14.10.2014 Views

“disposições para crer, disposições para agir”: jovens de ... - Uece

“disposições para crer, disposições para agir”: jovens de ... - Uece

“disposições para crer, disposições para agir”: jovens de ... - Uece

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

33<br />

“utilizado” por aquele que escuta e que faz parte <strong>de</strong> sua constelação social ou universo<br />

cotidiano, ou seja, imaginando que as palavras po<strong>de</strong>riam modificar <strong>de</strong> alguma maneira esse<br />

universo?” (LAHIRE, 2004, p.33).<br />

Para tentar evitar constrangimentos que levassem os interlocutores a <strong>de</strong>sistirem<br />

<strong>de</strong> participar da pesquisa, uma vez que mantinham com a professora certa proximida<strong>de</strong> e<br />

familiarida<strong>de</strong> construídas na convivência <strong>de</strong>ntro do campo escolar, o que po<strong>de</strong>ria levá-los a<br />

rejeitar a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> compartilhar informações <strong>de</strong> sua vida privada que preferissem ocultar, foi<br />

elaborado um questionário que eles respon<strong>de</strong>ram sem necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intervenção externa<br />

(as intervenções somente ocorreram nas situações em que foram solicitadas pelos <strong>jovens</strong>).<br />

Naquele momento procuramos privilegiar os aspectos concernentes às relações dos <strong>jovens</strong><br />

com a escola e o trabalho, evitando questões que envolvessem particularida<strong>de</strong>s familiares.<br />

Apenas as informações relacionadas à escolarida<strong>de</strong> dos pais foram mantidas no<br />

questionário.<br />

Muitas informações sobre as condições <strong>de</strong> existência <strong>de</strong>sses sujeitos foram<br />

obtidas também através das vivências como professora naquele espaço escolar, nos<br />

momentos das aulas, nos corredores, através da observação <strong>de</strong> suas falas nas discussões<br />

sobre <strong>de</strong>terminados temas <strong>de</strong> estudo relacionados à formação escolar e ao trabalho;<br />

quando da apresentação <strong>de</strong> justificativas <strong>para</strong> as faltas às aulas ou <strong>para</strong> os atrasos, bem<br />

como nas brinca<strong>de</strong>iras, ao atribuírem aos colegas apelidos associados ao tipo <strong>de</strong> trabalho<br />

realizado durante o dia: o “cheiro ver<strong>de</strong>”, como ficou conhecido um dos <strong>jovens</strong> que era<br />

ven<strong>de</strong>dor ambulante <strong>de</strong> cheiro ver<strong>de</strong> nas ruas da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> residência da maioria dos<br />

<strong>jovens</strong> matriculados nessa unida<strong>de</strong> escolar.<br />

As conversas estabelecidas no espaço escolar entre os <strong>jovens</strong>, muitas vezes<br />

não apresentavam reservas quanto à entrada nas particularida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> suas vivências<br />

familiares, consi<strong>de</strong>rando que, por tratar-se <strong>de</strong> uma escola <strong>de</strong> bairro, reunindo vizinhos e<br />

amigos <strong>de</strong> infância que compartilhavam problemas familiares comuns, conflitos<br />

intrafamiliares que podiam chegar a se tornar públicos na rua <strong>de</strong> moradia, durante os finais<br />

<strong>de</strong> semana, terminavam sendo comentados entre eles na escola. Para Certeau (2011),<br />

A prática do bairro é uma convenção coletiva tácita, não escrita, mas legível<br />

por todos os usuários através dos códigos da linguagem e do<br />

comportamento. Toda submissão a esses códigos, bem como toda<br />

transgressão, constitui imediatamente objeto <strong>de</strong> comentários: existe uma<br />

norma, e ela é mesmo bastante pesada <strong>para</strong> realizar o jogo da exclusão<br />

social em face dos “excêntricos”, as pessoas que “não são/fazem como<br />

todos nós”. (p. 47).<br />

Algumas ocorrências do cotidiano da rua que parecem transgredir algumas<br />

normas interiorizadas pela comunida<strong>de</strong>, ainda que não sejam efetivamente vividas por essa

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!