14.10.2014 Views

“disposições para crer, disposições para agir”: jovens de ... - Uece

“disposições para crer, disposições para agir”: jovens de ... - Uece

“disposições para crer, disposições para agir”: jovens de ... - Uece

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

142<br />

na compreensão que constroem sobre si mesmos, sobre o seu lugar no mundo, sobre o<br />

lugar dos outros, sobre o que po<strong>de</strong>m ou não <strong>de</strong>sejar e projetar em relação ao futuro.<br />

Mas, enten<strong>de</strong>mos que as estruturas objetivas que dão suporte ao cotidiano <strong>de</strong><br />

nossos pesquisados não representam barreiras intransponíveis em suas trajetórias sociais,<br />

consi<strong>de</strong>rando que esses sujeitos po<strong>de</strong>m, nas várias cenas do cotidiano vivido, encontrar ou<br />

construir novos caminhos que possam conduzi-los aos sonhos <strong>de</strong>sejados, uma vez que<br />

esses sujeitos pensam, agem e fazem escolhas.<br />

No entanto, <strong>para</strong> que esses sujeitos façam escolhas, as oportunida<strong>de</strong>s precisam<br />

estar disponíveis a todos. Se <strong>de</strong>sejam estudar (e esse é um direito consagrado a todos) que<br />

esses <strong>jovens</strong> tenham também direito ao “não-trabalho” se o trabalho lhes impe<strong>de</strong> <strong>de</strong> se<br />

<strong>de</strong>dicar à escola e a permanecerem estudando nos turnos <strong>de</strong> sua preferência. Se é o Ensino<br />

Profissionalizante ou o acesso à Universida<strong>de</strong> que projetam como meta <strong>de</strong> futuro, que a<br />

socieda<strong>de</strong> possa lhes garantir igualmente os meios <strong>para</strong> alcançarem essa meta.<br />

Olhando especialmente <strong>para</strong> os estudantes <strong>de</strong> EJA que foram nossos<br />

interlocutores neste estudo, atores sociais que se apresentaram como os mais afetados pela<br />

estrutura <strong>de</strong>sigual <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> capital econômico, cultural e social entre todos os<br />

entrevistados, percebemos a tendência <strong>de</strong> uma política voltada <strong>para</strong> que se realize com eles<br />

a “causalida<strong>de</strong> do provável”, contribuindo <strong>para</strong> que esses atores sociais se conservem na<br />

posição em que se encontram na estrutura social <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> capitais. A negativa por<br />

parte das escolas <strong>de</strong> inserir no ensino diurno os <strong>jovens</strong> que se encontram fora da faixaetária<br />

oficialmente recomendada parece funcionar como uma “punição escolar” àqueles que<br />

não se ajustam às disposições exigidas nesse campo.<br />

A permanência na escola parece não ter favorecido o acesso <strong>de</strong>sses estudantes<br />

da EJA à cultura socialmente consi<strong>de</strong>rada <strong>de</strong> prestígio, tipo <strong>de</strong> cultura que po<strong>de</strong>ria facilitar a<br />

entrada futura <strong>de</strong>sses <strong>jovens</strong> em outros espaços sociais, como campos profissionais on<strong>de</strong> a<br />

cultura escolar é valorizada e exigida como cre<strong>de</strong>ncial <strong>de</strong> entrada.<br />

Se as oportunida<strong>de</strong>s oferecidas a esses <strong>jovens</strong> não contribuem <strong>para</strong> o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento das disposições exigidas <strong>para</strong> o ingresso no Ensino Médio, na<br />

Universida<strong>de</strong>, em cursos profissionalizantes ou outras ativida<strong>de</strong>s profissionais <strong>de</strong>sejadas por<br />

esses sujeitos, suas esperanças ten<strong>de</strong>rão a se limitar às oportunida<strong>de</strong>s disponíveis,<br />

consi<strong>de</strong>rando que não apresentam as disposições exigidas <strong>para</strong> o acesso a outras posições.<br />

Esse constitui um perigo iminente <strong>para</strong> muitos dos nossos entrevistados <strong>de</strong> EJA que já se<br />

encontram inseridos em situações e condições ina<strong>de</strong>quadas <strong>de</strong> trabalho <strong>para</strong> sua faixaetária,<br />

situações iniciadas por alguns já no período da infância.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!