Antonio Donizeti <strong>da</strong> Cruzsujeito lírico, que se sente inquieto perante a vi<strong>da</strong>. As enumerações contribuempara a manutenção do ritmo do poema. O tom de in<strong>da</strong>gação que norteia o poemainstaura um conflito entre o "eu" e o mundo circun<strong>da</strong>nte. O questionamento <strong>da</strong>linguagem pode estar relacionado à consciência tensa, inquieta, do Eu poéticoem constante interrogação.No haicai intitulado “Os tristes” (RE, p. 33), evidencia-se a <strong>inquietação</strong>do sujeito lírico enquanto questionamento:OS TRISTESEm seus caramujos,os tristes sonham silêncios.Que ausência os habita?São versos revestidos de um lirismo singular. Salienta-se a temática <strong>da</strong>solidão, pois em "ausência" e "silêncios", os tristes sonham. A imagem docaramujo remete à ideia de isolamento e introspecção. No verso final, destaca-sea in<strong>da</strong>gação do sujeito lírico.No terceto “Emblema” (MS, p. 11), a temática do sofrimento e <strong>da</strong>religiosi<strong>da</strong>de aparecem de forma níti<strong>da</strong>, em que o eu lírico salienta sua<strong>inquietação</strong>:EMBLEMAA fogo im<strong>pr</strong>imiste, Senhor,Na carne de meu coraçãoA tua insígnia de dor.São versos que mostram que a dor e o sofrimento são inseparáveis <strong>da</strong>vi<strong>da</strong> humana. A religiosi<strong>da</strong>de e amor se fazem <strong>pr</strong>esentes no poema “Prece” (PI, p.32), em que o sujeito lírico intercede:PRECEConcede-me, Senhor, a graça de ser boa,De ser o coração singelo que perdoa,A solícita mão que espalha, sem medi<strong>da</strong>sEstrelas pela noite escura de outras vi<strong>da</strong>sE tira d'alma alheia o espinho que magoa.98
<strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong>: a <strong>poesia</strong> <strong>da</strong> <strong>inquietação</strong>No texto, o amor é forma diviniza<strong>da</strong> de “oferen<strong>da</strong>”, de desejo de partilhacom os outros. A linguagem do poema é extremamente metafórica,caracterizando-se pela rigorosa disciplina e pela concisão, visíveis na <strong>br</strong>evi<strong>da</strong>de<strong>da</strong>s composições, quase sem<strong>pr</strong>e apoia<strong>da</strong>s no esquema recorrente <strong>da</strong>s rimas. Nopoema, a palavra "estrelas" pode significar a metáfora de bon<strong>da</strong>de e de amor, poisa solícita mão que as espalha às outras vi<strong>da</strong>s, também tira "o espinho" que mágoa.A palavra "espinho" é a metáfora de "sofrimento".Nas palavras de Octavio Paz (1982), a palavra poética e a palavrareligiosa se confundem ao longo <strong>da</strong> história. Porém, a revelação religiosa nãoconstitui – pelo menos na medi<strong>da</strong> em que é palavra – o ato original, e sim a suainter<strong>pr</strong>etação. Em contraparti<strong>da</strong>, a <strong>poesia</strong> é revelação <strong>da</strong> condição humana e, poressa razão, criação do homem pela imagem. A linguagem poética instaura acondição paradoxal do homem: sua “outri<strong>da</strong>de”. Desse modo, o leva aconcretizar aquilo que é. Para Paz,Não são as sagra<strong>da</strong>s escrituras <strong>da</strong>s religiões que constroem ohomem, pois se apóiam na palavra poética. O ato pelo qual ohomem se fun<strong>da</strong> e se revela a si mesmo é a <strong>poesia</strong>. Em suma,a experiência religiosa e a poética têm uma origem comum,suas ex<strong>pr</strong>essões históricas – poemas, mitos, orações,exorcismo, hinos, re<strong>pr</strong>esentações teatrais, ritos, etc. – são àsvezes indistinguíveis; as duas, enfim, são experiências denossa 'outri<strong>da</strong>de' constitutiva. (1982, p. 189).Religião e <strong>poesia</strong>, conforme Paz, tendem a concretizar de uma vez parasem<strong>pr</strong>e a possibili<strong>da</strong>de de ser que somos e que constitui nossa maneira de ser.Tanto a experiência religiosa como a experiência poética ocorre como “um saltomortal: um mu<strong>da</strong>r de natureza que é também um regressar à nossa naturezaoriginal. Encoberto pela vi<strong>da</strong> <strong>pr</strong>ofana ou <strong>pr</strong>osaica, nosso ser de repente serecor<strong>da</strong> de sua identi<strong>da</strong>de perdi<strong>da</strong>; e então, aparece, emerge, esse 'outro' quesomos” (PAZ, 1982, p. 166).São palavras que mostram o poder <strong>da</strong> linguagem e a maneira de o Euestar no mundo. O poder <strong>da</strong>s palavras aponta para o sentido de partilha. Nessesentido, a palavra poética pode ser um refúgio do homem contra as desilusões,frustrações e limitações, ou seja, ela é força capaz de impulsioná-lo a atingir seussonhos e realizações.A temática do amor idealizado e não correspondido constata-se nopoema “Miragem” (PI, p. 82), em que o sujeito lírico declara:99
- Page 2 and 3:
ANTONIO DONIZETI DA CRUZé professo
- Page 4 and 5:
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO P
- Page 6 and 7:
© 2010, Antonio Donizeti da CruzRe
- Page 9:
AGRADECIMENTOS SEMPREAgradeço ao p
- Page 15:
A alegria maior da vida é colher o
- Page 19:
SIGLAS DOS LIVROS DE HELENA KOLODYP
- Page 23 and 24:
PALAVRAS PRIMEIRASHelena Kolody: a
- Page 25 and 26:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 27 and 28:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 29 and 30:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 31 and 32:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 33 and 34:
desenvolvimento da cultura brasilei
- Page 35 and 36:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 37 and 38:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 39 and 40:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 41 and 42:
Feita de tortura e fel.Helena Kolod
- Page 43 and 44:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 45 and 46:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 47 and 48:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 49 and 50: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 51 and 52: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 53 and 54: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 55: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 58 and 59: Antonio Donizeti da CruzA única ju
- Page 60 and 61: Antonio Donizeti da Cruzpois, dessa
- Page 62 and 63: Antonio Donizeti da CruzJakobson co
- Page 64 and 65: Antonio Donizeti da Cruz"encantamen
- Page 66 and 67: Antonio Donizeti da Cruzmais difere
- Page 68 and 69: Antonio Donizeti da Cruza imagem co
- Page 71 and 72: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 73 and 74: A comunicabilidade na poesia kolody
- Page 75 and 76: Em “Inquietação”, o sujeito l
- Page 77 and 78: “Exílio” (SR, p. 12) é um exe
- Page 79 and 80: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 81 and 82: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 83 and 84: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 85 and 86: Chego a pensar, às vezes, comovida
- Page 87 and 88: significado das palavras, além do
- Page 89 and 90: A poesia de Helena Kolody funda-se
- Page 91 and 92: O poema enquanto presente original
- Page 93 and 94: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 95 and 96: poético. Percebe-se que a linguage
- Page 97 and 98: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 99: A tanka “Sabedoria” (RE, p. 60)
- Page 103 and 104: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 105 and 106: O haicai intitulado “Depois” (R
- Page 107 and 108: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 109 and 110: Pode-se dizer que a "semente" é me
- Page 111 and 112: A longa mão feita de sombraE tira
- Page 113 and 114: Ao calor do interrogar-senuvens ocu
- Page 115 and 116: dando um tom de irregularidade às
- Page 117 and 118: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 119 and 120: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 121 and 122: Lembra, sem o querer, numa impress
- Page 123 and 124: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 125 and 126: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 127 and 128: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 129 and 130: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 131 and 132: CONSIDERAÇÕES FINAISHelena Kolody
- Page 133 and 134: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 135 and 136: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASHelena
- Page 137 and 138: ATEM, Reinoldo. Panorama da poesia
- Page 139 and 140: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 141 and 142: JAKOBSON, Roman; POMORSKA, Kristyna
- Page 143: ANEXOS
- Page 147: 145
- Page 151:
149
- Page 155:
153
- Page 159:
157
- Page 163:
161
- Page 167 and 168:
2PRAÇA RUI BARBOSAQuando a conheci
- Page 169:
3A PRAÇAQuando a conheci, chamava-
- Page 173:
HAIGO171
- Page 177:
175
- Page 181:
179
- Page 185 and 186:
MANEIRAS DE SERHelena KolodyOs que