br />

insegurança profissional ten<strong>de</strong> a multiplicar situações <strong>de</strong> <strong>de</strong>sajuste, geradoras <strong>de</strong><br />

tensões e frustrações. Encontram-se praticamente extintos os universos nos quais<br />

a coincidência quase perfeita, entre tendências objetivas e expectativas, converte<br />

a experiência do mundo num enca<strong>de</strong>amento contínuo <strong>de</strong> antecipações<br />

confirmadas.<br />

O autor nos remete ao entendimento <strong>de</strong> que, em certos contextos, não há<br />

certezas <strong>de</strong> realização <strong>de</strong> um encontro perfeito entre os títulos obtidos através do acesso à<br />

educação e a inserção nos cargos ou novas posições almejadas. Portanto, não haveria mais<br />

antecipações confirmadas mesmo <strong>para</strong> aqueles que parecem seguir um percurso escolar<br />

que po<strong>de</strong>ria conduzir ao sucesso profissional, como os nossos interlocutores do Ensino<br />

Médio.<br />

Esses entrevistados também expressaram dúvidas sobre o que <strong>de</strong>sejam em<br />

relação ao futuro, em relação às suas escolhas profissionais. Mas, apenas uma das<br />

pesquisadas foi incisiva na afirmação <strong>de</strong> que ingressar em uma Faculda<strong>de</strong> não constituiria<br />

seu objetivo principal naquele momento:<br />

Eu não sei. Eu queria mais era fazer cursos. Eu quero fazer muito curso...<br />

Faculda<strong>de</strong>, eu não sei, faculda<strong>de</strong> eu não penso ainda não... Eu acho que é assim,<br />

fazer a faculda<strong>de</strong> ... Você passa quatro anos só numa coisa, e eu não sei como é<br />

que eu quero ainda, o que eu quero exatamente, eu não sei ainda. Aí, por<br />

enquanto, eu vou fazendo um curso <strong>de</strong> informática ou qualquer área, assim, pra<br />

ver se consegue alguma coisa boa até que eu saiba o que eu queira pro futuro.<br />

(Garota <strong>de</strong> 16 anos, 2º Ano Tar<strong>de</strong>, Grupo Focal).<br />

A estudante foi enfática na afirmação <strong>de</strong> que pretendia fazer outros cursos não<br />

universitários, cursos que pu<strong>de</strong>ssem lhe proporcionar “alguma coisa boa” até que ela tivesse<br />

condições <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir sobre seus <strong>de</strong>sejos em relação ao futuro. A fala da estudante<br />

<strong>de</strong>monstra o sentimento <strong>de</strong> não estar pronta <strong>para</strong> <strong>de</strong>cidir sobre o futuro e a compreensão <strong>de</strong>

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