Antonio Donizeti <strong>da</strong> Cruz4.4 Nostalgia: retorno às origensTEMPO DE RECORDARBrilham palavras antigasno ingênuo rio <strong>da</strong> memória.A lágrima <strong>pr</strong>isioneiraorvalha a flor <strong>da</strong> lem<strong>br</strong>ança.<strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong> (TS, p. 35)A <strong>poesia</strong> de <strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong> reside na capaci<strong>da</strong>de de ver o mundo comuma visão peculiar. O evocar e recor<strong>da</strong>r são formas de contemplar o mundo, avi<strong>da</strong>, as coisas. A poeta parte <strong>da</strong> experiência cotidiana e a <strong>pr</strong>ojeta num fluxo deimagens, emoções e pensamentos, num universo lírico sob forma de <strong>poesia</strong>. Oretorno às origens, a (re)visitação <strong>da</strong> infância pelo sujeito lírico, a referência àimigração ucraniana, a nostalgia e a sau<strong>da</strong>de são temas constantes <strong>da</strong> <strong>poesia</strong>kolodyana.Com uma linguagem simples, a poeta comunica o que há na vi<strong>da</strong> de maisbem-humorado, afetivo. Mas também é uma linguagem que leva à reflexão,mostrando o lado trágico que a vi<strong>da</strong> tem, como se pode constatar nos versos dopoema “Atavismo” (PI – VE, p. 182), em que o eu lírico declara:118ATAVISMOQuando estou triste e só, e pensativa assim,É a alma dos ancestrais que sofre e chora em mim.A angústia secular de uma raça o<strong>pr</strong>imi<strong>da</strong>Sobe <strong>da</strong> <strong>pr</strong>ofundeza e turva a minha vi<strong>da</strong>.Certo, guardo latente e difusa em meu ser,A remota lem<strong>br</strong>ança dos dias amargosQue eles viveram sem a ansia<strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de.Eu que amo tanto, tanto, os horizontes largos,Lamento não ser águia ou condor, para voarAté onde a força <strong>da</strong> asa alcance a me levar.Ante a extensão agreste e verde <strong>da</strong> campina,Não sei dizer por que, muitas vezes, sentiSau<strong>da</strong>de singular <strong>da</strong> estepe que não vi.Pois, até o marulhar misterioso e som<strong>br</strong>ioDa água escura a correr seu destino de rio,
Lem<strong>br</strong>a, sem o querer, numa im<strong>pr</strong>essão falaz,O soturno Dni<strong>pr</strong>ó, cantado por Tarás...Por isso é que eu sur<strong>pr</strong>eendo, em alta intensi<strong>da</strong>de,Acor<strong>da</strong><strong>da</strong> em meu sangue, a tara <strong>da</strong> sau<strong>da</strong>de.No texto, o sujeito parece estar im<strong>pr</strong>egnado de nostalgia <strong>da</strong> pátria de seuspais e antepassados. Ele declara uma "sau<strong>da</strong>de singular <strong>da</strong> estepe" que não viu,muitas vezes tomado de lem<strong>br</strong>anças e im<strong>pr</strong>essões do rio, "O soturno Dni<strong>pr</strong>ó,cantando por Tarás..." (p. 183). [O sujeito lírico refere-se à Ucrânia, aomencionar um importante rio <strong>da</strong>quele país, referindo-se também ao poetaucraniano Tarás Chevtchenko. Em Viagem no espelho, <strong>Kolody</strong> modificou onome do rio Dniepér por Dni<strong>pr</strong>ó (nome atual do rio que atravessa a Ucrânia)] Opoema mostra que o sujeito lírico "guar<strong>da</strong> latente" em seu ser "a remotalem<strong>br</strong>ança dos dias amargos", vivido pelo povo ucraniano, "sem a ansia<strong>da</strong>liber<strong>da</strong>de". Nos versos finais do poema, o sujeito lírico é sur<strong>pr</strong>eendido por umaagita<strong>da</strong> nostalgia, que "acor<strong>da</strong>" em seu "sangue, a tara <strong>da</strong> sau<strong>da</strong>de" (p. 182-183).O atavismo também se faz <strong>pr</strong>esente no poema “A voz <strong>da</strong>s raízes”(VE – SR, p. 178):A VOZ DAS RAÍZES<strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong>: a <strong>poesia</strong> <strong>da</strong> <strong>inquietação</strong>Vozes de estanho som se alteiam em meu canto.Vi<strong>br</strong>am-me dentro d'alma almas que não são minhasAtrás de mim, vozeia e tumultua,Anseia e chora, e ri, arqueja e estuaA imensa multidão dos ancestrais,Que me bate e rebate, inexorável,Como o oceano em ressaca açoita o caisNote-se uma certa <strong>inquietação</strong> do eu lírico ao sentir as “vozes deestanhos sons” <strong>pr</strong>esentes em seu “canto”, em sua linguagem-memória e na suaforma de ver a vi<strong>da</strong> e sentir as correspondências entre palavra e memória lírica.Os tênues fios <strong>da</strong> memória formam a rede de palavras em que o sujeito poéticoconstrói seu poema. A memória é o elã, isto é, a “disposição anímica” na qual estáinstaura<strong>da</strong> a base <strong>da</strong>s lem<strong>br</strong>anças e esquecimentos. Memória surgindo comoforma de reavivar as im<strong>pr</strong>essões que parecem “adormeci<strong>da</strong>s”, tendo em vista que“o passado como objeto de narração pertence à memória. O passado como temalírico é um tesouro de recor<strong>da</strong>ção (STAIGER, 1975, p. 55).119
- Page 2 and 3:
ANTONIO DONIZETI DA CRUZé professo
- Page 4 and 5:
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO P
- Page 6 and 7:
© 2010, Antonio Donizeti da CruzRe
- Page 9:
AGRADECIMENTOS SEMPREAgradeço ao p
- Page 15:
A alegria maior da vida é colher o
- Page 19:
SIGLAS DOS LIVROS DE HELENA KOLODYP
- Page 23 and 24:
PALAVRAS PRIMEIRASHelena Kolody: a
- Page 25 and 26:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 27 and 28:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 29 and 30:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 31 and 32:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 33 and 34:
desenvolvimento da cultura brasilei
- Page 35 and 36:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 37 and 38:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 39 and 40:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 41 and 42:
Feita de tortura e fel.Helena Kolod
- Page 43 and 44:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 45 and 46:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 47 and 48:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 49 and 50:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 51 and 52:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 53 and 54:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 55:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 58 and 59:
Antonio Donizeti da CruzA única ju
- Page 60 and 61:
Antonio Donizeti da Cruzpois, dessa
- Page 62 and 63:
Antonio Donizeti da CruzJakobson co
- Page 64 and 65:
Antonio Donizeti da Cruz"encantamen
- Page 66 and 67:
Antonio Donizeti da Cruzmais difere
- Page 68 and 69:
Antonio Donizeti da Cruza imagem co
- Page 71 and 72: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 73 and 74: A comunicabilidade na poesia kolody
- Page 75 and 76: Em “Inquietação”, o sujeito l
- Page 77 and 78: “Exílio” (SR, p. 12) é um exe
- Page 79 and 80: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 81 and 82: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 83 and 84: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 85 and 86: Chego a pensar, às vezes, comovida
- Page 87 and 88: significado das palavras, além do
- Page 89 and 90: A poesia de Helena Kolody funda-se
- Page 91 and 92: O poema enquanto presente original
- Page 93 and 94: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 95 and 96: poético. Percebe-se que a linguage
- Page 97 and 98: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 99 and 100: A tanka “Sabedoria” (RE, p. 60)
- Page 101 and 102: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 103 and 104: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 105 and 106: O haicai intitulado “Depois” (R
- Page 107 and 108: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 109 and 110: Pode-se dizer que a "semente" é me
- Page 111 and 112: A longa mão feita de sombraE tira
- Page 113 and 114: Ao calor do interrogar-senuvens ocu
- Page 115 and 116: dando um tom de irregularidade às
- Page 117 and 118: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 119: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 123 and 124: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 125 and 126: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 127 and 128: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 129 and 130: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 131 and 132: CONSIDERAÇÕES FINAISHelena Kolody
- Page 133 and 134: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 135 and 136: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASHelena
- Page 137 and 138: ATEM, Reinoldo. Panorama da poesia
- Page 139 and 140: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 141 and 142: JAKOBSON, Roman; POMORSKA, Kristyna
- Page 143: ANEXOS
- Page 147: 145
- Page 151: 149
- Page 155: 153
- Page 159: 157
- Page 163: 161
- Page 167 and 168: 2PRAÇA RUI BARBOSAQuando a conheci
- Page 169: 3A PRAÇAQuando a conheci, chamava-
- Page 173:
HAIGO171
- Page 177:
175
- Page 181:
179
- Page 185 and 186:
MANEIRAS DE SERHelena KolodyOs que