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Helena Kolody: a poesia da inquietação. - Portugues.seed.pr.gov.br

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Pode-se dizer que a "semente" é metáfora de vi<strong>da</strong>, é "símbolo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>".Na segun<strong>da</strong> estrofe, o eu poético mostra-se de maneira consciente, em relação asua condição de finitude: "Demora em nós a eterni<strong>da</strong>de/ Espera que se cum<strong>pr</strong>a/ Otempo <strong>da</strong> sazão" (p. 115). A consciência desse "nós", e a <strong>inquietação</strong> do eupoético em relação ao "tempo <strong>da</strong> sazão", tempo <strong>pr</strong>ó<strong>pr</strong>io para a colheita do fruto,remete à ideia de que o homem é "contingência" e vive uma vi<strong>da</strong> incerta, "nolimite de duração" e finitude. A eterni<strong>da</strong>de é a ausência ou a solução de todos osconflitos, ultrapassando contradições, tanto no plano cósmico quanto no planoespiritual. O desejo de eterni<strong>da</strong>de do homem reflete sua luta incessante contra otempo e, talvez ain<strong>da</strong> mais, sua luta por uma vi<strong>da</strong> que, de tão intensa, possa"triunfar para sem<strong>pr</strong>e so<strong>br</strong>e a morte" (CHEVALIER; GHEERBRANT, 1991, p.408).No texto, o eu poético tem perfeita consciência <strong>da</strong> morte, ao afirmar:"Tombaremos no solo escuro./ Do alto ramo oscilante,/ Procuramos ignorá-lo"(p. 115). Mas, se a morte é uma certeza para o eu poético, ela é também umaesperança de "vi<strong>da</strong> imperecível", para "além <strong>da</strong>s fronteiras e dos símbolos",porque na quarta e última estrofe, ele salienta: "Semente oculta na polpa dofruto,/ A vi<strong>da</strong> <strong>br</strong>ota do âmago <strong>da</strong> morte,/ Imperecível". (p. 115). Enfim, a vi<strong>da</strong>"oculta" na semente revela-se de forma plena.A <strong>poesia</strong> não se <strong>pr</strong>opõe a consolar o homem <strong>da</strong> morte, mas fazer com queele vislum<strong>br</strong>e que a vi<strong>da</strong> e a morte são inseparáveis, isto é, são a totali<strong>da</strong>de.Recuperar a vi<strong>da</strong> concreta significa reunir a parelha vi<strong>da</strong>-morte, "reconquistarum no outro, o tu no eu", e desco<strong>br</strong>ir "a figura do mundo na dispersão de seusfragmentos" (PAZ, 1990, p. 110). Na <strong>poesia</strong> <strong>da</strong> autora, contatam-se asafirmações de Octavio Paz, visto que o texto de <strong>Kolody</strong> a<strong>pr</strong>esenta-se comoresidual <strong>da</strong> experiência, trazendo como saldo a consciência <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e <strong>da</strong> morte,associa<strong>da</strong>s ao <strong>pr</strong>ó<strong>pr</strong>io sentimento lírico, em que o Eu funciona como "filtro domundo".Em “Argila ilumina<strong>da</strong>” (IP, p. 4), a morte aparece como sinônimo delibertação. A temática <strong>da</strong> transitorie<strong>da</strong>de do ser e <strong>da</strong> <strong>br</strong>evi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> salientamsenos versos do poema:ARGILA ILUMINADASomos o eternoa<strong>pr</strong>isionadona argila perecível.Inábeis equili<strong>br</strong>amos<strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong>: a <strong>poesia</strong> <strong>da</strong> <strong>inquietação</strong>107

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