âdisposições para crer, disposições para agirâ: jovens de ... - Uece
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sentimento <strong>de</strong> ausência <strong>de</strong> ações que atendam às <strong>de</strong>mandas juvenis <strong>de</strong>ntro daquela área<br />
da Cida<strong>de</strong>. Referindo-se à (in) existência <strong>de</strong> projetos ou cursos <strong>de</strong>ntro da comunida<strong>de</strong> <strong>para</strong><br />
o atendimento juvenil, um <strong>de</strong>les disparou: “Aqui no bairro? On<strong>de</strong> é que tem?... Ao mesmo<br />
tempo em que <strong>de</strong>nunciam a ausência <strong>de</strong> ações governamentais <strong>para</strong> esse público, essas<br />
falas também indicam as consequências <strong>de</strong>ssa ausência: “Tem (curso) pra ser ladrão,<br />
traficante... é o que não falta.... Uma semana a gente já tá formado”.<br />
As narrativas dos <strong>jovens</strong> pesquisados do Bonsucesso apresentadas até aqui nos<br />
mostram que alguns <strong>de</strong>sses sujeitos encontram-se numa fronteira muito próxima das<br />
práticas do roubo e do tráfico <strong>de</strong> drogas, práticas que já fazem parte do mundo vivido por<br />
familiares e vizinhos. Em uma das entrevistas, uma jovem <strong>de</strong> <strong>de</strong>zesseis anos, estudante da<br />
turma <strong>de</strong> EJA IV, relatou que a maioria <strong>de</strong> seus amigos não estuda. Um dos seus primos foi<br />
baleado por conta <strong>de</strong> disputa pelo domínio <strong>de</strong> território do tráfico <strong>de</strong> drogas na área on<strong>de</strong><br />
resi<strong>de</strong>m. De acordo com a jovem, seu primo sabe quem foi o responsável pela bala que o<br />
atingiu, mas não informa <strong>para</strong> a Polícia porque as consequências seriam piores. O primo<br />
continuaria sendo perseguido. A jovem afirmou ter medo <strong>de</strong> andar com o primo. Ele costuma<br />
visitar sua casa e ainda não teria sido baleado lá, porque a pessoa que o está perseguindo<br />
diz não querer atingir as crianças da casa. Segundo a estudante, o conflito entre os dois<br />
seria motivado pelo fato do material fornecido pelo primo ser <strong>de</strong> melhor qualida<strong>de</strong> que o do<br />
outro comerciante. A garota ainda relatou que um jovem do bairro queria namorá-la, mas foi<br />
apreendido após realização <strong>de</strong> um furto. Ela teria dito ao jovem que só ficaria com ele se o<br />
mesmo não se envolvesse mais com roubos.<br />
Em outro <strong>de</strong>poimento, uma jovem afirmou: “Minha amiga me chamou pra furtar<br />
lá no Center Box... Já fui chamada pra saidinha bancária”. (Garota <strong>de</strong> 17 anos, EJA V).<br />
Segunda a entrevistada, ela não teria aceitado nenhuma <strong>de</strong>ssas propostas.<br />
Perguntamos aos <strong>jovens</strong> se gostavam <strong>de</strong> residir naquele bairro e se era um lugar<br />
tranquilo <strong>para</strong> se viver. Os entrevistados respon<strong>de</strong>ram:<br />
Morre tanta gente aqui... on<strong>de</strong> eu moro tem bala... On<strong>de</strong> eu moro é mais perigoso<br />
lá... tem bocada. Pra banda lá <strong>de</strong> baixo... Depois da ponte. É morte, é assalto...<br />
(Garota <strong>de</strong> 16 anos, EJA V).<br />
Ave Maria, lá tem muita bala... O povo diz que é muito vagabundo, né? Agora, eu<br />
nem saio mais <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> casa.... Mas, agora até que tá mais calmo.... Mataram<br />
um amigo meu... foi... num sei... Ele não <strong>de</strong>via ninguém. Ele tinha acabado <strong>de</strong><br />
chegar do trabalho... Já fez um mês já... Ele ele tinha uns vinte e dois<br />
anos...acho.(Garota <strong>de</strong> 16 anos, EJA IV).<br />
Gosto... Não pretendo mudar <strong>de</strong>le tão cedo... Moro há 14 anos... Aí, nós mora aí<br />
<strong>de</strong> aluguel... Acho (tranquilo) ... do que eu vejo na televisão, eu acho... Morte...<br />
presenciei... Um primo meu... foi tiro... foi oito tiro... (Garota <strong>de</strong> 16 anos, EJA IV).