âdisposições para crer, disposições para agirâ: jovens de ... - Uece
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Esses dois grupos <strong>de</strong> estudantes partilham uma situação <strong>de</strong> acesso às<br />
condições materiais <strong>de</strong> existência aproximadas, com algumas exceções. Mas, a posição<br />
ocupada no campo escolar po<strong>de</strong> ter permitido aos <strong>jovens</strong> que já se encontram no Ensino<br />
Médio “[...] sair da lógica do senso prático em dominar simbolicamente o mundo, colocando<br />
uma distância entre eles e o mundo, entre eles e suas práticas”. (LAHIRE, 2002, p. 144).<br />
Talvez a submissão à “urgência das práticas” vivenciada por alguns estudantes<br />
<strong>de</strong> EJA, seja pelo trabalho, pelas ativida<strong>de</strong>s domésticas ou outras ocupações com as quais<br />
utilizam o tempo disponível dificultem o acesso aos instrumentos necessários <strong>para</strong> a<br />
dominação simbólica do mundo, instrumentos que po<strong>de</strong>riam levá-los a pensar sobre sua<br />
própria condição no interior do campo escolar. Em um dos grupos focais com os estudantes<br />
<strong>de</strong> EJA perguntamos se eles consi<strong>de</strong>ravam que a EJA era valorizada pela socieda<strong>de</strong> e um<br />
dos <strong>jovens</strong> nos respon<strong>de</strong>u: “Agora, me <strong>de</strong>ixou calado”. (Garoto <strong>de</strong> 17 anos, EJA IV).<br />
O Art.32 da LDB 9.9394/96 afirma que um dos objetivos do Ensino Fundamental<br />
é o <strong>de</strong>senvolvimento, por parte dos estudantes, da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r através do<br />
domínio da leitura e da escrita. Dois entrevistados das turmas <strong>de</strong> EJA enfatizaram os<br />
problemas enfrentados pelo fato <strong>de</strong> não dominarem essas competências básicas, o que<br />
inci<strong>de</strong> diretamente sobre seus processos <strong>de</strong> aprendizagem e suas relações em outros<br />
espaços sociais. Alguns entrevistados <strong>de</strong> EJA, ainda que não tenham feito referência a<br />
esses mesmos problemas, <strong>de</strong>monstraram em seus discursos dificulda<strong>de</strong>s quanto ao<br />
domínio da “língua legítima”. Durante as entrevistas e grupos focais foi possível perceber as<br />
limitações quanto à construção <strong>de</strong>sses discursos quando com<strong>para</strong>dos aos entrevistados da<br />
outra escola.<br />
Segundo Bourdieu (1996), há uma “[...] distribuição <strong>de</strong>sigual das oportunida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> acesso aos instrumentos <strong>de</strong> produção da competência legítima [...]” (p.44). Para o autor,<br />
os dois principais fatores que contribuem <strong>para</strong> a produção <strong>de</strong>ssa competência legítima são a<br />
família e o sistema escolar. Se, no caso dos nossos interlocutores, a família não dispõe<br />
<strong>de</strong>sse patrimônio simbólico a ser compartilhado com seus membros, restaria esperar que o<br />
sistema escolar cumprisse essa missão.<br />
6.2 Ensino Médio: entre a formação geral e a pre<strong>para</strong>ção <strong>para</strong> o mercado <strong>de</strong> trabalho<br />
Como temos <strong>de</strong>stacado neste estudo, o Ensino Médio é a etapa da Educação<br />
Básica na qual, teoricamente, <strong>de</strong>veriam estar todos os <strong>jovens</strong> brasileiros que se encontram<br />
entre 15 e 17 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. No entanto, <strong>de</strong> acordo com dados do Censo Demográfico<br />
2010, 16,7% <strong>de</strong> <strong>jovens</strong> nessa faixa-etária não frequentavam a escola e dos 83,35% que<br />
eram estudantes, somente 47,3% estavam cursando o Ensino Médio. Segundo o IBGE