Antonio Donizeti <strong>da</strong> CruzO poema “?” (PM, p. 25) é pura interrogação. O título do poema,enquanto "sinal de interrogação", remete à ideia de questionamento, dúvi<strong>da</strong> eincertezas.?Olho o céuatravés <strong>da</strong> vidraçae vejo um ponto negro.No céu?Na vidraça?Em meu olho?Não há respostas às in<strong>da</strong>gações por parte do eu lírico. Nesse sentido, opoema é "a figura <strong>da</strong> <strong>br</strong>evi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> existência" que se depara com tantasdificul<strong>da</strong>des, contratempos e im<strong>pr</strong>evistos para, ao final, "numa interrogação semresposta, ficar a olhar para o infinito que se enche de esperança ou se esvai naquimera <strong>da</strong> incerteza" (CLEMENTE, 1990, p. 14).Em “jovem” (SP, p. 13), o sujeito lírico refere-se aos jovens. A temática<strong>da</strong> resistência, <strong>da</strong> luta e <strong>pr</strong>esença em relação à vi<strong>da</strong>, fazem-se <strong>pr</strong>esentes nosversos <strong>da</strong> <strong>pr</strong>imeira e segun<strong>da</strong> estrofes do poema:JOVEMSuporta o peso do mundo.E resiste.Protesta na <strong>pr</strong>aça.Contesta.Explode em aplausos.Escreve recadosnos muros do tempo.E assina.CompeteNo jogo incerto <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.Existe.Esses versos mostram que viver requer luta, perseverança. O poema écomposto por cinco estrofes polimétricas cujos versos livres diferem na medi<strong>da</strong>,112
<strong>da</strong>ndo um tom de irregulari<strong>da</strong>de às estrofes. Os versos curtos, opondo-se aosversos longos, estabelecem um perfeito equilí<strong>br</strong>io rítmico ao poema fazendocom que ele não se converta em pura <strong>pr</strong>osa. Os enjambements também sedestacam, pois através deles a poeta consegue efeitos rítmicos, sonoros,sugestivos no mais elevado grau de criativi<strong>da</strong>de e engenho poético. O recurso doenjambement <strong>pr</strong>oduz uma dinamização que reforça o ritmo do poema, como nosversos: "compete/ no jogo incerto <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>" (p. 13).O poema “Difícil” (IP, p. 12) mostra que viver é "luta árdua" e requeresforço pleno na batalha cotidiana. O sujeito lírico transmite a ideia de que "viveré <strong>pr</strong>eciso", buscando, no equilí<strong>br</strong>io sonoro, a resposta para a arte de criarpalavras:DIFÍCILCavar na rocha o escurodegrau de ca<strong>da</strong> dia.Sangrar, mas não ceder.Com uma linguagem altamente elabora<strong>da</strong>, por meio do jogo sonoro <strong>da</strong>spalavras, salienta-se a ideia de que a <strong>poesia</strong> é capaz de ensinar ao homem a arte <strong>da</strong>perseverança e <strong>da</strong> luta, em função de sua so<strong>br</strong>evivência. Os verbos no infinitivo:"cavar", "sangrar" e "ceder" indicam dinamismo, além do enjambement.Destaca-se, também, o indício <strong>da</strong> palavra "escuro", no final do <strong>pr</strong>imeiro verso,marcado pela separação do epíteto "escuro" e do determinado "degrau". Osintagma "escuro degrau" é a metáfora de "dificul<strong>da</strong>des" e "obstáculos" <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>cotidiana.A cele<strong>br</strong>ação <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e o canto festivo se fazem <strong>pr</strong>esentes em “Alegria deviver” (AO, p. 23), em que o eu lírico declara:ALEGRIA DE VIVER1987Amo a vi<strong>da</strong>.Fascina-me o mistério de existir.Quero viver a magiade ca<strong>da</strong> instante,em<strong>br</strong>iagar-me de alegria.Que importa a nuvem no horizonte,<strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong>: a <strong>poesia</strong> <strong>da</strong> <strong>inquietação</strong>113
- Page 2 and 3:
ANTONIO DONIZETI DA CRUZé professo
- Page 4 and 5:
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO P
- Page 6 and 7:
© 2010, Antonio Donizeti da CruzRe
- Page 9:
AGRADECIMENTOS SEMPREAgradeço ao p
- Page 15:
A alegria maior da vida é colher o
- Page 19:
SIGLAS DOS LIVROS DE HELENA KOLODYP
- Page 23 and 24:
PALAVRAS PRIMEIRASHelena Kolody: a
- Page 25 and 26:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 27 and 28:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 29 and 30:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 31 and 32:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 33 and 34:
desenvolvimento da cultura brasilei
- Page 35 and 36:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 37 and 38:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 39 and 40:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 41 and 42:
Feita de tortura e fel.Helena Kolod
- Page 43 and 44:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 45 and 46:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 47 and 48:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 49 and 50:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 51 and 52:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 53 and 54:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 55:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 58 and 59:
Antonio Donizeti da CruzA única ju
- Page 60 and 61:
Antonio Donizeti da Cruzpois, dessa
- Page 62 and 63:
Antonio Donizeti da CruzJakobson co
- Page 64 and 65: Antonio Donizeti da Cruz"encantamen
- Page 66 and 67: Antonio Donizeti da Cruzmais difere
- Page 68 and 69: Antonio Donizeti da Cruza imagem co
- Page 71 and 72: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 73 and 74: A comunicabilidade na poesia kolody
- Page 75 and 76: Em “Inquietação”, o sujeito l
- Page 77 and 78: “Exílio” (SR, p. 12) é um exe
- Page 79 and 80: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 81 and 82: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 83 and 84: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 85 and 86: Chego a pensar, às vezes, comovida
- Page 87 and 88: significado das palavras, além do
- Page 89 and 90: A poesia de Helena Kolody funda-se
- Page 91 and 92: O poema enquanto presente original
- Page 93 and 94: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 95 and 96: poético. Percebe-se que a linguage
- Page 97 and 98: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 99 and 100: A tanka “Sabedoria” (RE, p. 60)
- Page 101 and 102: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 103 and 104: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 105 and 106: O haicai intitulado “Depois” (R
- Page 107 and 108: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 109 and 110: Pode-se dizer que a "semente" é me
- Page 111 and 112: A longa mão feita de sombraE tira
- Page 113: Ao calor do interrogar-senuvens ocu
- Page 117 and 118: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 119 and 120: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 121 and 122: Lembra, sem o querer, numa impress
- Page 123 and 124: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 125 and 126: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 127 and 128: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 129 and 130: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 131 and 132: CONSIDERAÇÕES FINAISHelena Kolody
- Page 133 and 134: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 135 and 136: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASHelena
- Page 137 and 138: ATEM, Reinoldo. Panorama da poesia
- Page 139 and 140: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 141 and 142: JAKOBSON, Roman; POMORSKA, Kristyna
- Page 143: ANEXOS
- Page 147: 145
- Page 151: 149
- Page 155: 153
- Page 159: 157
- Page 163: 161
- Page 167 and 168:
2PRAÇA RUI BARBOSAQuando a conheci
- Page 169:
3A PRAÇAQuando a conheci, chamava-
- Page 173:
HAIGO171
- Page 177:
175
- Page 181:
179
- Page 185 and 186:
MANEIRAS DE SERHelena KolodyOs que