âdisposições para crer, disposições para agirâ: jovens de ... - Uece
âdisposições para crer, disposições para agirâ: jovens de ... - Uece
âdisposições para crer, disposições para agirâ: jovens de ... - Uece
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
71<br />
vi que a aprendizagem era melhor”; “Porque tem ensino <strong>de</strong> mais qualida<strong>de</strong>, mais na linha”;<br />
“Ouvi falar bem da escola”; “É uma das melhores”; “Minha avó achava boa”.<br />
Alguns dos <strong>jovens</strong> entrevistados po<strong>de</strong>m ter construído suas análises acerca da<br />
escola a partir <strong>de</strong> com<strong>para</strong>ções com a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino na qual alguns haviam estudado<br />
anteriormente e que classificaram como uma escola <strong>de</strong>sorganizada, como afirmou um dos<br />
estudantes: “A outra escola era bagunçada”. Segundo informações coletadas acerca da<br />
escola <strong>de</strong>squalificada pelos estudantes, refere-se a uma unida<strong>de</strong> escolar da Re<strong>de</strong> Pública<br />
Estadual e apresenta problemas <strong>de</strong> infraestrutura cuja solução é dificultada por tratar-se <strong>de</strong><br />
um prédio alugado pelo governo do Estado, situação que po<strong>de</strong> inviabilizar a realização <strong>de</strong><br />
reformas estruturais da unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino com recursos públicos.<br />
4.2 Jovens <strong>de</strong> 8º e 9º Anos: Distanciamentos e aproximações com os estudantes <strong>de</strong><br />
EJA<br />
As turmas <strong>de</strong> 8º e 9º Anos do Parque São José, por serem turmas diurnas,<br />
apresentavam apenas onze <strong>jovens</strong> em situação <strong>de</strong> distorção ida<strong>de</strong>-série. Entre os seis<br />
entrevistados, três <strong>de</strong>les procuraram, em suas narrativas, discorrer sobre os motivos <strong>para</strong><br />
não terem concluído o Ensino Fundamental na ida<strong>de</strong> recomendada.<br />
Porque eu sempre, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> pequena, fui acostumada a estudar à tar<strong>de</strong>... Acordava<br />
meio dia, que minha mãe não trabalhava. Acordava meio dia, tomava banho e ia<br />
pro colégio. Aí, eu comecei a estudar lá no São José. Aí, fiz o 6º ano, aí passei pro<br />
7º ano. Ai, no 7º eu fui reprovada por causa <strong>de</strong> falta, porque minha mãe começou<br />
a trabalhar e eu tinha que acordar cedo, fazer o almoço da minha irmã, ter que<br />
<strong>de</strong>ixar ela na escola. Aí eu voltava. Só que eu peguei... Fiquei faltando, me<br />
atrasava... Acabei ficando reprovada por falta. O que me prejudicou nos meus<br />
estudos foi ter que tomar conta da casa antes do tempo... né? Eu comecei a<br />
cozinhar e a arrumar a casa, cuidar da minha irmã, 13 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>... Agora eu<br />
tô mais livre, porque na casa da minha avó é ela que faz as coisas, mas eu ainda<br />
arrumo a casa. De manhã eu não tenho muito tempo. Eu estudo quando eu chego<br />
do colégio... (Garota <strong>de</strong> 14 anos, 8º Ano, Tar<strong>de</strong>).<br />
A jovem justificou a reprovação em séries anteriores porque “faltava muito” e<br />
ressaltando que as faltas à escola <strong>de</strong>corriam do fato <strong>de</strong> precisar tomar conta da casa e dos<br />
irmãos porque a mãe trabalhava como empregada doméstica. O relato apresentado po<strong>de</strong>ria<br />
estar en<strong>de</strong>reçado à própria mãe<br />
Os relatos da jovem fizeram-me lembrar uma afirmação <strong>de</strong> Spink (2010) on<strong>de</strong> a<br />
autora ressalta que, em uma entrevista, a fala po<strong>de</strong> estar sendo en<strong>de</strong>reçada a outras<br />
pessoas. De acordo com Spink (2010),<br />
Os processos <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> sentidos implicam existência <strong>de</strong> interlocutores<br />
variados cujas vozes se fazem presentes. As práticas discursivas estão<br />
sempre atravessadas por vozes; são en<strong>de</strong>reçadas e, portanto, supõem<br />
interlocutores. Obviamente isso gera dificulda<strong>de</strong>s consi<strong>de</strong>ráveis quando