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Helena Kolody: a poesia da inquietação. - Portugues.seed.pr.gov.br

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3 INQUIETAÇÃO E POESIA<strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong>: a <strong>poesia</strong> <strong>da</strong> <strong>inquietação</strong>A palavra inquietude [sin. ger.: <strong>inquietação</strong>] deriva do Latim tardioinquietudo, inquietus: perturbado. Na I<strong>da</strong>de Média, a inquietude re<strong>pr</strong>esentavaum "estado de não repouso", e no século XVII, um "mal a ser rejeitado". Emsegui<strong>da</strong>, ela passa a ser uma dimensão positiva <strong>da</strong> vontade e do desejo, pois"onde há desejo há inquietude", quer dizer, "solicitações mais ou menosimperceptíveis", "impulsos" que podem levar o homem a tranqüilizar-se,aquietar-se. A inquietude tem um aspecto positivo: "permite ao homemultrapassar-se" (JAPIASSU; MARCONDES, 1991, p. 134).Claude Esteban, em “As palavras <strong>da</strong> <strong>inquietação</strong>”, de sua o<strong>br</strong>a Crítica <strong>da</strong>razão poética (1991), considera a "<strong>inquietação</strong>", no sentido mais estrito dotermo, como uma "solicitação original <strong>da</strong> consciência", uma "agitação" interiordo indivíduo, confrontado sem cessar com a "distância do mundo" e com a"instabili<strong>da</strong>de do domínio que pode nele exercer" (1991, p. 36).Para Esteban, a <strong>inquietação</strong> pode ser compara<strong>da</strong> a uma angústia doindivíduo. A angústia a<strong>pr</strong>esenta-se como uma "forma de aperto, de restrição" e,também de "obturação fisiológica" e agitação <strong>da</strong> consciência diante e contraaquilo que a aflige e a com<strong>pr</strong>ime. Uma clausura na qual o indivíduo colabora. Ohomem <strong>da</strong> angústia é um ser afetado pela "hipertrofia do seu ego" que se iludefrente à com<strong>pr</strong>eensão do mundo.O homem inquieto é, de certa forma, aguilhoado em busca de respostasinacaba<strong>da</strong>s que recebe. E sente um permanente desequilí<strong>br</strong>io entre o eu e omundo, a que ele desejaria, com certeza, pôr fim. Mas ele reconhece, ao mesmotempo, sua impossibili<strong>da</strong>de de satisfação. O que reanima e estimula o homeminquieto, nos momentos de dúvi<strong>da</strong> e desorientação, é o sonho de uma dinâmicare<strong>pr</strong>esenta<strong>da</strong> pelo inacessível. A <strong>inquietação</strong> do homem habita somente oindefinido. Talvez "para além <strong>da</strong> consciência e finitude, o lugar simples <strong>da</strong>des<strong>pr</strong>eocupação" (ESTEBAN, 1991, p. 46).Nesse sentido, a <strong>inquietação</strong> é uma "intencionali<strong>da</strong>de inquieta", e nãouma consciência feliz ou infeliz. Para o crítico espanhol, a <strong>inquietação</strong> não operano registro do ter, o qual gera um espírito de conquista, de poder eentesouramento sem limites. Situa seu devir na dimensão do ser que <strong>pr</strong>oduz umaatitude de apelo ativo, de espera, sem jamais intervir à hipótese de algum<strong>pr</strong>oveito ou restituição imediata.55

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