âdisposições para crer, disposições para agirâ: jovens de ... - Uece
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Os entrevistados não <strong>de</strong>ram informações muito precisas sobre os rendimentos<br />
familiares. Entretanto, pelos dados levantados, essas famílias apresentam renda mensal<br />
total inferior a três salários mínimos. Desse modo, mesmo os que afirmaram não participar<br />
do Bolsa Família po<strong>de</strong>riam ser classificados como <strong>de</strong> baixa renda se tomarmos como<br />
referência os critérios utilizados pelo Cadastro Único <strong>para</strong> os Programas Sociais do Governo<br />
Fe<strong>de</strong>ral, que inclui nessa categoria as famílias que apresentam renda mensal per capta até<br />
meio salário mínimo ou renda mensal total <strong>de</strong> até três salários mínimos.<br />
3.4 Condições <strong>de</strong> acesso à Cultura Escolar entre <strong>jovens</strong> e familiares<br />
As narrativas dos nossos entrevistados ao comentarem sobre suas ocupações e<br />
condições sob as quais se encontram inseridos no mundo do trabalho, <strong>de</strong>senvolvendo<br />
tarefas como babás, empregadas domésticas, serventes <strong>de</strong> pedreiro ou costureiros<br />
permitem-nos perceber que tais práticas <strong>de</strong> trabalho não corroboram <strong>para</strong> seus processos<br />
<strong>de</strong> formação técnico profissional 35 <strong>de</strong>ntro do que preconiza o ECA e o Decreto da<br />
Presidência da República <strong>de</strong> nº 5.598 <strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 2005, que regulamenta a<br />
contratação <strong>de</strong> aprendizes, única condição legalmente autorizada <strong>para</strong> a inserção dos<br />
<strong>jovens</strong> menores <strong>de</strong> 16 anos no mundo do trabalho.<br />
O tempo disponibilizado <strong>para</strong> essas ativida<strong>de</strong>s laborais po<strong>de</strong> representar um<br />
tempo que <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser investido no processo <strong>de</strong> aquisição da cultura escolar, cultura<br />
socialmente valorizada e que, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do contexto, po<strong>de</strong> conferir po<strong>de</strong>r àqueles que a<br />
dominam ao possibilitar o ingresso em outras posições no campo do trabalho.<br />
Como já discutimos na Introdução <strong>de</strong>ste estudo, Bourdieu utiliza a noção <strong>de</strong><br />
Capital Cultural <strong>para</strong> se referir aos tipos <strong>de</strong> saberes consi<strong>de</strong>rados legítimos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um<br />
<strong>de</strong>terminado universo social. Desse modo, não <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ramos os saberes que cada um<br />
<strong>de</strong>sses <strong>jovens</strong> possam trazer <strong>de</strong> suas experiências cotidianas. Mas, procuramos <strong>de</strong>stacar<br />
que há certos conhecimentos próprios dos conteúdos representados pela cultura escolar<br />
que são exigidos <strong>para</strong> a inserção em <strong>de</strong>terminadas ativida<strong>de</strong>s profissionais, bem como nas<br />
próprias relações sociais entre grupos.<br />
Para Bourdieu, tais conhecimentos seriam arbitrários, uma vez que não haveria<br />
uma hierarquização natural entre eles, mas a construção <strong>de</strong> uma hierarquia entre saberes<br />
35 De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, “A formação técnico profissional <strong>de</strong>ve ser<br />
constituída por ativida<strong>de</strong>s teóricas e práticas, organizadas em tarefas <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> progressiva, em<br />
programa correlato às ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas nas empresas contratantes, proporcionando ao aprendiz uma<br />
formação profissional básica”. (MTE, 2011, p.12)