Antonio Donizeti <strong>da</strong> CruzJakobson considera o metro e o ritmo linguisticamente pertinentes. Oritmo se caracteriza pelo uso reiterativo de certas seqüências de sílabas; o metro,por certa seqüência de ritmo; a aliteração, a assonância, a rima, pelo usoreiterativo de certos sons, resultando em um outro paralelismo em nívelgramatical, fazendo com que estas reiterações inci<strong>da</strong>m so<strong>br</strong>e as palavras e asidéias. Jakobson, ao fazer considerações entre o <strong>pr</strong>oblema <strong>da</strong>s relações entreLinguística e Poética, afirma que,Santo Agostinho dizia que um homem que não tem emconta a <strong>poesia</strong> e não com<strong>pr</strong>eende a <strong>poesia</strong> não pode arrogarsea quali<strong>da</strong>de de gramático. Para ser gramático – hojedizemos linguísta – é <strong>pr</strong>eciso conhecer a língua em to<strong>da</strong>s assuas funções, e a função poética é universal, coexistesem<strong>pr</strong>e. [...] Em Santo Agostinho não está implícita umaver<strong>da</strong>de complementar: não nos podemos ocupar de <strong>poesia</strong>sem ter em conta a ciência <strong>da</strong> linguagem (JAKOBSON,1973. p. 9)Segundo Roman Jakobson, há poetas, escolas que se orientam para asrimas gramaticais, e os que visam antes as rimas agramaticais, ou, maisexatamente, antigramaticais. Em <strong>poesia</strong>, a questão fun<strong>da</strong>mental reside nasrelações entre som e sentido. Tudo na linguagem é, nos seus diversos níveis,significante. Roman Jakobson insiste em afirmar que o que dá valor a um poemaé a relação entre sons e sentidos, é a estrutura dos significados – <strong>pr</strong>oblemasemântico, <strong>pr</strong>oblema linguístico no sentido mais amplo do termo (1973, p. 5).Em Diálogos (1985), Roman Jakobson comenta o seu texto A <strong>poesia</strong> <strong>da</strong>gramática e a gramática <strong>da</strong> <strong>poesia</strong>, dizendo que teve a oportuni<strong>da</strong>de de discutircom o poeta Maiakovski, em 1919, so<strong>br</strong>e os seus <strong>pr</strong>ocedimentos poéticos e quesua pesquisa mostrou-lhe perfeitas evidências de que as questões do verso, de suamatéria sonora e a <strong>pr</strong>oblemática <strong>da</strong> gramática eram indissolúveis. Jakobson,concentrando-se nas diferentes categorias gramaticais no interior de o<strong>br</strong>aspoéticas, confessa ter ficado im<strong>pr</strong>essionado ao verificar a simetria e aregulari<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s oposições gramaticais nos mais diversos poetas, em diferentesépocas e povos. So<strong>br</strong>e este assunto, o autor salienta que, “a ca<strong>da</strong> passo tornava-semais evidente que as categorias gramaticais, repeti<strong>da</strong>s ou contrastantes, tinhamuma função de composição” (JAKOBSON; POMORSKA, 1985, p. 112).A <strong>pr</strong>oposta jakobsoniana, basea<strong>da</strong> nas funções <strong>da</strong> linguagem, remete à<strong>pr</strong>edominância <strong>da</strong> função poética so<strong>br</strong>e as demais em uma o<strong>br</strong>a poética, pois nelaa mensagem está volta<strong>da</strong> para si <strong>pr</strong>ó<strong>pr</strong>ia. A função poética consiste na utilização60
<strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong>: a <strong>poesia</strong> <strong>da</strong> <strong>inquietação</strong>especial de dois componentes básicos do comportamento verbal: a seleção(basea<strong>da</strong> na similari<strong>da</strong>de) e a combinação (basea<strong>da</strong> na contigüi<strong>da</strong>de). Em seucéle<strong>br</strong>e teorema, Jakobson destaca que, “a função poética <strong>pr</strong>ojeta o <strong>pr</strong>incípio deequivalência do eixo de seleção so<strong>br</strong>e o eixo de combinação” (JAKOBSON,1975, p. 130). Assim, <strong>pr</strong>ojetando-se o eixo <strong>da</strong> seleção so<strong>br</strong>e o <strong>da</strong> combinação, afunção poética faz com que a equivalência seja <strong>pr</strong>omovi<strong>da</strong> à condição de recursoconstitutivo <strong>da</strong> seqüência, pois a superposição <strong>da</strong> similari<strong>da</strong>de a contigüi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>um caráter simbólico e polissêmico ao poema.Para Paul Valéry, em Varie<strong>da</strong>des (1991), a arte poética reside nacapaci<strong>da</strong>de de o poeta comunicar uma im<strong>pr</strong>essão um estado iniciante de emoçãocriadora, isto é, mediante a perturbação inicial e sem<strong>pr</strong>e im<strong>pr</strong>evista é que o poetaconstrói o objeto poético (1991, p. 215). A arte poética é capaz de coordenar omaior número de partes e de fatores independentes, como o som, o sentido, o reale o imaginário, a sintaxe, a lógica e ain<strong>da</strong> a dupla invenção do conteúdo e <strong>da</strong>forma. Já o poema é uma espécie de “máquina de <strong>pr</strong>oduzir o estado poéticoatravés <strong>da</strong>s palavras” (1991, p. 217). Valéry define a <strong>poesia</strong> como uma “arte <strong>da</strong>linguagem”, uma vez que certas combinações de palavras podem <strong>pr</strong>oduzir umadetermina<strong>da</strong> emoção que outras não conseguem, por essa razão, denomina-se“poética”. No dizer de Valéry, o fazer poético e a ativi<strong>da</strong>de reflexiva estãointerligados, isto é, a <strong>poesia</strong> é uma escolha <strong>pr</strong>ecisa de palavras busca<strong>da</strong>s naharmonia e sensibili<strong>da</strong>de.Em As ilusões <strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de, João Alexandre Barbosa afirma que a<strong>poesia</strong> moderna não é somente a que se situa em uma determina<strong>da</strong> faixatemporal, ou seja, a partir <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> metade do século XIX, mas aquela que<strong>pr</strong>oblematiza e torna inseparáveis <strong>da</strong> <strong>poesia</strong> as relações entre o poeta e alinguagem, que entram em crise a partir desse momento. Nesse sentido, o poemamoderno é inimaginável sem a ideia de crise, isto é, de ruptura. No entanto, não ésó uma crise tematiza<strong>da</strong> pelo poema (embora seja um dos fatores contínuos derealização), mas que, no interior do poema, aponta para a consciência do poeta.Por conseguinte, o poeta moderno é, essencialmente, "aquele que faz <strong>da</strong>linguagem do poema a linguagem <strong>da</strong> <strong>poesia</strong>" (BARBOSA, 1986, p. 98. Grifosdo autor).Entre a linguagem <strong>da</strong> <strong>poesia</strong> e o leitor, o poeta se estabelece como o"operador de enigmas", convertendo a linguagem do poema em poder: em que odizer leva à reflexão. O poeta e o leitor, parceiros de um mesmo jogo,a<strong>pr</strong>oximam-se segundo "o grau de absorção <strong>da</strong>/na linguagem". Para Barbosa, opoeta moderno é aquele que sabe o que há de inconstante na circunstância de61
- Page 2 and 3:
ANTONIO DONIZETI DA CRUZé professo
- Page 4 and 5:
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO P
- Page 6 and 7:
© 2010, Antonio Donizeti da CruzRe
- Page 9:
AGRADECIMENTOS SEMPREAgradeço ao p
- Page 15: A alegria maior da vida é colher o
- Page 19: SIGLAS DOS LIVROS DE HELENA KOLODYP
- Page 23 and 24: PALAVRAS PRIMEIRASHelena Kolody: a
- Page 25 and 26: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 27 and 28: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 29 and 30: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 31 and 32: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 33 and 34: desenvolvimento da cultura brasilei
- Page 35 and 36: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 37 and 38: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 39 and 40: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 41 and 42: Feita de tortura e fel.Helena Kolod
- Page 43 and 44: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 45 and 46: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 47 and 48: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 49 and 50: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 51 and 52: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 53 and 54: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 55: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 58 and 59: Antonio Donizeti da CruzA única ju
- Page 60 and 61: Antonio Donizeti da Cruzpois, dessa
- Page 64 and 65: Antonio Donizeti da Cruz"encantamen
- Page 66 and 67: Antonio Donizeti da Cruzmais difere
- Page 68 and 69: Antonio Donizeti da Cruza imagem co
- Page 71 and 72: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 73 and 74: A comunicabilidade na poesia kolody
- Page 75 and 76: Em “Inquietação”, o sujeito l
- Page 77 and 78: “Exílio” (SR, p. 12) é um exe
- Page 79 and 80: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 81 and 82: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 83 and 84: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 85 and 86: Chego a pensar, às vezes, comovida
- Page 87 and 88: significado das palavras, além do
- Page 89 and 90: A poesia de Helena Kolody funda-se
- Page 91 and 92: O poema enquanto presente original
- Page 93 and 94: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 95 and 96: poético. Percebe-se que a linguage
- Page 97 and 98: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 99 and 100: A tanka “Sabedoria” (RE, p. 60)
- Page 101 and 102: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 103 and 104: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 105 and 106: O haicai intitulado “Depois” (R
- Page 107 and 108: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 109 and 110: Pode-se dizer que a "semente" é me
- Page 111 and 112: A longa mão feita de sombraE tira
- Page 113 and 114:
Ao calor do interrogar-senuvens ocu
- Page 115 and 116:
dando um tom de irregularidade às
- Page 117 and 118:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 119 and 120:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 121 and 122:
Lembra, sem o querer, numa impress
- Page 123 and 124:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 125 and 126:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 127 and 128:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 129 and 130:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 131 and 132:
CONSIDERAÇÕES FINAISHelena Kolody
- Page 133 and 134:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 135 and 136:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASHelena
- Page 137 and 138:
ATEM, Reinoldo. Panorama da poesia
- Page 139 and 140:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 141 and 142:
JAKOBSON, Roman; POMORSKA, Kristyna
- Page 143:
ANEXOS
- Page 147:
145
- Page 151:
149
- Page 155:
153
- Page 159:
157
- Page 163:
161
- Page 167 and 168:
2PRAÇA RUI BARBOSAQuando a conheci
- Page 169:
3A PRAÇAQuando a conheci, chamava-
- Page 173:
HAIGO171
- Page 177:
175
- Page 181:
179
- Page 185 and 186:
MANEIRAS DE SERHelena KolodyOs que