Antonio Donizeti <strong>da</strong> CruzDo ponto de vista <strong>da</strong> sonori<strong>da</strong>de, são freqüentes as assonâncias ealiterações. Além do paralelismo sintático e semântico, ocorrem assonânciassimilares com as vogais /a/ e /e/. As aliterações nasais /m/ e /n/ são relevantes,assim como a sibilância do /s/. No poema, destaca-se a rima em mosaico "estrela"x "vê-la". As reiterações sonoras dos lexemas "fazem", "nem" e "conseguem"contribuem na manutenção do ritmo cadenciado.A estrela é símbolo "do <strong>pr</strong>incípio <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>", "fonte de luz". Já o "sol", é"fonte" de luz, do calor, <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. O sol é ain<strong>da</strong> símbolo de "inteligência cósmica"e "<strong>da</strong> luz do conhecimento e a fonte de energia" (CHEVALIER;GHEERBRANT, 1991, p. 836-841). Só mesmo "Deus" é capaz de <strong>da</strong>rindistintamente "a todos uma estrela" (p. 23).O poema dístico “sem<strong>pr</strong>e madruga<strong>da</strong>” (SP, p. 45), com suas mínimas<strong>pr</strong>oporções, é plenamente inun<strong>da</strong>do pela luz <strong>da</strong>s estrelas. O <strong>pr</strong>enúncio <strong>da</strong> longamadruga<strong>da</strong> que antecede o nascer do astro-rei é acentuado pelo advérbio“sem<strong>pr</strong>e”, o que determina a infinitude de um período entre a escuridão e a luz dodia. O período de trevas <strong>da</strong> madruga<strong>da</strong> é atenuado pela determinação na busca dosol. A elipse entre as horas do pôr do sol e do início <strong>da</strong> madruga<strong>da</strong> deixa um vazioque será <strong>pr</strong>eenchido na ânsia pelo tempo <strong>da</strong> luz. O eu-lírico declara:SEMPRE MADRUGADAPara quem viaja ao encontro do sol,é sem<strong>pr</strong>e madruga<strong>da</strong>.Através dos versos livres e <strong>da</strong> sonori<strong>da</strong>de, mostra-se a temática <strong>da</strong> buscade realização humana, salienta-se que o ser humano está sem<strong>pr</strong>e em viagem, embusca de um "sol" que o realize. Os versos apontam para a temática <strong>da</strong> realizaçãohumana, pois o homem está sem<strong>pr</strong>e em “viagem”, em busca de um “sol” que orealize, mas não o alcança. O poema dístico revela a tensão de uma buscanecessária e, ao mesmo tempo, as imagens fun<strong>da</strong>doras de sentidos convergempara a relação plena do eu/cosmo. Nos versos do poema, a viagem tem aconotação de busca, pois “viajar ao encontro do sol” é se lançar à <strong>pr</strong>ocura de luz,de vi<strong>da</strong> e do plano transcendente, já que para muitos povos o sol simboliza amanifestação divina. A afirmativa “sem<strong>pr</strong>e madruga<strong>da</strong>” fica no plano <strong>da</strong><strong>pr</strong>omessa e expectativa de realização humana frente ao dia e ao sol que nãochegam e que não são alcançados.Em “Cronos” (PM, p. 42), poema dístico, o sujeito lírico reforça a ideiaex<strong>pr</strong>essa nos versos anteriores:116
<strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong>: a <strong>poesia</strong> <strong>da</strong> <strong>inquietação</strong>CRONOSNão é o tempo que voa.Sou eu que vou devagar.São versos que mostram que o "estar em viagem" é um <strong>pr</strong>ocessotemporal delimitado pelas circunstâncias <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. No afã de conquistar asrealizações humanas, faz-se necessário "a<strong>pr</strong>essar a li<strong>da</strong>".Já no poema “Sem aviso” (AO, p. 25), o sujeito lírico observa o sentidode impermanência frente às vicissitudes <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>:SEM AVISO1988Sem aviso,o vento virauma página <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>São versos que mostram a questão <strong>da</strong> <strong>br</strong>evi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Daí anecessi<strong>da</strong>de de se viver o momento <strong>pr</strong>esente, tendo em vista a “Hora plena” (PM,p. 9), em que a luz atinge plenamente o eu lírico:HORA PLENAHora plena, a do meio-dia.As figuras não <strong>pr</strong>ojetam som<strong>br</strong>as.A luz incide, vertical, nas criaturas.Hora total em que o ser atingea plenitude.<strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong> é a poeta do cotidiano, <strong>da</strong>s reali<strong>da</strong>des simples e comuns,inter<strong>pr</strong>eta<strong>da</strong>s por sua sensibili<strong>da</strong>de e lirismo contagiante e libertador.A <strong>poesia</strong>, essencialmente lírica, com acentos existenciais, transparentes,a<strong>pr</strong>esenta uma construção poética alicerça<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong>s coisas simples ecotidianas. O lirismo é uma forma peculiar de "recorte do mundo" e de "arranjo<strong>da</strong> linguagem".117
- Page 2 and 3:
ANTONIO DONIZETI DA CRUZé professo
- Page 4 and 5:
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO P
- Page 6 and 7:
© 2010, Antonio Donizeti da CruzRe
- Page 9:
AGRADECIMENTOS SEMPREAgradeço ao p
- Page 15:
A alegria maior da vida é colher o
- Page 19:
SIGLAS DOS LIVROS DE HELENA KOLODYP
- Page 23 and 24:
PALAVRAS PRIMEIRASHelena Kolody: a
- Page 25 and 26:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 27 and 28:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 29 and 30:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 31 and 32:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 33 and 34:
desenvolvimento da cultura brasilei
- Page 35 and 36:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 37 and 38:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 39 and 40:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 41 and 42:
Feita de tortura e fel.Helena Kolod
- Page 43 and 44:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 45 and 46:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 47 and 48:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 49 and 50:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 51 and 52:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 53 and 54:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 55:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 58 and 59:
Antonio Donizeti da CruzA única ju
- Page 60 and 61:
Antonio Donizeti da Cruzpois, dessa
- Page 62 and 63:
Antonio Donizeti da CruzJakobson co
- Page 64 and 65:
Antonio Donizeti da Cruz"encantamen
- Page 66 and 67:
Antonio Donizeti da Cruzmais difere
- Page 68 and 69: Antonio Donizeti da Cruza imagem co
- Page 71 and 72: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 73 and 74: A comunicabilidade na poesia kolody
- Page 75 and 76: Em “Inquietação”, o sujeito l
- Page 77 and 78: “Exílio” (SR, p. 12) é um exe
- Page 79 and 80: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 81 and 82: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 83 and 84: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 85 and 86: Chego a pensar, às vezes, comovida
- Page 87 and 88: significado das palavras, além do
- Page 89 and 90: A poesia de Helena Kolody funda-se
- Page 91 and 92: O poema enquanto presente original
- Page 93 and 94: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 95 and 96: poético. Percebe-se que a linguage
- Page 97 and 98: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 99 and 100: A tanka “Sabedoria” (RE, p. 60)
- Page 101 and 102: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 103 and 104: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 105 and 106: O haicai intitulado “Depois” (R
- Page 107 and 108: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 109 and 110: Pode-se dizer que a "semente" é me
- Page 111 and 112: A longa mão feita de sombraE tira
- Page 113 and 114: Ao calor do interrogar-senuvens ocu
- Page 115 and 116: dando um tom de irregularidade às
- Page 117: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 121 and 122: Lembra, sem o querer, numa impress
- Page 123 and 124: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 125 and 126: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 127 and 128: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 129 and 130: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 131 and 132: CONSIDERAÇÕES FINAISHelena Kolody
- Page 133 and 134: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 135 and 136: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASHelena
- Page 137 and 138: ATEM, Reinoldo. Panorama da poesia
- Page 139 and 140: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 141 and 142: JAKOBSON, Roman; POMORSKA, Kristyna
- Page 143: ANEXOS
- Page 147: 145
- Page 151: 149
- Page 155: 153
- Page 159: 157
- Page 163: 161
- Page 167 and 168: 2PRAÇA RUI BARBOSAQuando a conheci
- Page 169:
3A PRAÇAQuando a conheci, chamava-
- Page 173:
HAIGO171
- Page 177:
175
- Page 181:
179
- Page 185 and 186:
MANEIRAS DE SERHelena KolodyOs que