Antonio Donizeti <strong>da</strong> Cruzsem<strong>pr</strong>e uma ausência,/ Um travo de imperfeição" (p. 114). Nos versos dopoema, há como que uma <strong>inquietação</strong>, por parte de sujeito lírico. O enjambementdos versos, "Há sem<strong>pr</strong>e uma farpa/ Crava<strong>da</strong> num nervo sensível" (p. 114),reforça o ritmo do poema. Além <strong>da</strong> similari<strong>da</strong>de sonora em relação aos lexemas"farpa" e "crava<strong>da</strong>". A falta de algo, a "ausência", e "as imperfeições", além <strong>da</strong>dor e insatisfação, é que levam o sujeito lírico a sentir-se "estrangeiro" na vi<strong>da</strong>. Otermo estrangeiro é símbolo <strong>da</strong> situação do homem. Quando Adão e Eva sãoexpulsos do Paraíso, abandonaram sua pátria e possuem, a partir desse momento,o estatuto de estrangeiro, de emigrado. Todo "filho de Adão" é um hóspede depassagem, estrangeiro em qualquer país que se encontre. "Só Deus temci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia. Se a Pátria é o céu, os exilados do céu serão estrangeiros duranteto<strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong> terrena" (CHEVALIER; GHEERBRANT, 1991, p. 304). Mas, seo ser humano é um exilado no mundo, ele é também um ser que está em viagem,de passagem.O poema intitulado “Viagem infinita” (AO, p. 53), ex<strong>pr</strong>essa a condiçãodo homem peregrino em uma viagem necessária, na busca <strong>da</strong> transcendência. Oeu lírico ex<strong>pr</strong>essa a condição existencial, na passagem:VIAGEM INFINITA18/04/1990Estou sem<strong>pr</strong>e em viagem.O mundo é a paisagemque me atinge de passagem.Os versos do poema a<strong>pr</strong>esentam uma linguagem altamente elabora<strong>da</strong>. Arima é um dos recursos fun<strong>da</strong>mentais na <strong>poesia</strong> kolodyana. Uma <strong>da</strong>s razões desua grandeza, pelo poder de suscitar inespera<strong>da</strong>s alianças de termos, de sentido.Não se trata apenas <strong>da</strong> sonori<strong>da</strong>de, musicali<strong>da</strong>de, mas o que está em jogo é aestrita relação entre som e sentido. No sintagma "Estou sem<strong>pr</strong>e em viagem", émarcante a reiteração <strong>da</strong> vogal /e/. O "estar em viagem" <strong>pr</strong>ojeta a condiçãoitinerante do ser humano. A viagem simboliza a busca <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> paz, <strong>da</strong>imortali<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> <strong>pr</strong>ocura e <strong>da</strong> descoberta de um centro espiritual (CHEVALIER;GHEERBRANT, 1991, p. 951). Se a "viagem infinita" re<strong>pr</strong>esenta a busca doplano transcendente, o mundo a<strong>pr</strong>esenta-se como uma mora<strong>da</strong> transitória doshomens, pois ele é só uma "paisagem" que atinge o sujeito lírico de"passagem".102
O haicai intitulado “Depois” (RE, p. 25), com suas sílabas aliterativas eassonantes, aponta para a relação do homem com à natureza. O momento<strong>pr</strong>esente inquieta o eu lírico que sabe de sua situação enquanto "viajante <strong>da</strong>sgaláxias". A afirmativa do sujeito lírico é de uma originali<strong>da</strong>de singular:DEPOISSerá sem<strong>pr</strong>e agora.Viajarei pelas galáxiasuniverso afora.A temática <strong>da</strong> transitorie<strong>da</strong>de do ser, faz-se <strong>pr</strong>esente nos versos dopoema, situando o onde, o quando e o que do acontecimento poético.No haicai, “Desafio” (RE, p. 35), o sujeito lírico mostra que osobstáculos que impedem a passagem podem ser estímulos para novas buscas:DESAFIOA via bloquea<strong>da</strong>instiga o teimoso viajantea a<strong>br</strong>ir nova estra<strong>da</strong>.Nos versos do poema, percebe-se as ligações dos segmentos frasais, asonori<strong>da</strong>de e o jogo de palavras. O texto mostra que é necessário vencer osobstáculos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, para "a<strong>br</strong>ir novos caminhos". A estra<strong>da</strong> é símbolo de viageme transitorie<strong>da</strong>de do ser que está sem<strong>pr</strong>e em busca de realizações.Em “Solidão” (SR–VE, p. 138), a temática do tempo, <strong>da</strong> solidão, <strong>da</strong>insatisfação humana e do sofrimento aparece de forma saliente:SOLIDÃOEstamos sem<strong>pr</strong>e sozinhosEm nossas horas maiores.A dor, veneno latente,Corrói-nos a alma em segredo.A mais gloriosa alegriaFloresce na solidão.<strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong>: a <strong>poesia</strong> <strong>da</strong> <strong>inquietação</strong>103
- Page 2 and 3:
ANTONIO DONIZETI DA CRUZé professo
- Page 4 and 5:
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO P
- Page 6 and 7:
© 2010, Antonio Donizeti da CruzRe
- Page 9:
AGRADECIMENTOS SEMPREAgradeço ao p
- Page 15:
A alegria maior da vida é colher o
- Page 19:
SIGLAS DOS LIVROS DE HELENA KOLODYP
- Page 23 and 24:
PALAVRAS PRIMEIRASHelena Kolody: a
- Page 25 and 26:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 27 and 28:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 29 and 30:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 31 and 32:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 33 and 34:
desenvolvimento da cultura brasilei
- Page 35 and 36:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 37 and 38:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 39 and 40:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 41 and 42:
Feita de tortura e fel.Helena Kolod
- Page 43 and 44:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 45 and 46:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 47 and 48:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 49 and 50:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 51 and 52:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 53 and 54: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 55: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 58 and 59: Antonio Donizeti da CruzA única ju
- Page 60 and 61: Antonio Donizeti da Cruzpois, dessa
- Page 62 and 63: Antonio Donizeti da CruzJakobson co
- Page 64 and 65: Antonio Donizeti da Cruz"encantamen
- Page 66 and 67: Antonio Donizeti da Cruzmais difere
- Page 68 and 69: Antonio Donizeti da Cruza imagem co
- Page 71 and 72: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 73 and 74: A comunicabilidade na poesia kolody
- Page 75 and 76: Em “Inquietação”, o sujeito l
- Page 77 and 78: “Exílio” (SR, p. 12) é um exe
- Page 79 and 80: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 81 and 82: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 83 and 84: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 85 and 86: Chego a pensar, às vezes, comovida
- Page 87 and 88: significado das palavras, além do
- Page 89 and 90: A poesia de Helena Kolody funda-se
- Page 91 and 92: O poema enquanto presente original
- Page 93 and 94: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 95 and 96: poético. Percebe-se que a linguage
- Page 97 and 98: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 99 and 100: A tanka “Sabedoria” (RE, p. 60)
- Page 101 and 102: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 103: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 107 and 108: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 109 and 110: Pode-se dizer que a "semente" é me
- Page 111 and 112: A longa mão feita de sombraE tira
- Page 113 and 114: Ao calor do interrogar-senuvens ocu
- Page 115 and 116: dando um tom de irregularidade às
- Page 117 and 118: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 119 and 120: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 121 and 122: Lembra, sem o querer, numa impress
- Page 123 and 124: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 125 and 126: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 127 and 128: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 129 and 130: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 131 and 132: CONSIDERAÇÕES FINAISHelena Kolody
- Page 133 and 134: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 135 and 136: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASHelena
- Page 137 and 138: ATEM, Reinoldo. Panorama da poesia
- Page 139 and 140: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 141 and 142: JAKOBSON, Roman; POMORSKA, Kristyna
- Page 143: ANEXOS
- Page 147: 145
- Page 151: 149
- Page 155:
153
- Page 159:
157
- Page 163:
161
- Page 167 and 168:
2PRAÇA RUI BARBOSAQuando a conheci
- Page 169:
3A PRAÇAQuando a conheci, chamava-
- Page 173:
HAIGO171
- Page 177:
175
- Page 181:
179
- Page 185 and 186:
MANEIRAS DE SERHelena KolodyOs que