Antonio Donizeti <strong>da</strong> Cruz4.1 Inquietação: signo e comunicação linguísticaDesde Paisagem interior (1941), livro que marca a estréia de <strong>Helena</strong><strong>Kolody</strong> no cenário literário, até Reika (1993), a autora evolui e consoli<strong>da</strong> odomínio dos recursos formais <strong>da</strong> arte poética, conseguindo em suas o<strong>br</strong>as umasíntese relevante, no que se refere ao fazer poético. <strong>Kolody</strong>, com Paisageminterior, inaugura o apogeu ex<strong>pr</strong>essivo, pela plenitude do coloquial-<strong>pr</strong>osaísmo,pelos versos livres, pelo ritmo bem marcado (fator singular na <strong>poesia</strong>kolodyana), perfeito jogo sonoro. Por detrás de to<strong>da</strong> uma aparente simplici<strong>da</strong>dede construção poética, há uma riqueza do fazer poético sem limites.A o<strong>br</strong>a kolodyana é marca<strong>da</strong> por uma engenhosa elaboração poética,<strong>da</strong>ndo ênfase à liber<strong>da</strong>de de ex<strong>pr</strong>essão, desde a su<strong>pr</strong>essão de palavras dentro <strong>da</strong>estrutura do poema, à omissão ou substituição de sinais de pontuação. Nos versoslivres – que não significam ausência de ritmo – a autora dá uma organici<strong>da</strong>de aoato criativo, conseguindo ritmos inesperados a ca<strong>da</strong> momento, pois a uni<strong>da</strong>de demedi<strong>da</strong> deixa de ser a silábica e passa a basear-se na combinação de pausas eentoações.O ritmo decorre, assim, <strong>da</strong> sucessão dos grupos de força valorizados pelaentonação, pela maior ou menor rapidez <strong>da</strong> enunciação. O verso livre kolodyanoé, antes de tudo, uma sábia melodia interior, tanto mais tocante quanto singela,em que o sujeito poético tenta desven<strong>da</strong>r os mistérios <strong>da</strong> arte e <strong>da</strong> <strong>poesia</strong>.A o<strong>br</strong>a kolodyana pode ser vista como hí<strong>br</strong>i<strong>da</strong>, nutri<strong>da</strong> de heterodoxagama de temas, de formas e de <strong>pr</strong>oblemas. Na composição poética, a autora dáum sentido inusitado à arte e à <strong>poesia</strong>, pois sua poética renova-seconstantemente, numa variabili<strong>da</strong>de de invenções, numa luta e combate com aspalavras de forma original. Sua o<strong>br</strong>a é um "todo orgânico", ou seja, "uma uni<strong>da</strong>deorgânica, irrepetível", um organismo vivo, um cosmo com suas <strong>pr</strong>ó<strong>pr</strong>ias leis,com um centro, uma esfera e um espaço intermediário pleno de vi<strong>da</strong> ativa(MARTIN, 1973, p. 49).70
A comunicabili<strong>da</strong>de na <strong>poesia</strong> kolodyana é essencialmente lírica, esur<strong>pr</strong>eende o leitor, quer pela intensi<strong>da</strong>de de conscientização por parte do sujeitolírico, quer pelo jogo de imagens, metáforas, palavras e versos portadores de ummundo de sentido em que o sujeito poético tenta dessacralizar as coisas, ascircunstâncias.A <strong>poesia</strong> kolodyana parece surgir como uma espécie de tradução <strong>da</strong>instabili<strong>da</strong>de interior <strong>pr</strong>ovoca<strong>da</strong> pelo desequilí<strong>br</strong>io do mundo exterior. Aopenetrar no “coração <strong>da</strong> linguagem”, <strong>Helena</strong> faz <strong>da</strong> palavra seu instrumento,a<strong>br</strong>indo, assim, múltiplas possibili<strong>da</strong>des internas <strong>da</strong> linguagem (a sonori<strong>da</strong>de, oritmo, a ambigüi<strong>da</strong>de de sentidos, as associações criativas, a organização inéditade imagens, as variações temáticas, as alegorias e símbolos), abandonandoregras e modelos, fazendo expandir seu lirismo subjetivo, inquietante. Como nosversos as seguir [<strong>da</strong> epígrafe], com fortes acentos <strong>da</strong>s palavras <strong>da</strong> <strong>inquietação</strong>:INQUIETAÇÃO DE VIVER1º versão:Inquietação de singrar,com o pulso firme no leme,os mares encapelados<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.2ª versão:Inquietação de singrar,com fascinado temor,os mares desconhecidosdesta vi<strong>da</strong>.<strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong>: a <strong>poesia</strong> <strong>da</strong> <strong>inquietação</strong>No texto poético, observa-se uma luta incessante do eu lírico ao <strong>pr</strong>ojetarpalavras relaciona<strong>da</strong>s ao ato de singrar os “mares <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>”, para atingir um estadooriginal ao se situar frente às vicissitudes de vi<strong>da</strong> e <strong>da</strong> “<strong>inquietação</strong> de viver”.Essa luta constante do sujeito poético com as palavras é sinônimo de <strong>pr</strong>ocura ein<strong>da</strong>gação, na tentativa de refratar o ser humano como potenciali<strong>da</strong>de,transcendência e plenitude que fascina e tortura o sujeito lírico. A <strong>poesia</strong> reflete aânsia do ser e, ao mesmo tempo busca um <strong>pr</strong>eenchimento de paz,reconhecimento, poder e abandono. Se, para Octavio Paz, a <strong>poesia</strong> émetamorfose, mu<strong>da</strong>nça, operação alquímica (1982, p. 137), em <strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong>,a <strong>poesia</strong> opera como exercício e método de libertação interior, de luta, resistênciae revelação <strong>da</strong> condição humana.71
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASHelena
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ATEM, Reinoldo. Panorama da poesia
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JAKOBSON, Roman; POMORSKA, Kristyna
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