Antonio Donizeti <strong>da</strong> Cruzo intemporal no <strong>pr</strong>ecário.E só a morte nos liberta.No conflito entre o eterno e o efêmero, o homem se sente só e frágilperante as coisas finitas e terrenas. O desejo de vencer os conflitos leva o eu líricoa afirmar: "só a morte nos liberta" (p. 14). Nascer e morrer são experiências desolidão. Mais do que viver, a vi<strong>da</strong> ensina a morrer.Na <strong>poesia</strong> de <strong>Kolody</strong>, a morte aparece como experiência cotidiana, masrevesti<strong>da</strong> de ausências e despedi<strong>da</strong>s, conforme pode-se constatar no poema“Anoitecer” (IP, p. 33), em que o eu poético manifesta sua inquietude:ANOITECERAmiu<strong>da</strong>m-se as parti<strong>da</strong>s...Também morremos um poucono amargor <strong>da</strong>s despedi<strong>da</strong>s.Cais deserto, anoitecemosenluarados de ausências.Com uma linguagem metafórica, com um jogo sonoro relevante, o textomostra a <strong>pr</strong>eocupação do eu poético em relação à palavra, enfatizando o atocomunicativo e a mediação entre seus seres. Nos versos "cais deserto,anoitecemos/ enluarados de ausências", percebe-se um ritmo cadenciado. Aimagem do "cais deserto" remete à ideia de solidão. O "morrer um pouco", as"parti<strong>da</strong>s" e "despedi<strong>da</strong>s", leva o sujeito a sentir a ausência dos que se foram. Etambém, acaba por se envolver, pois "anoitecemos/ enluarados de ausência. Olexema "anoitecemos" pode significar a metáfora de "envelhecer" (p. 33).A morte também pode estar relaciona<strong>da</strong> ao jogo. No texto intitulado“Jogo” (VB, p. 22-23), o sujeito poético mostra que a <strong>poesia</strong> também é um jogo,uma luta "de vi<strong>da</strong> e morte" com as palavras:108JOGOA morte es<strong>pr</strong>eita, em silêncioO vivo jogo dos homensNo tabuleiro do tempo.Estende, às vezes, de repente,
A longa mão feita de som<strong>br</strong>aE tira um peão do tabuleiro.Se o jogo é fun<strong>da</strong>mentalmente um símbolo de luta entre as forças <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>e <strong>da</strong> morte, nos versos kolodyano, o jogo é uma questão de vi<strong>da</strong> e morte. Na<strong>pr</strong>imeira estrofe, a “morte” observa o 'vivo jogo dos homens" para, só depois,estender sua "mão de som<strong>br</strong>a", e tirar um "peão do tabuleiro". O lexema "peão"induz à metáfora de "homem". O poema mostra uma linguagem metafórica e umjogo sonoro e semântico, em que a Poeta cria significados inusitados. Poranalogia, pode-se dizer que <strong>Helena</strong> trabalha a linguagem de forma lúdica,alicerça<strong>da</strong> no poder instaurador <strong>da</strong>s palavras. No poema, a palavra é a pedraque ela joga no "xadrez do poema": <strong>poesia</strong> feito jogo. As palavras-imagens vãosendo joga<strong>da</strong>s no "tabuleiro do poema" e, no final, tem-se o poema, composto deversos singulares. O xadrez é o “jogo de reis, rei dos jogos. O tabuleiro de xadrezsimboliza a toma<strong>da</strong> do controle, não só so<strong>br</strong>e o adversário e so<strong>br</strong>e um território,mas também so<strong>br</strong>e si mesmo, so<strong>br</strong>e o <strong>pr</strong>ó<strong>pr</strong>io eu, porquanto a divisão interior dopsiquismo humano é igualmente o cenário de um combate” (CHEVALIER;GHEERBRANT, 1991, p. 967).O poema sintético “Tempo” (VB, p. 5) é composto por dois versos, ondese nota o "jogo de palavras":TEMPOCai a areia <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>Na ampulheta <strong>da</strong> morte.<strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong>: a <strong>poesia</strong> <strong>da</strong> <strong>inquietação</strong>Nos versos do poema, salientam-se o caráter lúdico <strong>da</strong> linguagempoética, ou seja, "o que a linguagem poética faz é essencialmente jogar com aspalavras" (HUIZINGA, 1990, p. 149). As imagens <strong>da</strong> "areia" e <strong>da</strong> "ampulheta"estão organiza<strong>da</strong>s na estrutura do poema de forma harmoniosa, confrontandocom as palavras "vi<strong>da</strong> x morte". A "ampulheta", símbolo do tempo, estárelaciona<strong>da</strong> ao título do poema.A <strong>br</strong>evi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, no poema, é simboliza<strong>da</strong> pela imagem <strong>da</strong>“ampulheta”. A imagem <strong>da</strong> areia caindo na ampulheta dá um sentido inexorável àexistência humana, porque não há como deter o fluxo. A areia desce de formaimplacável. Essa metáfora também remete ao período vital, o tempo cíclico dohomem na terra.109
- Page 2 and 3:
ANTONIO DONIZETI DA CRUZé professo
- Page 4 and 5:
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO P
- Page 6 and 7:
© 2010, Antonio Donizeti da CruzRe
- Page 9:
AGRADECIMENTOS SEMPREAgradeço ao p
- Page 15:
A alegria maior da vida é colher o
- Page 19:
SIGLAS DOS LIVROS DE HELENA KOLODYP
- Page 23 and 24:
PALAVRAS PRIMEIRASHelena Kolody: a
- Page 25 and 26:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 27 and 28:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 29 and 30:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 31 and 32:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 33 and 34:
desenvolvimento da cultura brasilei
- Page 35 and 36:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 37 and 38:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 39 and 40:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 41 and 42:
Feita de tortura e fel.Helena Kolod
- Page 43 and 44:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 45 and 46:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 47 and 48:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 49 and 50:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 51 and 52:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 53 and 54:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 55:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 58 and 59:
Antonio Donizeti da CruzA única ju
- Page 60 and 61: Antonio Donizeti da Cruzpois, dessa
- Page 62 and 63: Antonio Donizeti da CruzJakobson co
- Page 64 and 65: Antonio Donizeti da Cruz"encantamen
- Page 66 and 67: Antonio Donizeti da Cruzmais difere
- Page 68 and 69: Antonio Donizeti da Cruza imagem co
- Page 71 and 72: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 73 and 74: A comunicabilidade na poesia kolody
- Page 75 and 76: Em “Inquietação”, o sujeito l
- Page 77 and 78: “Exílio” (SR, p. 12) é um exe
- Page 79 and 80: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 81 and 82: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 83 and 84: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 85 and 86: Chego a pensar, às vezes, comovida
- Page 87 and 88: significado das palavras, além do
- Page 89 and 90: A poesia de Helena Kolody funda-se
- Page 91 and 92: O poema enquanto presente original
- Page 93 and 94: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 95 and 96: poético. Percebe-se que a linguage
- Page 97 and 98: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 99 and 100: A tanka “Sabedoria” (RE, p. 60)
- Page 101 and 102: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 103 and 104: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 105 and 106: O haicai intitulado “Depois” (R
- Page 107 and 108: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 109: Pode-se dizer que a "semente" é me
- Page 113 and 114: Ao calor do interrogar-senuvens ocu
- Page 115 and 116: dando um tom de irregularidade às
- Page 117 and 118: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 119 and 120: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 121 and 122: Lembra, sem o querer, numa impress
- Page 123 and 124: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 125 and 126: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 127 and 128: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 129 and 130: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 131 and 132: CONSIDERAÇÕES FINAISHelena Kolody
- Page 133 and 134: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 135 and 136: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASHelena
- Page 137 and 138: ATEM, Reinoldo. Panorama da poesia
- Page 139 and 140: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 141 and 142: JAKOBSON, Roman; POMORSKA, Kristyna
- Page 143: ANEXOS
- Page 147: 145
- Page 151: 149
- Page 155: 153
- Page 159: 157
- Page 163:
161
- Page 167 and 168:
2PRAÇA RUI BARBOSAQuando a conheci
- Page 169:
3A PRAÇAQuando a conheci, chamava-
- Page 173:
HAIGO171
- Page 177:
175
- Page 181:
179
- Page 185 and 186:
MANEIRAS DE SERHelena KolodyOs que