Antonio Donizeti <strong>da</strong> CruzNo poema “A <strong>poesia</strong> impossível” (VB, p. 24-25), os versos sãomarcados por um lirismo singular, pungente e inquietante:A POESIA IMPOSSÍVELInquietação de marinheiroQue sente o mar e seu chamado...Não pode embarcar!Prisioneiro do na<strong>da</strong>,Pássaro mutiladoQue a distância fascina...A impossibili<strong>da</strong>de de “embarcar" leva o marinheiro a tornar-se inquieto,"<strong>pr</strong>isioneiro do na<strong>da</strong>", que sente o fascínio de partir, mas permanece por estarmutilado. É um texto que abor<strong>da</strong> a busca do homem, o seu exílio e asimpossibili<strong>da</strong>des de realização humana.O poema “Trova” (AO, p. 43) mostra a temática <strong>da</strong> <strong>inquietação</strong> humana,TROVAAlma inquieta, dividi<strong>da</strong>entre o real e o sonhado:a ventura deste mundolem<strong>br</strong>a um riso soluçado.salientando a linguagem altamente elabora<strong>da</strong>, com um jogo inusitado depalavras. O sintagma "alma inquieta" pode ser a metáfora de "consciência do eu",que se sente dividido entre o mundo <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de e o dos sonhos e <strong>pr</strong>ojeções. Noúltimo verso destaca-se o oxímoro "riso soluçado".Em “Alegrias” (MS, p. 12), verifica-se uma oscilação <strong>da</strong>s palavras, emuma linguagem repleta de imagens e metáforas. O sujeito lírico sente-se incapazde atingir a "felici<strong>da</strong>de plena", uma duração, uma satisfação concreta elibertadora:ALEGRIASAs alegrias passam por mimQual um sonoro bando de aves <strong>br</strong>ancasPor so<strong>br</strong>e o espelho do mar.A superfície vi<strong>br</strong>a de inquietas imagens.78
<strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong>: a <strong>poesia</strong> <strong>da</strong> <strong>inquietação</strong>Mas a <strong>pr</strong>ofundeza é sem<strong>pr</strong>e a mesma,Sem<strong>pr</strong>e a mesma,E é eternamente a mesma a direção <strong>da</strong>s vagas.As alegrias são compara<strong>da</strong>s às aves <strong>br</strong>ancas que voam so<strong>br</strong>e o "espelhodo mar", símbolo <strong>da</strong> manifestação que reflete a inteligência criativa. A palavra"espelho" pode também simbolizar a pureza perfeita <strong>da</strong> alma, do espírito semnódoa, <strong>da</strong> reflexão de si na consciência (CHEVALIER; GHEERBRANT, 1991,p. 394-395). No poema, o espelho pode ser a metáfora do eu, ou seja, <strong>da</strong>consciência do sujeito lírico. Nas passagens, "A superfície vi<strong>br</strong>a de inquietasimagens/ Mas a <strong>pr</strong>ofundeza é sem<strong>pr</strong>e a mesma,/ Sem<strong>pr</strong>e a mesma,/ E éeternamente a mesma a direção <strong>da</strong>s vagas" (p. 12), são marcantes as reiterações eparalelismos sintáticos e semânticos, cujas reiterações contribuem namanutenção do ritmo. Pode-se dizer que o eu lírico sente a vi<strong>br</strong>ação <strong>da</strong>s imagensinquietas e, mesmo assim, busca a direção <strong>da</strong>s vagas. Tal busca de alegria e denão realização do eu lírico reflete a <strong>pr</strong>oblemática do ser humano: o desejo defelici<strong>da</strong>de permanente.4.2 Fazer poético: luta com as palavrasNa o<strong>br</strong>a de <strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong> o fazer poético é sinônimo de “<strong>inquietação</strong> deum ofício”, em que há uma constante <strong>pr</strong>eocupação poética, a<strong>pr</strong>esentando-secomo exercício, construção e trabalho artesanal. A <strong>poesia</strong> <strong>da</strong> autora é uma lutaincessante para atingir um estado original. Observa-se que a <strong>poesia</strong> kolodyanacontém uma visão peculiar de mundo, carrega<strong>da</strong> de transcendência, ao revelarque o fazer poético é capaz de comunicar uma <strong>pr</strong>ofun<strong>da</strong> consciência do sentido<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e dos limites humanos.<strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong> faz do ato de escrever um ofício cantante, ou seja, sua<strong>poesia</strong> reflete um lirismo contagiante e contido numa linguagem ex<strong>pr</strong>essiva quepersegue constantemente um mesmo tema: a <strong>poesia</strong>. A arte poética kolodyana79
- Page 2 and 3:
ANTONIO DONIZETI DA CRUZé professo
- Page 4 and 5:
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO P
- Page 6 and 7:
© 2010, Antonio Donizeti da CruzRe
- Page 9:
AGRADECIMENTOS SEMPREAgradeço ao p
- Page 15:
A alegria maior da vida é colher o
- Page 19:
SIGLAS DOS LIVROS DE HELENA KOLODYP
- Page 23 and 24:
PALAVRAS PRIMEIRASHelena Kolody: a
- Page 25 and 26:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 27 and 28:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 29 and 30: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 31 and 32: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 33 and 34: desenvolvimento da cultura brasilei
- Page 35 and 36: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 37 and 38: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 39 and 40: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 41 and 42: Feita de tortura e fel.Helena Kolod
- Page 43 and 44: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 45 and 46: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 47 and 48: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 49 and 50: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 51 and 52: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 53 and 54: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 55: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 58 and 59: Antonio Donizeti da CruzA única ju
- Page 60 and 61: Antonio Donizeti da Cruzpois, dessa
- Page 62 and 63: Antonio Donizeti da CruzJakobson co
- Page 64 and 65: Antonio Donizeti da Cruz"encantamen
- Page 66 and 67: Antonio Donizeti da Cruzmais difere
- Page 68 and 69: Antonio Donizeti da Cruza imagem co
- Page 71 and 72: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 73 and 74: A comunicabilidade na poesia kolody
- Page 75 and 76: Em “Inquietação”, o sujeito l
- Page 77 and 78: “Exílio” (SR, p. 12) é um exe
- Page 79: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 83 and 84: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 85 and 86: Chego a pensar, às vezes, comovida
- Page 87 and 88: significado das palavras, além do
- Page 89 and 90: A poesia de Helena Kolody funda-se
- Page 91 and 92: O poema enquanto presente original
- Page 93 and 94: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 95 and 96: poético. Percebe-se que a linguage
- Page 97 and 98: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 99 and 100: A tanka “Sabedoria” (RE, p. 60)
- Page 101 and 102: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 103 and 104: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 105 and 106: O haicai intitulado “Depois” (R
- Page 107 and 108: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 109 and 110: Pode-se dizer que a "semente" é me
- Page 111 and 112: A longa mão feita de sombraE tira
- Page 113 and 114: Ao calor do interrogar-senuvens ocu
- Page 115 and 116: dando um tom de irregularidade às
- Page 117 and 118: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 119 and 120: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 121 and 122: Lembra, sem o querer, numa impress
- Page 123 and 124: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 125 and 126: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 127 and 128: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 129 and 130: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 131 and 132:
CONSIDERAÇÕES FINAISHelena Kolody
- Page 133 and 134:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 135 and 136:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASHelena
- Page 137 and 138:
ATEM, Reinoldo. Panorama da poesia
- Page 139 and 140:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 141 and 142:
JAKOBSON, Roman; POMORSKA, Kristyna
- Page 143:
ANEXOS
- Page 147:
145
- Page 151:
149
- Page 155:
153
- Page 159:
157
- Page 163:
161
- Page 167 and 168:
2PRAÇA RUI BARBOSAQuando a conheci
- Page 169:
3A PRAÇAQuando a conheci, chamava-
- Page 173:
HAIGO171
- Page 177:
175
- Page 181:
179
- Page 185 and 186:
MANEIRAS DE SERHelena KolodyOs que