Antonio Donizeti <strong>da</strong> Cruz"no tumulto do mundo", o poeta acaba por a<strong>pr</strong>ender "a melodia <strong>da</strong>s palavras/ E ocompasso fe<strong>br</strong>il do coração humano" (p. 30).O sujeito poético na busca de si mesmo, em sua consciência esubjetivi<strong>da</strong>de que bebe a "água viva" <strong>da</strong> fonte interior. A água é símbolo <strong>da</strong>senergias inconscientes, <strong>da</strong>s virtudes informes <strong>da</strong> alma. Ela simboliza a "purezapassiva", pois é meio e lugar de revelação para os poetas que lhe põem sortilégiosa fim de obterem <strong>pr</strong>ofecias. A fonte é considera<strong>da</strong> "uma imagem <strong>da</strong> alma, comoorigem <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> interior e <strong>da</strong> energia espiritual" (CHEVALIER; GHEERBRANT,1991, p. 21).A poeta, ao buscar sua interiori<strong>da</strong>de, em um <strong>pr</strong>imeiro momento, vive o"estado de <strong>poesia</strong>", "inspira<strong>da</strong>", para só depois compor para os homens "a suacanção singular" (p. 30). Após o trabalho do poeta, "os homens" (metáfora de"leitores"), reconhecem "a luz do <strong>pr</strong>ó<strong>pr</strong>io olhar/ E no sonho o <strong>pr</strong>ó<strong>pr</strong>io sonhorefletido". Em “Elogio do poeta”, o fazer poético parece estar ligado aos<strong>pr</strong>ocessos interiores que ocorrem na relação do poeta com a vi<strong>da</strong>. A "cançãosingular" (metáfora de "poema") é a forma eleita para se transmitir a mensagemvital, ou seja, as viagens solitárias e invisíveis, através do diálogo interior. Assim,para a poeta, o poema é a forma de exteriorizar a vi<strong>da</strong> interior. É na solidão e nosilêncio que o poeta organiza a linguagem, transformando-a em instrumento derevelação, isto é, o poema é, no dizer de Paz, “uma revelação de nossa condiçãooriginal" (1982, p. 187).No soneto “Poetas mortos” (MS – VE, p. 158-159), o sujeito líricointerroga-se:POETAS MORTOSNo limiar de mundos ignorados,Onde aportaram suas naves quietas,Relem<strong>br</strong>o a alma sonora dos poetas,A alma sensível dos <strong>pr</strong>edestinados.Onde estarão essas aves inquietas?Que perfeição de céus jamais sonhadosAtrai seu vôo, inspira seus trinados,Que arte sutil cativa esses estetas?Na sen<strong>da</strong> solitária, com certeza,Passaram pelo mundo os trovadoresNum êxtase de sonho ante a beleza.82
Chego a pensar, às vezes, comovi<strong>da</strong>,Que a alma de luz e som dos sonhadoresJamais deixou a terra, o sol e a vi<strong>da</strong>.Os “poetas mortos” são re<strong>pr</strong>esentados pela metáfora "aves inquietas",pois eles, em vi<strong>da</strong>, foram atraídos pela "perfeição de céus jamais sonhados". Nosversos do poema, percebe-se o conflito do sujeito lírico, que sente a efemeri<strong>da</strong>de<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> terrena e, ao mesmo tempo, in<strong>da</strong>ga-se a respeito <strong>da</strong> transcendênciahumana. Os poetas são os seres "<strong>pr</strong>edestinados", solitários, sonhadores emensageiros do mundo transcendente, que ao passarem "pelo mundo", viveramuma vi<strong>da</strong>, "num êxtase de sonho ante a beleza" (p. 158).Em “Pérola” (TS, p. 17), o fazer poético pode ser comparado a um"árduo ofício", que exige labor e perseverança por parte do poeta. A linguagem éartisticamente elabora<strong>da</strong>, metafórica, condensando múltiplos sentidos, em umespaço gráfico mínimo, como se pode constatar nos versos:PÉROLAÁspero grão de sofrimentomolesta a <strong>br</strong>an<strong>da</strong> consistência<strong>da</strong> alma do artista.Verte luar a alma feri<strong>da</strong>e veste a dor de opalescência:gera o poema.O fazer poético, na passagem, parece ser o resultado de <strong>pr</strong>ocessosinteriores do poeta em relação à vi<strong>da</strong>. O poema é gerado a partir de uma "agitaçãointerior" do indivíduo, visto que o "áspero grão do sofrimento" inquieta o poeta.Em “Crise” (TE), o poeta é a<strong>pr</strong>esentado como um ser "imantado",oscilante entre “espelho perturbado” e a “tempestade do mundo”, mostrando quea essência do fazer poético surge como uma ponte entre o eu e o mundo:CRISETroa o temporal.Cresce a voragemfaminta de naufrágios.A rosa dos rumos esfolha-sepelos pontos cardeais.<strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong>: a <strong>poesia</strong> <strong>da</strong> <strong>inquietação</strong>83
- Page 2 and 3:
ANTONIO DONIZETI DA CRUZé professo
- Page 4 and 5:
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO P
- Page 6 and 7:
© 2010, Antonio Donizeti da CruzRe
- Page 9:
AGRADECIMENTOS SEMPREAgradeço ao p
- Page 15:
A alegria maior da vida é colher o
- Page 19:
SIGLAS DOS LIVROS DE HELENA KOLODYP
- Page 23 and 24:
PALAVRAS PRIMEIRASHelena Kolody: a
- Page 25 and 26:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 27 and 28:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 29 and 30:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 31 and 32:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 33 and 34: desenvolvimento da cultura brasilei
- Page 35 and 36: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 37 and 38: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 39 and 40: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 41 and 42: Feita de tortura e fel.Helena Kolod
- Page 43 and 44: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 45 and 46: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 47 and 48: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 49 and 50: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 51 and 52: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 53 and 54: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 55: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 58 and 59: Antonio Donizeti da CruzA única ju
- Page 60 and 61: Antonio Donizeti da Cruzpois, dessa
- Page 62 and 63: Antonio Donizeti da CruzJakobson co
- Page 64 and 65: Antonio Donizeti da Cruz"encantamen
- Page 66 and 67: Antonio Donizeti da Cruzmais difere
- Page 68 and 69: Antonio Donizeti da Cruza imagem co
- Page 71 and 72: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 73 and 74: A comunicabilidade na poesia kolody
- Page 75 and 76: Em “Inquietação”, o sujeito l
- Page 77 and 78: “Exílio” (SR, p. 12) é um exe
- Page 79 and 80: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 81 and 82: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 83: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 87 and 88: significado das palavras, além do
- Page 89 and 90: A poesia de Helena Kolody funda-se
- Page 91 and 92: O poema enquanto presente original
- Page 93 and 94: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 95 and 96: poético. Percebe-se que a linguage
- Page 97 and 98: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 99 and 100: A tanka “Sabedoria” (RE, p. 60)
- Page 101 and 102: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 103 and 104: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 105 and 106: O haicai intitulado “Depois” (R
- Page 107 and 108: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 109 and 110: Pode-se dizer que a "semente" é me
- Page 111 and 112: A longa mão feita de sombraE tira
- Page 113 and 114: Ao calor do interrogar-senuvens ocu
- Page 115 and 116: dando um tom de irregularidade às
- Page 117 and 118: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 119 and 120: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 121 and 122: Lembra, sem o querer, numa impress
- Page 123 and 124: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 125 and 126: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 127 and 128: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 129 and 130: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 131 and 132: CONSIDERAÇÕES FINAISHelena Kolody
- Page 133 and 134: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 135 and 136:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASHelena
- Page 137 and 138:
ATEM, Reinoldo. Panorama da poesia
- Page 139 and 140:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 141 and 142:
JAKOBSON, Roman; POMORSKA, Kristyna
- Page 143:
ANEXOS
- Page 147:
145
- Page 151:
149
- Page 155:
153
- Page 159:
157
- Page 163:
161
- Page 167 and 168:
2PRAÇA RUI BARBOSAQuando a conheci
- Page 169:
3A PRAÇAQuando a conheci, chamava-
- Page 173:
HAIGO171
- Page 177:
175
- Page 181:
179
- Page 185 and 186:
MANEIRAS DE SERHelena KolodyOs que