Antonio Donizeti <strong>da</strong> Cruz<strong>poesia</strong> despoja<strong>da</strong> e pura, em que uma exercita<strong>da</strong> consciência crítica lhe confereacenos exemplares. Sua <strong>poesia</strong> de extrema simplici<strong>da</strong>de, clareza e lirismo, ocupaum lugar singularíssimo no panorama poético paranaense.A <strong>poesia</strong> kolodyana se faz reflexiva, questionante, pois sua intimi<strong>da</strong>decom as palavras e suas combinações e o seu agudo senso de ritmo fazem com queo im<strong>pr</strong>essionante desnu<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> linguagem existente em to<strong>da</strong> sua o<strong>br</strong>afloresça em <strong>poesia</strong>. Sua o<strong>br</strong>a re<strong>pr</strong>esenta a maneira intensa de entender eex<strong>pr</strong>essar os sentimentos do mundo, numa <strong>poesia</strong> que tem por centro temático a<strong>inquietação</strong>, em que a vi<strong>da</strong>, "a <strong>inquietação</strong> su<strong>pr</strong>ema de viver", alia-se à "su<strong>pr</strong>emaangústia de pensar".A <strong>poesia</strong> de <strong>Helena</strong> flui naturalmente como voz sonora, num constantebem-dizer do amor e seus instantes. Pode-se dizer que a <strong>inquietação</strong> é um doseixos centrais de sua <strong>poesia</strong>, que através do eu lírico a<strong>br</strong>e caminhos para arevelação <strong>da</strong> <strong>pr</strong>ó<strong>pr</strong>ia condição humana, revesti<strong>da</strong> de com<strong>pr</strong>eensão, luz esimpatia. Suas imagens conseguem ser, ao mesmo tempo, simples e <strong>pr</strong>ofun<strong>da</strong>s,dizendo tudo com simples alusões. Seus versos distinguem-se por essacapaci<strong>da</strong>de peculiar de sugeridos fenômenos imperceptíveis, como aslem<strong>br</strong>anças, os sonhos, nostalgias e imaginação.<strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong> é um dos nomes mais significativos <strong>da</strong> <strong>poesia</strong>contemporânea paranaense. Sua personali<strong>da</strong>de humana e literária é marcante.<strong>Helena</strong> escreve de maneira transparente, clara e concisa. Sua o<strong>br</strong>a vempercorri<strong>da</strong> por muitos sentidos, <strong>pr</strong>eocupação com a linguagem, respeito àpalavra. É <strong>poesia</strong> de quem sente não apenas a evanescência do sentir. Mais do queisso, faz do sentir pessoal o reflexo de um sentimento socialmente refletido.Os textos kolodyanos contêm uma visão carrega<strong>da</strong> de transparência aomostrar que o fazer poético é capaz de comunicar uma <strong>pr</strong>ofun<strong>da</strong> consciência dosentido <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e dos limites humanos. É um "fazer poético" que se refleteenquanto questionamento, pois sua <strong>poesia</strong> é uma luta constante para atingir oestado original, mediante revelação e "<strong>inquietação</strong> de um ofício". A arte poéticakolodyana identifica-se com uma certa <strong>pr</strong>oblemática recorrente na <strong>poesia</strong>contemporânea: a busca de criação de uma <strong>poesia</strong> so<strong>br</strong>e a <strong>poesia</strong>, capaz de<strong>pr</strong>ojetar o poder <strong>da</strong>s palavras, pois conforme Paz, "o poema é via de acesso aotempo puro, imersão nas águas originais <strong>da</strong> existência. A <strong>poesia</strong> não é na<strong>da</strong> senãotempo, ritmo perpetuamente criador" (1982, p. 31).O fazer poético, em <strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong>, parece surgir como resultado de<strong>pr</strong>ocessos interiores que ocorrem em relação à vi<strong>da</strong>, em que o eu lírico in<strong>da</strong>ga-seem relação a sua arte, ao fazer poético e questiona-se como poeta. Sua o<strong>br</strong>a130
<strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong>: a <strong>poesia</strong> <strong>da</strong> <strong>inquietação</strong>poética adquire a inflexão ontológica de quem <strong>pr</strong>ocura, através <strong>da</strong> linguagem,respostas à vi<strong>da</strong>. A<strong>pr</strong>esenta temas que se interligam e refletem a visão de mundo<strong>da</strong> poeta e sua atitude frente à <strong>pr</strong>oblemática que envolve o ser humano. Ca<strong>da</strong>poema é construído a partir <strong>da</strong>s coisas simples e cotidianas, que remete às<strong>pr</strong>ofun<strong>da</strong>s reflexões so<strong>br</strong>e o sentido <strong>da</strong> existência humana.A artista <strong>da</strong> palavra <strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong> tem uma voz lírica inconfundível efaz de sua poiesis um ofício cantante. Seus versos, revestidos por umaim<strong>pr</strong>essionante riqueza conotativa e de associações de idéias, sentidos esímbolos, afloram sentidos múltiplos. Na visão de Jorge Luis Borges, “o maisimportante de um autor é a sua entonação; o mais importante de um livro é a vozdo autor, a voz que chega até nós (1987, p. 10). A <strong>poesia</strong>, força capaz detransfigurar a reali<strong>da</strong>de do homem, aponta para o mistério oculto <strong>da</strong>s coisas, emais <strong>pr</strong>ecisamente, para o sentido <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Palavra essencial e luminosa, a <strong>poesia</strong>kolodyana vai além <strong>da</strong> transitorie<strong>da</strong>de do real e do humano. A trajetória poéticade <strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong> é anima<strong>da</strong> pelo sentido de permanência, pois sua arte poética,marca<strong>da</strong> pelas “palavras <strong>da</strong> <strong>inquietação</strong>”, lirismo, síntese e poder de revelação,transmu<strong>da</strong>m-se em valores que são capazes de corporificar o onírico e ofantástico, em uma dialética permanente, pois como afirma Jorge Luis Borges “alinguagem é uma criação – vem a ser uma espécie de imortali<strong>da</strong>de” (1987, p. 19).A comunicabili<strong>da</strong>de na <strong>poesia</strong> de <strong>Helena</strong> é essencialmente lírica, pois<strong>pr</strong>ocura sensibilizar o leitor, mostrando que a <strong>poesia</strong> pode ser vi<strong>da</strong>, poder,revelação, alquimia, nostalgia. Os poemas kolodyanos analisados, a partir deuma perspectiva de análise embasa<strong>da</strong> no referencial teórico de autores comoOctavio Paz, Esteban, Jakobson, entre outros, possuem uma relação de sentidoque os mantêm ligados às várias temáticas constantes <strong>da</strong> <strong>inquietação</strong>.A <strong>poesia</strong> kolodyana reveste-se de <strong>inquietação</strong> mesmo quando refere-se àinfância, em que o lírico revisita-a, como em "Três Barras, plena de sol ecigarras". A <strong>poesia</strong> foi desde cedo uma <strong>pr</strong>esença marcante em sua vi<strong>da</strong>. Ain<strong>da</strong> nainfância, <strong>Helena</strong> ouvia poemas de Tarás Chevtchenko, poeta <strong>da</strong> Ucrânia, pois suamãe declamava-os à filha. O ambiente familiar contribuiu para despertar o seuamor à <strong>poesia</strong>. Muito dos poemas de <strong>Helena</strong> refletem o encantamento com abeleza <strong>da</strong>s paisagens e motivos eslavos.Acentua-se, na <strong>poesia</strong> de <strong>Kolody</strong>, uma nostalgia inquietante, uma<strong>pr</strong>ofun<strong>da</strong> identificação com o legado cultural ucraniano, quando a poeta trata <strong>da</strong>questão <strong>da</strong> imigração ucraniana. Há uma certa cele<strong>br</strong>ação, num sentimentotelúrico de ligação com o país de seus ancestrais e, <strong>pr</strong>incipalmente em relação aoBrasil.131
- Page 2 and 3:
ANTONIO DONIZETI DA CRUZé professo
- Page 4 and 5:
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO P
- Page 6 and 7:
© 2010, Antonio Donizeti da CruzRe
- Page 9:
AGRADECIMENTOS SEMPREAgradeço ao p
- Page 15:
A alegria maior da vida é colher o
- Page 19:
SIGLAS DOS LIVROS DE HELENA KOLODYP
- Page 23 and 24:
PALAVRAS PRIMEIRASHelena Kolody: a
- Page 25 and 26:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 27 and 28:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 29 and 30:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 31 and 32:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 33 and 34:
desenvolvimento da cultura brasilei
- Page 35 and 36:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 37 and 38:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 39 and 40:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 41 and 42:
Feita de tortura e fel.Helena Kolod
- Page 43 and 44:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 45 and 46:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 47 and 48:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 49 and 50:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 51 and 52:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 53 and 54:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 55:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 58 and 59:
Antonio Donizeti da CruzA única ju
- Page 60 and 61:
Antonio Donizeti da Cruzpois, dessa
- Page 62 and 63:
Antonio Donizeti da CruzJakobson co
- Page 64 and 65:
Antonio Donizeti da Cruz"encantamen
- Page 66 and 67:
Antonio Donizeti da Cruzmais difere
- Page 68 and 69:
Antonio Donizeti da Cruza imagem co
- Page 71 and 72:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 73 and 74:
A comunicabilidade na poesia kolody
- Page 75 and 76:
Em “Inquietação”, o sujeito l
- Page 77 and 78:
“Exílio” (SR, p. 12) é um exe
- Page 79 and 80:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 81 and 82: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 83 and 84: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 85 and 86: Chego a pensar, às vezes, comovida
- Page 87 and 88: significado das palavras, além do
- Page 89 and 90: A poesia de Helena Kolody funda-se
- Page 91 and 92: O poema enquanto presente original
- Page 93 and 94: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 95 and 96: poético. Percebe-se que a linguage
- Page 97 and 98: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 99 and 100: A tanka “Sabedoria” (RE, p. 60)
- Page 101 and 102: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 103 and 104: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 105 and 106: O haicai intitulado “Depois” (R
- Page 107 and 108: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 109 and 110: Pode-se dizer que a "semente" é me
- Page 111 and 112: A longa mão feita de sombraE tira
- Page 113 and 114: Ao calor do interrogar-senuvens ocu
- Page 115 and 116: dando um tom de irregularidade às
- Page 117 and 118: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 119 and 120: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 121 and 122: Lembra, sem o querer, numa impress
- Page 123 and 124: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 125 and 126: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 127 and 128: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 129 and 130: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 131: CONSIDERAÇÕES FINAISHelena Kolody
- Page 135 and 136: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASHelena
- Page 137 and 138: ATEM, Reinoldo. Panorama da poesia
- Page 139 and 140: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 141 and 142: JAKOBSON, Roman; POMORSKA, Kristyna
- Page 143: ANEXOS
- Page 147: 145
- Page 151: 149
- Page 155: 153
- Page 159: 157
- Page 163: 161
- Page 167 and 168: 2PRAÇA RUI BARBOSAQuando a conheci
- Page 169: 3A PRAÇAQuando a conheci, chamava-
- Page 173: HAIGO171
- Page 177: 175
- Page 181: 179
- Page 185 and 186:
MANEIRAS DE SERHelena KolodyOs que