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“disposições para crer, disposições para agir”: jovens de ... - Uece

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39<br />

resistir a essas novas forças do campo representadas por uma estrutura que lhes parece<br />

estranha, procurando modificar essa estrutura <strong>de</strong> acordo com suas próprias disposições.<br />

A família, a escola, o trabalho, a rua, assim como as instituições culturais,<br />

políticas e religiosas constituem gran<strong>de</strong>s matrizes ou universos <strong>de</strong> socialização e <strong>de</strong><br />

formação <strong>de</strong> disposições. A família, particularmente, como primeira instância <strong>de</strong><br />

socialização, transmite a seus membros valores, costumes, comportamentos, gostos,<br />

aspirações, propensões, inclinações, hábitos, tendências, persistentes maneiras <strong>de</strong> ser<br />

(LAHIRE, 2004) que exercerão influência sobre o patrimônio das disposições dos indivíduos<br />

e sobre suas tomadas <strong>de</strong> posições diante do mundo social ao longo <strong>de</strong> suas trajetórias <strong>de</strong><br />

vida. Dessa forma, as disposições individuais estão intrinsecamente associadas às vivências<br />

familiares, mas isso não impe<strong>de</strong> que tais disposições sejam reconduzidas, a partir das<br />

novas experiências socializadoras realizadas pelos indivíduos em outros espaços <strong>de</strong><br />

convivência diferentes do ambiente familiar.<br />

Os grupos sociais nos quais as famílias encontram-se inseridas po<strong>de</strong>m situar-se<br />

numa posição dominante, quando apresentam volumes elevados <strong>de</strong> capitais como bens<br />

materiais e recursos financeiros; certo nível cultural e escolar, bem como uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

relações sociais que lhes traga vantagens <strong>de</strong>ntro do espaço social. Compartilham um<br />

ethus 29 que se impõe como universal e, portanto, referencial <strong>para</strong> toda a socieda<strong>de</strong>. Por<br />

outro lado, quando têm acesso a baixos volumes <strong>de</strong>sses capitais se encontram em uma<br />

posição dominada 30 , o que po<strong>de</strong> conferir ao ethus do seu grupo um status <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>squalificação frente àquele dominante, tomado como universal.<br />

A proximida<strong>de</strong> no espaço social [...] predispõe à aproximação: as pessoas<br />

inscritas em um setor restrito do espaço serão ao mesmo tempo mais próximas<br />

(por suas proprieda<strong>de</strong>s e disposições, seus gostos) e mais inclinadas a se<br />

aproximar; e também mais fáceis <strong>de</strong> abordar, <strong>de</strong> mobilizar. Isto não significa que<br />

elas constituam uma classe [...], isto é, um grupo mobilizado por objetivos comuns<br />

e particularmente contra uma outra classe. (BOURDIEU, 2011, p.25).<br />

O compartilhamento <strong>de</strong> lugares <strong>de</strong> vivência como o bairro, a rua, a vizinhança, a<br />

escola ou o trabalho expressam posições ocupadas <strong>de</strong>ntro da estrutura <strong>de</strong> relações do<br />

espaço social que estão associadas à forma <strong>de</strong> distribuição dos volumes <strong>de</strong> capitais <strong>de</strong>ntro<br />

da socieda<strong>de</strong>, mas isso não implica que os indivíduos que ocupam essas posições tenham<br />

consciência da condição que os aproxima e que, <strong>de</strong> alguma forma, os tornam um grupo. “O<br />

29 Utiliza-se a categoria Ethus como “sistema <strong>de</strong> valores implícitos e profundamente interiorizados” (BOURDIEU,<br />

1998, p. 41) pelos grupos sociais e que contribui <strong>para</strong> as tomadas <strong>de</strong> posição dos membros <strong>de</strong>sses grupos em<br />

suas relações nos diversos campos sociais.<br />

30 A expressão “dominada” é mencionada no sentido <strong>de</strong> indicar uma posição em <strong>de</strong>terminada relação <strong>de</strong>ntro do<br />

espaço social, não significando, necessariamente, condição <strong>de</strong> submissão, passivida<strong>de</strong> ou docilida<strong>de</strong>.<br />

(CERTEAU, 2012).

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