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“disposições para crer, disposições para agir”: jovens de ... - Uece

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como expressão das múltiplas facetas das outras experiências sociais vivenciadas por<br />

essas <strong>jovens</strong>.<br />

As duas entrevistadas estudam no período diurno e não são trabalhadoras. No<br />

entanto, a estudante que mencionou o fato do pai falar bastante em relação à escola, era<br />

estudante da Re<strong>de</strong> Particular <strong>de</strong> Ensino e foi <strong>para</strong> Re<strong>de</strong> Pública por questões relacionadas à<br />

dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> pagar transporte <strong>para</strong> escolas particulares localizadas fora do bairro <strong>de</strong><br />

residência. A entrevistada fez referência às mudanças em sua percepção quanto ao futuro<br />

após seu ingresso na Re<strong>de</strong> Pública <strong>de</strong> Ensino. Como foi mencionado anteriormente, essa<br />

jovem afirmou:<br />

Porque no colégio particular, eu não pensava muito essas coisas... <strong>de</strong> futuro,<br />

assim. No colégio público, você começa a imaginar. ... As coisas apertam, assim.<br />

Você querer po<strong>de</strong>r saber o que você quer logo ... Tem que começar a pensar<br />

aquilo, se <strong>de</strong>stacar mais naquilo que você quer. (Garota <strong>de</strong> 16 anos, 9º Ano,<br />

Tar<strong>de</strong>).<br />

A afirmação da jovem po<strong>de</strong> indicar como as mudanças nos contextos <strong>de</strong> vida<br />

impõem novas exigências aos indivíduos, incidindo sobre suas percepções acerca da vida<br />

cotidiana e do próprio futuro a ser pensado e buscado. A transferência <strong>para</strong> a escola<br />

pública, como consequência das novas condições econômicas da família, significou também<br />

mudanças na forma <strong>de</strong> olhar <strong>para</strong> um futuro que precisa começar a ser construído agora.<br />

Durante o tempo <strong>de</strong> permanência na re<strong>de</strong> privada <strong>de</strong> ensino, essa preocupação parece ter<br />

ficado distante, talvez pelo fato <strong>de</strong> acreditar que os pais po<strong>de</strong>riam prolongar um tempo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>dicação aos estudos e <strong>de</strong> fazer escolhas sem a pressa imposta pelas urgências muitas<br />

vezes imprevistas da vida cotidiana.<br />

As afirmações da jovem expressam uma representação construída sobre a<br />

escola pública como lugar em que os estudantes não têm tempo a per<strong>de</strong>r. É preciso <strong>de</strong>cidir<br />

logo o que se preten<strong>de</strong> <strong>para</strong> o futuro, é preciso compensar o investimento <strong>de</strong> tempo<br />

<strong>de</strong>spendido com a formação escolar, particularmente no caso daqueles que são “poupados”<br />

pelas famílias <strong>de</strong> ingressarem no mundo do trabalho antes da conclusão da Educação<br />

Básica.<br />

Po<strong>de</strong>mos perceber que as duas entrevistadas convivem em ambientes familiares<br />

em que à cultura escolar não é atribuído o mesmo prestígio. Mas, essa situação não<br />

impediu que uma das <strong>jovens</strong> <strong>de</strong>senvolvesse o interesse pela escola, apesar da indiferença<br />

dos familiares. A pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cenas vividas por essa jovem em seu cotidiano, em vários<br />

contextos exteriores ao universo familiar, como a escola e outros espaços <strong>de</strong> socialização,<br />

po<strong>de</strong>m ter contribuído <strong>para</strong> a construção <strong>de</strong> sua percepção em relação à escola, bem como<br />

sua percepção sobre o próprio pai. Em uma <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>clarações, a jovem afirmou:

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