âdisposições para crer, disposições para agirâ: jovens de ... - Uece
âdisposições para crer, disposições para agirâ: jovens de ... - Uece
âdisposições para crer, disposições para agirâ: jovens de ... - Uece
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
59<br />
elevados volumes <strong>de</strong> capital econômico, cultural e social, seja <strong>para</strong> aqueles com acesso a<br />
baixos volumes <strong>de</strong>sses capitais.<br />
Na verda<strong>de</strong>, cada família transmite a seus filhos, mais por vias indiretas que<br />
diretas, um certo capital cultural e um certo ethos, sistema <strong>de</strong> valores<br />
implícitos e profundamente interiorizados, que contribui <strong>para</strong> <strong>de</strong>finir, entre<br />
coisas, as atitu<strong>de</strong>s face ao capital cultural e à instituição social.A herança<br />
cultural, que difere, sob os dois aspectos, segundo as classes sociais, é a<br />
responsável pela diferença inicial das crianças diante da experiência escolar<br />
e, consequentemente, pelas taxas <strong>de</strong> êxito.(BOURDIEU, 2010, p.41-42).<br />
No caso específico <strong>de</strong>ste estudo, o fato <strong>de</strong> as famílias dos entrevistados<br />
apresentarem baixa escolarida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> influenciar nas disposições <strong>de</strong>sses <strong>jovens</strong> em<br />
relação ao interesse pelo tipo <strong>de</strong> capital cultural proporcionado pela escola. A continuida<strong>de</strong><br />
dos estudos por parte dos irmãos mais velhos, por exemplo, po<strong>de</strong> incentivá-los a continuar<br />
persistindo no investimento escolar. Ao contrário, quando esses irmãos <strong>de</strong>sistem <strong>de</strong>sse<br />
empreendimento, aumentam as chances <strong>de</strong> fragilização das atitu<strong>de</strong>s positivas frente à<br />
escola.<br />
Essa situação não significa a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudança ou alteração nas<br />
posições ocupadas <strong>de</strong>ntro do espaço social, tanto <strong>para</strong> os estudantes das camadas<br />
privilegiadas quanto <strong>para</strong> aqueles que não usufruem <strong>de</strong>sse privilégio. As tomadas <strong>de</strong><br />
posição <strong>de</strong>sses <strong>jovens</strong> diante das oportunida<strong>de</strong>s criadas <strong>de</strong>ntro dos campos em que<br />
<strong>de</strong>senvolvem suas práticas po<strong>de</strong>m favorecer a evolução ou limitação do seu volume <strong>de</strong><br />
capitais, apesar das predisposições <strong>de</strong> seu grupo social <strong>de</strong> origem.<br />
Mas, as tomadas <strong>de</strong> posição que possam permitir uma mudança ou uma<br />
mobilida<strong>de</strong> ascen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>sses <strong>jovens</strong> <strong>de</strong>ntro do campo escolar ou do trabalho não<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m, apenas, <strong>de</strong> suas vonta<strong>de</strong>s individuais, através <strong>de</strong> escolhas livres e conscientes e<br />
<strong>de</strong> ações rigorosamente calculadas pela razão <strong>para</strong> o alcance dos objetivos pretendidos;<br />
nem tampouco resultam, exclusivamente, do “efeito mecânico da coerção <strong>de</strong> causas<br />
externas”, como aquelas advindas do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> organização econômica da socieda<strong>de</strong> que<br />
interfere nas formas <strong>de</strong> distribuição do capital econômico.<br />
De acordo com Bourdieu, “[...] as ações possuem mais frequentemente por<br />
princípio o senso prático do que o cálculo racional [...]” (2001, p.78). Assim, há uma razão<br />
prática que orienta as ativida<strong>de</strong>s realizadas pelos sujeitos em sua existência cotidiana e que<br />
está associada ao habitus do seu grupo <strong>de</strong> pertencimento. No entanto, as novas<br />
experiências <strong>de</strong> socialização que são vivenciadas pelos sujeitos nos diversos espaços <strong>de</strong><br />
convivência com outros sujeitos - seja na escola, na comunida<strong>de</strong>, na rua, no trabalho, nos<br />
grupos culturais, religiosos, esportivos ou políticos po<strong>de</strong>m viabilizar alterações nesse<br />
habitus.