Antonio Donizeti <strong>da</strong> Cruztratando <strong>da</strong> questão <strong>da</strong> <strong>br</strong>evi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> humana, a <strong>poesia</strong> parece ser o "sinal" doser humano e seu testemunho perante o futuro.Na moderni<strong>da</strong>de, o poema assume a forma <strong>da</strong> interrogação. "Não é ohomem que pergunta. É a linguagem que nos interroga. Essa pergunta (Que ouquem pode nomear hoje a palavra?) nos engloba a todos" (PAZ, 1982, p. 345).No itinerário poético de <strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong>, observam-se certas temáticasconstantes, dentre as quais, a questão <strong>da</strong> <strong>br</strong>evi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> existência, a <strong>inquietação</strong>do poeta em relação à vi<strong>da</strong>, ora a exaltação intensa <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> ora o desencanto.Também, percebe-se a temática do amor, dos sentimentos e sonhos, <strong>da</strong>efemeri<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, do desejo de realização, <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> cotidiana, <strong>da</strong> questão <strong>da</strong>vi<strong>da</strong> e <strong>da</strong> morte, <strong>da</strong> solidão, do questionamento e <strong>da</strong> busca de sentido à vi<strong>da</strong>.Na o<strong>br</strong>a de <strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong>, a palavra poética adquire a inflexão <strong>da</strong>interrogação ontológica. No universo poético kolodyano, o sentimento definitude do ser transforma-se em eco <strong>da</strong> transcendência do infinito. Daí a vertente<strong>da</strong> religiosi<strong>da</strong>de na <strong>poesia</strong> de <strong>Helena</strong>, em que a nostalgia <strong>da</strong> totali<strong>da</strong>de, aaspiração ao absoluto ("Tu", "Senhor", "Deus"), confundem-se com o desejo deum mundo transcendente.A questão <strong>da</strong> <strong>br</strong>evi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e transcendência, <strong>pr</strong>esentifica-se nopoema “mergulho” (SP, p. 44). O sujeito lírico mostra-se inquieto, dividido entreo plano terreno e o transcendente, divino. Ao se considerar essas duas dimensões<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, associa-se ao poema:MERGULHOAlmejo mergulharna solidão e no silêncio,para encontrar-mee despojar-me de mim,até que a Eterna Presençaseja a minha plenitude.No texto percebe-se uma busca do eu lírico movido pelo desejo deacesso à outra mora<strong>da</strong>, à outra dimensão, em que se acredita residir a "harmonia".O silêncio está associado à condição de solidão, pois o poeta é um ser solidárioque vivencia em <strong>pr</strong>ofundi<strong>da</strong>de seu mundo "interior". Entre as limitações <strong>pr</strong>ó<strong>pr</strong>ias<strong>da</strong> condição <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> no plano físico, e no plano espiritual transcendentes, há oespaço intermediário, ou seja, o momento <strong>pr</strong>esente. No "mergulho" do instante edespojamento, o eu lírico constata que através de seu "canto", é "quase" possível<strong>pr</strong>eencher o vazio existencial.96
A tanka “Sabedoria” (RE, p. 60) mostra a temática do efêmero, <strong>da</strong><strong>br</strong>evi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, do tempo e <strong>da</strong> sau<strong>da</strong>de. No poema salientam-se o exercíciolúdico, as pausas dos versos, os acentos poéticos, as ligações dos segmentosfrasais e o conteúdo <strong>da</strong>s recor<strong>da</strong>ções do sujeito lírico, que inquieta-se perante avi<strong>da</strong>:SABEDORIATudo o tempo leva.A <strong>pr</strong>ó<strong>pr</strong>ia vi<strong>da</strong> não dura.Com sabedoria,colhe a alegria de agorapara a sau<strong>da</strong>de futura.Há uma perfeita relação semântica entre os versos do poema, mostrandoque a vi<strong>da</strong> é finita como as coisas que passam. O texto aponta para uma questãofun<strong>da</strong>mental: o ser humano, como to<strong>da</strong>s as formas de vi<strong>da</strong>, tem um <strong>pr</strong>azo acum<strong>pr</strong>ir na existência terrena. Daí a necessi<strong>da</strong>de de buscar com sabedoria "aalegria de agora", ou seja, urge cultivá-la, de maneira "plena", tendo em vista "asau<strong>da</strong>de futura".Em “Vitória íntima” (PI – VE), o eu lírico feminino sente-se fragilizado eimpotente perante a agitação <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, ao afirmar: "Meu coração fechou as pétalasso<strong>br</strong>e os meus sentimentos" (p. 211). E "Sozinha entre a multidão humana,/Silenciosa no mar ululante <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>./ Submergi como um peso morto/ Na fluidezespiritual do transcendente" (p. 211). O estar só em meio à multidão humana levao eu lírico a in<strong>da</strong>gar-se de sua <strong>pr</strong>ó<strong>pr</strong>ia condição existencial, terrena, em virtude deuma busca transcendente.“Queixa” (MS, p. 10) é um poema sintético de três versos, <strong>pr</strong>ojetando oinconformismo em relação ao sofrimento, à angústia e à tristeza, por parte dosujeito lírico que se questiona:QUEIXATu, Senhor, que repartes os destinos:Por que me deste o árido quinhãoDe sonho, de tristeza e solidão?<strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong>: a <strong>poesia</strong> <strong>da</strong> <strong>inquietação</strong>Os versos são marcados por um lirismo pungente. No último verso dopoema, os três signos: "sonho", "tristeza" e "solidão", denotam a introspecção do97
- Page 2 and 3:
ANTONIO DONIZETI DA CRUZé professo
- Page 4 and 5:
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO P
- Page 6 and 7:
© 2010, Antonio Donizeti da CruzRe
- Page 9:
AGRADECIMENTOS SEMPREAgradeço ao p
- Page 15:
A alegria maior da vida é colher o
- Page 19:
SIGLAS DOS LIVROS DE HELENA KOLODYP
- Page 23 and 24:
PALAVRAS PRIMEIRASHelena Kolody: a
- Page 25 and 26:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 27 and 28:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 29 and 30:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 31 and 32:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 33 and 34:
desenvolvimento da cultura brasilei
- Page 35 and 36:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 37 and 38:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 39 and 40:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 41 and 42:
Feita de tortura e fel.Helena Kolod
- Page 43 and 44:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 45 and 46:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 47 and 48: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 49 and 50: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 51 and 52: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 53 and 54: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 55: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 58 and 59: Antonio Donizeti da CruzA única ju
- Page 60 and 61: Antonio Donizeti da Cruzpois, dessa
- Page 62 and 63: Antonio Donizeti da CruzJakobson co
- Page 64 and 65: Antonio Donizeti da Cruz"encantamen
- Page 66 and 67: Antonio Donizeti da Cruzmais difere
- Page 68 and 69: Antonio Donizeti da Cruza imagem co
- Page 71 and 72: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 73 and 74: A comunicabilidade na poesia kolody
- Page 75 and 76: Em “Inquietação”, o sujeito l
- Page 77 and 78: “Exílio” (SR, p. 12) é um exe
- Page 79 and 80: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 81 and 82: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 83 and 84: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 85 and 86: Chego a pensar, às vezes, comovida
- Page 87 and 88: significado das palavras, além do
- Page 89 and 90: A poesia de Helena Kolody funda-se
- Page 91 and 92: O poema enquanto presente original
- Page 93 and 94: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 95 and 96: poético. Percebe-se que a linguage
- Page 97: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 101 and 102: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 103 and 104: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 105 and 106: O haicai intitulado “Depois” (R
- Page 107 and 108: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 109 and 110: Pode-se dizer que a "semente" é me
- Page 111 and 112: A longa mão feita de sombraE tira
- Page 113 and 114: Ao calor do interrogar-senuvens ocu
- Page 115 and 116: dando um tom de irregularidade às
- Page 117 and 118: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 119 and 120: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 121 and 122: Lembra, sem o querer, numa impress
- Page 123 and 124: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 125 and 126: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 127 and 128: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 129 and 130: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 131 and 132: CONSIDERAÇÕES FINAISHelena Kolody
- Page 133 and 134: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 135 and 136: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASHelena
- Page 137 and 138: ATEM, Reinoldo. Panorama da poesia
- Page 139 and 140: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 141 and 142: JAKOBSON, Roman; POMORSKA, Kristyna
- Page 143: ANEXOS
- Page 147: 145
- Page 151:
149
- Page 155:
153
- Page 159:
157
- Page 163:
161
- Page 167 and 168:
2PRAÇA RUI BARBOSAQuando a conheci
- Page 169:
3A PRAÇAQuando a conheci, chamava-
- Page 173:
HAIGO171
- Page 177:
175
- Page 181:
179
- Page 185 and 186:
MANEIRAS DE SERHelena KolodyOs que