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Helena Kolody: a poesia da inquietação. - Portugues.seed.pr.gov.br

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<strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong>: a <strong>poesia</strong> <strong>da</strong> <strong>inquietação</strong>ela faz conhecer, no momento <strong>da</strong> leitura, a <strong>pr</strong>ó<strong>pr</strong>ia linguagem, distancia<strong>da</strong> dohábito e revivi<strong>da</strong> – pelo leitor – como nova pela invenção poética. Tais<strong>pr</strong>ocedimentos podem fazer com que o leitor tome consciência de que alinguagem do poema é altamente organiza<strong>da</strong>.Verifica-se, na <strong>poesia</strong> de <strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong>, uma certa sau<strong>da</strong>de nostálgica eo desejo de recuperar a pureza original <strong>da</strong> infância. Nela está a origem <strong>da</strong>saspirações mais puras <strong>da</strong> poeta. A evocação à infância torna-se uma constante na<strong>poesia</strong> kolodyana.No texto intitulado “Infância” (SR – VE, p. 151), a poeta alicerça aconstrução poética que se caracteriza pelo desejo de buscas e aspirações, em quea meninice é rememora<strong>da</strong> pelo eu lírico:INFÂNCIAAquelas tardes de Três Barras.Plenas de sol e de cigarras!Quando eu ficava horas perdi<strong>da</strong>sOlhando a faina <strong>da</strong>s formigasQue iam e vinham pelos carreiros,No áspero tronco dos pessegueiros.A chuva-de-ouroEra um tesouro,Quando floria.De áureas abelhasTo<strong>da</strong> zumbia.Alfom<strong>br</strong>a flavaO chão co<strong>br</strong>ia...O cão travesso, de nome eslavo,Era um amigo, quase um escravo.Meren<strong>da</strong> agreste:Leite crioulo,Com mel dourado,Cheirando a favo.Ao lusco-fusco, quanta alegria!A menina<strong>da</strong> to<strong>da</strong> acorriaPara cantar, no imenso terreiro:“Mais bom dia, Vossa Senhoria”...“Bom barqueiro! Bom barqueiro...”Soava a canção pelo povoado inteiroE a <strong>pr</strong>ó<strong>pr</strong>ia luz ciran<strong>da</strong>va e ria.Se a tarde de domingo era tranqüila,Saía-se a flanar, em pleno sol,No campo, recendente a camomila.Alegria de correr até cairRolar na relva como potro novoE quase sufocar, de tanto rir!No riacho claro, às segun<strong>da</strong>s-feiras,Batiam roupas as lavadeiras.Também a gente lavava traposNas pedras lisas, nas corredeiras;Catava limo, topava sapos(Ai, ai, que susto! Virgem Maria!)Do tempo, só se sabiaQue no ano sem<strong>pr</strong>e existiaO bom tempo <strong>da</strong>s laranjasE o doce tempo dos figos...Longínqua infância... Três BarrasPlena de sol e cigarras!127

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