Antonio Donizeti <strong>da</strong> CruzEm “Areia” (IP, p. 30), poema sintético, composto por três versos,percebe-se a temática <strong>da</strong> efemeri<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Observe-se:AREIADa estátua de areiana<strong>da</strong> restarádepois <strong>da</strong> maré cheia.Os versos mostram que a vi<strong>da</strong> é passageira: a palavra "areia" podesignificar a metáfora de corpo; "maré cheia" parece ser a metáfora de "morte".O questionamento do eu lírico, inquieto perante a vi<strong>da</strong>, pode serpercebido em “vôo cego” (SP, p. 24), em que ele não tem um ponto de orientaçãoque o guie:VOO CEGOEm voo cego,singro o nevoeiro.Onde o ra<strong>da</strong>r que me guie?Perco-me em labirintos interiores.Que mistérios defendemtantas portas sela<strong>da</strong>s?Quem me cifrou em enigma?Ao singrar o nevoeiro, em vôo cego, o eu lírico questiona: "Onde o ra<strong>da</strong>rque me guie?" Ao buscar as respostas para suas in<strong>da</strong>gações, o eu lírico perde-seem "labirintos interiores" e completa seu questionamento: "Quem me cifrou emenigmas?" (p. 24).No texto “Diálogo” (IP, p. 5), a temática diz respeito à questão <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>,relaciona<strong>da</strong> à <strong>pr</strong>oblemática do ser que se questiona, em busca do sentido <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>:DIÁLOGODe<strong>br</strong>uçados so<strong>br</strong>e a vi<strong>da</strong>,in<strong>da</strong>gamos seus mistériose raramente alcançamossuas respostas cifra<strong>da</strong>s.110
Ao calor do interrogar-senuvens ocultas esgarçam-se,a luz em nós amanhece.No texto <strong>pr</strong>edomina o trabalho metafórico <strong>da</strong> linguagem so<strong>br</strong>e outrosrecursos poéticos, tais como paralelismos, rimas, assonâncias. A arte kolodyanainova-se num sentido para além do material tangível <strong>da</strong> linguagem. A poetabusca a inovação no plano <strong>da</strong>s significações, com uma linguagem altamenteelabora<strong>da</strong>.“Incógnita” (EE, p. 38) alude à <strong>pr</strong>eocupação do sujeito lírico em relaçãoao tempo e à busca de significado para suas in<strong>da</strong>gações. Na <strong>pr</strong>imeira estrofe, osujeito lírico declara: "Em tempo e espaço,/ Deus pensa o mundo" (p. 109). Nasegun<strong>da</strong> e última estrofe, o questionamento é marcante: "Luminosas musselinas/entreteci<strong>da</strong>s de sóis,/ as galáxias fogem./ Para onde?/ Até quando?" (p. 38). Osversos apontam para o conflito existencial do ser humano que busca respostaspara sua existência. Não é só um questionamento em relação ao mundo cósmico.Os pontos de interrogação salientam-se nos dois últimos versos do poema. Nãohá respostas que satisfaçam o sujeito lírico. As tentativas de desven<strong>da</strong>r osmistérios <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> jamais se concretizam.Em “Bola de Cristal” (IP, p. 28), o sujeito lírico dialoga com seuinterlocutor:BOLA DE CRISTALSe interrogas o passado,mente o cristal <strong>da</strong> memóriapara tornar-te feliz.<strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong>: a <strong>poesia</strong> <strong>da</strong> <strong>inquietação</strong>Evidencia-se, no texto, a ideia de que viver é um <strong>pr</strong>ojetar-se além <strong>da</strong>sperspectivas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. E não basta buscar o significado <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> na "bola de cristal",muito menos interrogar-se no passado ou no futuro. O importante é viver o tempo<strong>pr</strong>esente. No segundo verso, destaca-se a imagem do "Cristal <strong>da</strong> memória" que écapaz de "mentir" para tornar feliz o questionador. O cristal é símbolo <strong>da</strong>sabedoria, <strong>da</strong> adivinhação e dos poderes misteriosos conferidos ao homem. Suatransparência é exemplo de união dos contrários, pois o cristal, ain<strong>da</strong> quematerial, permite que se veja através dele, como se não fosse material. O cristalre<strong>pr</strong>esenta o plano intermediário entre o visível e o invisível (CHEVALIER;GHEERBRANT, 1991, p. 303).111
- Page 2 and 3:
ANTONIO DONIZETI DA CRUZé professo
- Page 4 and 5:
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO P
- Page 6 and 7:
© 2010, Antonio Donizeti da CruzRe
- Page 9:
AGRADECIMENTOS SEMPREAgradeço ao p
- Page 15:
A alegria maior da vida é colher o
- Page 19:
SIGLAS DOS LIVROS DE HELENA KOLODYP
- Page 23 and 24:
PALAVRAS PRIMEIRASHelena Kolody: a
- Page 25 and 26:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 27 and 28:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 29 and 30:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 31 and 32:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 33 and 34:
desenvolvimento da cultura brasilei
- Page 35 and 36:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 37 and 38:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 39 and 40:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 41 and 42:
Feita de tortura e fel.Helena Kolod
- Page 43 and 44:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 45 and 46:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 47 and 48:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 49 and 50:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 51 and 52:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 53 and 54:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 55:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 58 and 59:
Antonio Donizeti da CruzA única ju
- Page 60 and 61:
Antonio Donizeti da Cruzpois, dessa
- Page 62 and 63: Antonio Donizeti da CruzJakobson co
- Page 64 and 65: Antonio Donizeti da Cruz"encantamen
- Page 66 and 67: Antonio Donizeti da Cruzmais difere
- Page 68 and 69: Antonio Donizeti da Cruza imagem co
- Page 71 and 72: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 73 and 74: A comunicabilidade na poesia kolody
- Page 75 and 76: Em “Inquietação”, o sujeito l
- Page 77 and 78: “Exílio” (SR, p. 12) é um exe
- Page 79 and 80: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 81 and 82: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 83 and 84: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 85 and 86: Chego a pensar, às vezes, comovida
- Page 87 and 88: significado das palavras, além do
- Page 89 and 90: A poesia de Helena Kolody funda-se
- Page 91 and 92: O poema enquanto presente original
- Page 93 and 94: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 95 and 96: poético. Percebe-se que a linguage
- Page 97 and 98: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 99 and 100: A tanka “Sabedoria” (RE, p. 60)
- Page 101 and 102: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 103 and 104: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 105 and 106: O haicai intitulado “Depois” (R
- Page 107 and 108: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 109 and 110: Pode-se dizer que a "semente" é me
- Page 111: A longa mão feita de sombraE tira
- Page 115 and 116: dando um tom de irregularidade às
- Page 117 and 118: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 119 and 120: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 121 and 122: Lembra, sem o querer, numa impress
- Page 123 and 124: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 125 and 126: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 127 and 128: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 129 and 130: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 131 and 132: CONSIDERAÇÕES FINAISHelena Kolody
- Page 133 and 134: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 135 and 136: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASHelena
- Page 137 and 138: ATEM, Reinoldo. Panorama da poesia
- Page 139 and 140: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 141 and 142: JAKOBSON, Roman; POMORSKA, Kristyna
- Page 143: ANEXOS
- Page 147: 145
- Page 151: 149
- Page 155: 153
- Page 159: 157
- Page 163:
161
- Page 167 and 168:
2PRAÇA RUI BARBOSAQuando a conheci
- Page 169:
3A PRAÇAQuando a conheci, chamava-
- Page 173:
HAIGO171
- Page 177:
175
- Page 181:
179
- Page 185 and 186:
MANEIRAS DE SERHelena KolodyOs que