Helena Kolody: a poesia da inquietação. - Portugues.seed.pr.gov.br
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Ao calor do interrogar-senuvens ocultas esgarçam-se,a luz em nós amanhece.No texto <strong>pr</strong>edomina o trabalho metafórico <strong>da</strong> linguagem so<strong>br</strong>e outrosrecursos poéticos, tais como paralelismos, rimas, assonâncias. A arte kolodyanainova-se num sentido para além do material tangível <strong>da</strong> linguagem. A poetabusca a inovação no plano <strong>da</strong>s significações, com uma linguagem altamenteelabora<strong>da</strong>.“Incógnita” (EE, p. 38) alude à <strong>pr</strong>eocupação do sujeito lírico em relaçãoao tempo e à busca de significado para suas in<strong>da</strong>gações. Na <strong>pr</strong>imeira estrofe, osujeito lírico declara: "Em tempo e espaço,/ Deus pensa o mundo" (p. 109). Nasegun<strong>da</strong> e última estrofe, o questionamento é marcante: "Luminosas musselinas/entreteci<strong>da</strong>s de sóis,/ as galáxias fogem./ Para onde?/ Até quando?" (p. 38). Osversos apontam para o conflito existencial do ser humano que busca respostaspara sua existência. Não é só um questionamento em relação ao mundo cósmico.Os pontos de interrogação salientam-se nos dois últimos versos do poema. Nãohá respostas que satisfaçam o sujeito lírico. As tentativas de desven<strong>da</strong>r osmistérios <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> jamais se concretizam.Em “Bola de Cristal” (IP, p. 28), o sujeito lírico dialoga com seuinterlocutor:BOLA DE CRISTALSe interrogas o passado,mente o cristal <strong>da</strong> memóriapara tornar-te feliz.<strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong>: a <strong>poesia</strong> <strong>da</strong> <strong>inquietação</strong>Evidencia-se, no texto, a ideia de que viver é um <strong>pr</strong>ojetar-se além <strong>da</strong>sperspectivas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. E não basta buscar o significado <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> na "bola de cristal",muito menos interrogar-se no passado ou no futuro. O importante é viver o tempo<strong>pr</strong>esente. No segundo verso, destaca-se a imagem do "Cristal <strong>da</strong> memória" que écapaz de "mentir" para tornar feliz o questionador. O cristal é símbolo <strong>da</strong>sabedoria, <strong>da</strong> adivinhação e dos poderes misteriosos conferidos ao homem. Suatransparência é exemplo de união dos contrários, pois o cristal, ain<strong>da</strong> quematerial, permite que se veja através dele, como se não fosse material. O cristalre<strong>pr</strong>esenta o plano intermediário entre o visível e o invisível (CHEVALIER;GHEERBRANT, 1991, p. 303).111