Antonio Donizeti <strong>da</strong> CruzPor analogia, o poema é “um caracol onde ressoa a música do mundo, emétricas e rimas são apenas correspondências, ecos, <strong>da</strong> harmonia universal(PAZ, 1982, p. 15).“Significado” (PM, p. 33) é um poema que convi<strong>da</strong> o leitor àparticipação e a olhar ao olhar ao poema e ao mundo circun<strong>da</strong>nte, com suasimagens “desenha<strong>da</strong>s” no papel ou nas “nuvens”, que com seus versospolimétricos,SIGNIFICADONo poemae nas nuvens,ca<strong>da</strong> qual desco<strong>br</strong>eo que deseja ver.mostram que a <strong>poesia</strong> pode ser comunhão, participação e revelação do ser. Nessaperspectiva, os poemas kolodyanos têm o poder de <strong>pr</strong>ojetar palavras quedespertam o leitor para uma observação atenta <strong>da</strong>s coisas mínimas, masindispensáveis à conjugação dos entes e seres, pois o “poema é uma o<strong>br</strong>a sem<strong>pr</strong>einacaba<strong>da</strong>, sem<strong>pr</strong>e disposta a ser completa<strong>da</strong> e vivi<strong>da</strong> por um novo leitor (1982,p. 234). Nas palavras de Paz,Se a comunhão poética se concretiza de ver<strong>da</strong>de, querodizer, se o poema ain<strong>da</strong> guar<strong>da</strong> intactos seus poderes derevelação e se o leitor penetra efetivamente em seu âmbitode energia, <strong>pr</strong>oduz-se uma recriação. Como to<strong>da</strong> recriação,o poema do leitor não é um duplo exato do escrito pelopoeta. Mas se não é idêntico quanto a isto e aquilo, éidêntico quanto ao <strong>pr</strong>ó<strong>pr</strong>io ato de recriação: leitor recria oinstante e cria-se a si mesmo. (PAZ, 1982, p. 233-234)Assim, nas esferas <strong>da</strong> “<strong>poesia</strong>-comunhão”, a lírica de <strong>Kolody</strong> convergepara o sentido <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, uma <strong>poesia</strong> que tem múltiplas facetas, qual umcaleidoscópio que a ca<strong>da</strong> movimento modifica a imagem.O poema “Circuito” (IP, p.52) convi<strong>da</strong> o leitor a partilhar a experiênciapoética vivencia<strong>da</strong> pelo eu poético e concretiza<strong>da</strong> no poema:88CIRCUITOOs olhos que mergulham no poemacompletam o circuito <strong>da</strong> <strong>poesia</strong>.
O poema enquanto <strong>pr</strong>esente original e comunicativo do poeta a seu leitoré “uma o<strong>br</strong>a sem<strong>pr</strong>e inacaba<strong>da</strong>, sem<strong>pr</strong>e disposta a ser contempla<strong>da</strong> e vivi<strong>da</strong> porum novo leitor” (PAZ, 1982, p. 234). Se ao poeta é confia<strong>da</strong> a missão de criar ummundo novo, através de sua linguagem poética, essa missão torna-se mais difícilain<strong>da</strong>, sem a humil<strong>da</strong>de <strong>da</strong> interrogação e sem o risco <strong>da</strong> busca. Interrogar alinguagem é "interrogar-nos a nós mesmos" (PAZ, 1991, p. 40).O poema “outra dimensão” (SP, p. 41) <strong>pr</strong>opõe questões para as quais nãohá respostas fáceis ou imediatas. A quali<strong>da</strong>de oscilante no ritmo e asinterrogações inexoráveis transmitem a <strong>inquietação</strong> do sujeito lírico, em face deum dilema não resolvido: a do questionamento de sua linguagem:OUTRA DIMENSÃOQuem pintaráa voz e a canção?Quem <strong>pr</strong>enderáno cárcere do versoa miragem e o sonho,o vôo e o pensamento?<strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong>: a <strong>poesia</strong> <strong>da</strong> <strong>inquietação</strong>Em relação ao fazer poético, Octavio Paz distingue dois momentos no<strong>pr</strong>ocesso poético: a elaboração do poema e sua recepção por um leitor ou umouvinte. São momentos de um <strong>pr</strong>ocesso, de um fazer poético, porque o poemajamais se a<strong>pr</strong>esenta como reali<strong>da</strong>de independente. Nenhum texto poético temexistência per se: o leitor confere reali<strong>da</strong>de ao poema. Nesse sentido, o poeta é o<strong>pr</strong>imeiro leitor de seu poema, o <strong>pr</strong>imeiro autor (PAZ, 1991, p. 101). Para <strong>Helena</strong><strong>Kolody</strong>, o <strong>pr</strong>ocesso criativo, o fazer poético é "muito pessoal". A esse respeito,<strong>Helena</strong> declara:Às vezes meus poemas vêm por inteiro, são os poemasvivíparos. Eles são os melhores e geralmente dormirammuito tempo dentro de mim. Outras vezes é só um núcleo depoemas, os ovíparos, que têm que ser chocados. Eles seestruturam devagar. E, de repente, nasce a ave, porque háum longo <strong>pr</strong>ocesso de cele<strong>br</strong>ação inconsciente (SERUR,1988, p. 8).Seus poemas parecem surgir de uma <strong>inquietação</strong> interior, de uma lutacom as palavras. <strong>Helena</strong> salienta:89
- Page 2 and 3:
ANTONIO DONIZETI DA CRUZé professo
- Page 4 and 5:
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO P
- Page 6 and 7:
© 2010, Antonio Donizeti da CruzRe
- Page 9:
AGRADECIMENTOS SEMPREAgradeço ao p
- Page 15:
A alegria maior da vida é colher o
- Page 19:
SIGLAS DOS LIVROS DE HELENA KOLODYP
- Page 23 and 24:
PALAVRAS PRIMEIRASHelena Kolody: a
- Page 25 and 26:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 27 and 28:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 29 and 30:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 31 and 32:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 33 and 34:
desenvolvimento da cultura brasilei
- Page 35 and 36:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 37 and 38:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 39 and 40: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 41 and 42: Feita de tortura e fel.Helena Kolod
- Page 43 and 44: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 45 and 46: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 47 and 48: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 49 and 50: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 51 and 52: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 53 and 54: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 55: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 58 and 59: Antonio Donizeti da CruzA única ju
- Page 60 and 61: Antonio Donizeti da Cruzpois, dessa
- Page 62 and 63: Antonio Donizeti da CruzJakobson co
- Page 64 and 65: Antonio Donizeti da Cruz"encantamen
- Page 66 and 67: Antonio Donizeti da Cruzmais difere
- Page 68 and 69: Antonio Donizeti da Cruza imagem co
- Page 71 and 72: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 73 and 74: A comunicabilidade na poesia kolody
- Page 75 and 76: Em “Inquietação”, o sujeito l
- Page 77 and 78: “Exílio” (SR, p. 12) é um exe
- Page 79 and 80: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 81 and 82: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 83 and 84: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 85 and 86: Chego a pensar, às vezes, comovida
- Page 87 and 88: significado das palavras, além do
- Page 89: A poesia de Helena Kolody funda-se
- Page 93 and 94: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 95 and 96: poético. Percebe-se que a linguage
- Page 97 and 98: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 99 and 100: A tanka “Sabedoria” (RE, p. 60)
- Page 101 and 102: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 103 and 104: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 105 and 106: O haicai intitulado “Depois” (R
- Page 107 and 108: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 109 and 110: Pode-se dizer que a "semente" é me
- Page 111 and 112: A longa mão feita de sombraE tira
- Page 113 and 114: Ao calor do interrogar-senuvens ocu
- Page 115 and 116: dando um tom de irregularidade às
- Page 117 and 118: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 119 and 120: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 121 and 122: Lembra, sem o querer, numa impress
- Page 123 and 124: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 125 and 126: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 127 and 128: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 129 and 130: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 131 and 132: CONSIDERAÇÕES FINAISHelena Kolody
- Page 133 and 134: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 135 and 136: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASHelena
- Page 137 and 138: ATEM, Reinoldo. Panorama da poesia
- Page 139 and 140: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 141 and 142:
JAKOBSON, Roman; POMORSKA, Kristyna
- Page 143:
ANEXOS
- Page 147:
145
- Page 151:
149
- Page 155:
153
- Page 159:
157
- Page 163:
161
- Page 167 and 168:
2PRAÇA RUI BARBOSAQuando a conheci
- Page 169:
3A PRAÇAQuando a conheci, chamava-
- Page 173:
HAIGO171
- Page 177:
175
- Page 181:
179
- Page 185 and 186:
MANEIRAS DE SERHelena KolodyOs que