Antonio Donizeti <strong>da</strong> Cruzrelaciona<strong>da</strong> à solidão. O poema é composto por três versos, com uma linguagemartisticamente construí<strong>da</strong>, encantatória e lúdica, em que o sujeito poético afirma:ENSAIOA solidão <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>,Longo ensaioDa solidão <strong>da</strong> morte.Nos versos do poema, vi<strong>da</strong> e morte se fundem numa rede de sentidos. Asolidão <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> parece ser somente um "ensaio", para a "grande solidão" de ca<strong>da</strong>ser humano. Os versos mostram que a <strong>poesia</strong> é capaz de comunicar uma <strong>pr</strong>ofun<strong>da</strong>consciência do sentido <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e dos limites humanos. E, também, <strong>da</strong> morte eseus mistérios. Vi<strong>da</strong> e morte se pactuam, pois, são apenas dois movimentosantagônicos, porém complementares de uma mesma reali<strong>da</strong>de (PAZ, 1984b, p.177).A <strong>poesia</strong> a<strong>br</strong>e a possibili<strong>da</strong>de de ser que todo nascer contém. A <strong>poesia</strong> écapaz de recriar o homem e fazer com que ele assuma sua ver<strong>da</strong>deira condição,que não é a separação vi<strong>da</strong> ou morte, mas a totali<strong>da</strong>de: vi<strong>da</strong> e morte num sóinstante de incandescência. É mediante à experiência do sagrado, que vem avertigem ante seu <strong>pr</strong>ó<strong>pr</strong>io vazio, o homem consegue aceitar-se tal como é:contingência e finitude (PAZ, 1982, p. 175).O poema “Vi<strong>da</strong>” (VB – VE, p. 115) a<strong>pr</strong>esenta um eu poético inquietoperante a vi<strong>da</strong> e a morte. A vi<strong>da</strong> pode "<strong>br</strong>otar" tanto <strong>da</strong> "semente oculta" quantodo "âmago <strong>da</strong> morte":106VIDASemente oculta na polpa do fruto.A morte habita o âmago <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.Demora em nós a eterni<strong>da</strong>deE espera que se cum<strong>pr</strong>aO tempo <strong>da</strong> sazão.Tombaremos no solo escuro.Do alto ramo oscilante,Procuramos ignorá-lo.Semente oculta na polpa do fruto.A vi<strong>da</strong> <strong>br</strong>ota do âmago <strong>da</strong> morte,Imperecível.
Pode-se dizer que a "semente" é metáfora de vi<strong>da</strong>, é "símbolo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>".Na segun<strong>da</strong> estrofe, o eu poético mostra-se de maneira consciente, em relação asua condição de finitude: "Demora em nós a eterni<strong>da</strong>de/ Espera que se cum<strong>pr</strong>a/ Otempo <strong>da</strong> sazão" (p. 115). A consciência desse "nós", e a <strong>inquietação</strong> do eupoético em relação ao "tempo <strong>da</strong> sazão", tempo <strong>pr</strong>ó<strong>pr</strong>io para a colheita do fruto,remete à ideia de que o homem é "contingência" e vive uma vi<strong>da</strong> incerta, "nolimite de duração" e finitude. A eterni<strong>da</strong>de é a ausência ou a solução de todos osconflitos, ultrapassando contradições, tanto no plano cósmico quanto no planoespiritual. O desejo de eterni<strong>da</strong>de do homem reflete sua luta incessante contra otempo e, talvez ain<strong>da</strong> mais, sua luta por uma vi<strong>da</strong> que, de tão intensa, possa"triunfar para sem<strong>pr</strong>e so<strong>br</strong>e a morte" (CHEVALIER; GHEERBRANT, 1991, p.408).No texto, o eu poético tem perfeita consciência <strong>da</strong> morte, ao afirmar:"Tombaremos no solo escuro./ Do alto ramo oscilante,/ Procuramos ignorá-lo"(p. 115). Mas, se a morte é uma certeza para o eu poético, ela é também umaesperança de "vi<strong>da</strong> imperecível", para "além <strong>da</strong>s fronteiras e dos símbolos",porque na quarta e última estrofe, ele salienta: "Semente oculta na polpa dofruto,/ A vi<strong>da</strong> <strong>br</strong>ota do âmago <strong>da</strong> morte,/ Imperecível". (p. 115). Enfim, a vi<strong>da</strong>"oculta" na semente revela-se de forma plena.A <strong>poesia</strong> não se <strong>pr</strong>opõe a consolar o homem <strong>da</strong> morte, mas fazer com queele vislum<strong>br</strong>e que a vi<strong>da</strong> e a morte são inseparáveis, isto é, são a totali<strong>da</strong>de.Recuperar a vi<strong>da</strong> concreta significa reunir a parelha vi<strong>da</strong>-morte, "reconquistarum no outro, o tu no eu", e desco<strong>br</strong>ir "a figura do mundo na dispersão de seusfragmentos" (PAZ, 1990, p. 110). Na <strong>poesia</strong> <strong>da</strong> autora, contatam-se asafirmações de Octavio Paz, visto que o texto de <strong>Kolody</strong> a<strong>pr</strong>esenta-se comoresidual <strong>da</strong> experiência, trazendo como saldo a consciência <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e <strong>da</strong> morte,associa<strong>da</strong>s ao <strong>pr</strong>ó<strong>pr</strong>io sentimento lírico, em que o Eu funciona como "filtro domundo".Em “Argila ilumina<strong>da</strong>” (IP, p. 4), a morte aparece como sinônimo delibertação. A temática <strong>da</strong> transitorie<strong>da</strong>de do ser e <strong>da</strong> <strong>br</strong>evi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> salientamsenos versos do poema:ARGILA ILUMINADASomos o eternoa<strong>pr</strong>isionadona argila perecível.Inábeis equili<strong>br</strong>amos<strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong>: a <strong>poesia</strong> <strong>da</strong> <strong>inquietação</strong>107
- Page 2 and 3:
ANTONIO DONIZETI DA CRUZé professo
- Page 4 and 5:
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO P
- Page 6 and 7:
© 2010, Antonio Donizeti da CruzRe
- Page 9:
AGRADECIMENTOS SEMPREAgradeço ao p
- Page 15:
A alegria maior da vida é colher o
- Page 19:
SIGLAS DOS LIVROS DE HELENA KOLODYP
- Page 23 and 24:
PALAVRAS PRIMEIRASHelena Kolody: a
- Page 25 and 26:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 27 and 28:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 29 and 30:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 31 and 32:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 33 and 34:
desenvolvimento da cultura brasilei
- Page 35 and 36:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 37 and 38:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 39 and 40:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 41 and 42:
Feita de tortura e fel.Helena Kolod
- Page 43 and 44:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 45 and 46:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 47 and 48:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 49 and 50:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 51 and 52:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 53 and 54:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 55:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 58 and 59: Antonio Donizeti da CruzA única ju
- Page 60 and 61: Antonio Donizeti da Cruzpois, dessa
- Page 62 and 63: Antonio Donizeti da CruzJakobson co
- Page 64 and 65: Antonio Donizeti da Cruz"encantamen
- Page 66 and 67: Antonio Donizeti da Cruzmais difere
- Page 68 and 69: Antonio Donizeti da Cruza imagem co
- Page 71 and 72: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 73 and 74: A comunicabilidade na poesia kolody
- Page 75 and 76: Em “Inquietação”, o sujeito l
- Page 77 and 78: “Exílio” (SR, p. 12) é um exe
- Page 79 and 80: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 81 and 82: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 83 and 84: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 85 and 86: Chego a pensar, às vezes, comovida
- Page 87 and 88: significado das palavras, além do
- Page 89 and 90: A poesia de Helena Kolody funda-se
- Page 91 and 92: O poema enquanto presente original
- Page 93 and 94: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 95 and 96: poético. Percebe-se que a linguage
- Page 97 and 98: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 99 and 100: A tanka “Sabedoria” (RE, p. 60)
- Page 101 and 102: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 103 and 104: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 105 and 106: O haicai intitulado “Depois” (R
- Page 107: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 111 and 112: A longa mão feita de sombraE tira
- Page 113 and 114: Ao calor do interrogar-senuvens ocu
- Page 115 and 116: dando um tom de irregularidade às
- Page 117 and 118: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 119 and 120: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 121 and 122: Lembra, sem o querer, numa impress
- Page 123 and 124: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 125 and 126: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 127 and 128: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 129 and 130: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 131 and 132: CONSIDERAÇÕES FINAISHelena Kolody
- Page 133 and 134: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 135 and 136: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASHelena
- Page 137 and 138: ATEM, Reinoldo. Panorama da poesia
- Page 139 and 140: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 141 and 142: JAKOBSON, Roman; POMORSKA, Kristyna
- Page 143: ANEXOS
- Page 147: 145
- Page 151: 149
- Page 155: 153
- Page 159:
157
- Page 163:
161
- Page 167 and 168:
2PRAÇA RUI BARBOSAQuando a conheci
- Page 169:
3A PRAÇAQuando a conheci, chamava-
- Page 173:
HAIGO171
- Page 177:
175
- Page 181:
179
- Page 185 and 186:
MANEIRAS DE SERHelena KolodyOs que