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Helena Kolody: a poesia da inquietação. - Portugues.seed.pr.gov.br

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Antonio Donizeti <strong>da</strong> Cruzleitor ou do espectador. [...] Seu ver<strong>da</strong>deiro nome éconsciência <strong>da</strong> fragili<strong>da</strong>de e <strong>pr</strong>ecarie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> existência,consciência <strong>da</strong>quele que se sabe suspenso entre um abismoe outro. A arte japonesa, em seus momentos mais tensos etransparentes, revela esses instantes – porque são só uminstante – de equilí<strong>br</strong>io entre a vi<strong>da</strong> e a morte. Vivaci<strong>da</strong>de:mortali<strong>da</strong>de". (PAZ, 1991, p. 198).Há, segundo Octavio Paz, na ex<strong>pr</strong>essão e forma <strong>da</strong> <strong>poesia</strong> japonesa(tankas e haicais), “um modelo de concentração verbal, uma construção deextraordinária simplici<strong>da</strong>de feita de uma poucas linhas e uma plurali<strong>da</strong>de dereflexos e alusões (Paz, 1991, p. 210). Essa simplici<strong>da</strong>de (ilusória consoantePaz), a<strong>pr</strong>esenta-se pelo fato de em poucas palavras o poeta conseguir ex<strong>pr</strong>essar omáximo de sentido em um espaço gráfico mínimo, repleta de lirismo eobservação atenta do poeta em relação à natureza e ao mundo, pode ser vistacomo uma experiência poética altamente elabora<strong>da</strong> na lírica de <strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong>.O poema haicai “Pereira em flor” (MS, p. 17), elogiado por CarlosDrummond de Andrade, é um exemplo concreto do sintetismo e lirismokolodyano. O sujeito poético afirma:PEREIRA EM FLORDe grinal<strong>da</strong> <strong>br</strong>anca,To<strong>da</strong> vesti<strong>da</strong> de luar,A pereira sonha.No poema ocorre uma personificação <strong>da</strong> pereira. As imagens sãosingulares. A flor <strong>da</strong> pereira é símbolo do caráter efêmero <strong>da</strong> existência. Arespeito do haicai “Pereira em flor”, <strong>Helena</strong> relata de que forma surgiu o poema:Eu morava na Rua Carlos de Carvalho. Uma noite, ao sair<strong>da</strong> casa de uma amiga, dei com aquela pereiracompletamente floresci<strong>da</strong>, banha<strong>da</strong> pela luz <strong>da</strong> lua cheia. Abeleza do quadro foi um impacto na minha sensibili<strong>da</strong>de.Fiz o poema bem mais tarde. Associei a pereira com umanoiva: a noiva to<strong>da</strong> vesti<strong>da</strong> de <strong>br</strong>anco, sonhando, como apereira ao luar (1986, p. 22).<strong>Helena</strong> acredita que as im<strong>pr</strong>essões a<strong>pr</strong>eendi<strong>da</strong>s vão se acumulando emseu inconsciente e elaborando uma espécie de húmus, no qual se misturamim<strong>pr</strong>essões de muitos tempos, e desse húmus <strong>br</strong>ota o poema. Nesse sentido, o94

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