Antonio Donizeti <strong>da</strong> CruzMIRAGEMMeu amor por você foi só reflexoDuma ternura imensa re<strong>pr</strong>esa<strong>da</strong>.De coração ingênuo e alma apaixona<strong>da</strong>,Fiz do meu <strong>pr</strong>ó<strong>pr</strong>io sonho um fantasma de amor.No texto, o amor re<strong>pr</strong>esenta um limite inusitado <strong>da</strong> idealização e dodesejo do eu lírico, contrapondo-se a uma <strong>inquietação</strong> <strong>da</strong> "alma apaixona<strong>da</strong>". Arealização amorosa fica só em nível de <strong>pr</strong>ojeção, num misto de desejo ereali<strong>da</strong>de, impossibilita<strong>da</strong> por não atingir a concretude do amor, que não sematerializa.A <strong>poesia</strong> de <strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong>, ao tratar <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> cotidiana, deixa marcas deum lirismo que reflete os conflitos, as alegrias, as frustrações do ser humano,sedento de realizações. A <strong>poesia</strong> trata <strong>da</strong>s coisas sagra<strong>da</strong>s e <strong>pr</strong>ofanas, <strong>da</strong>ambigüi<strong>da</strong>de que reside nas coisas e nos seres. To<strong>da</strong>s essas coisas sãoa<strong>pr</strong>esenta<strong>da</strong>s nos poemas com o cui<strong>da</strong>do formal de quem necessita de palavras eimagens <strong>pr</strong>ecisas, em versos livres, rimados ou não, mas que transmitem umacarga semântica e sintática muito bem estrutura<strong>da</strong>.Em “transeuntes” (SP, p. 8), o efêmero e o eterno cruzam-se numa redede sentidos. Os versos do poema direcionam à atitude inquieta do Eu poético, queanseia por atingir o mundo transcendente:TRANSEUNTESTranseuntes<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>pr</strong>ovisória:que rumor de asas eternaspara além <strong>da</strong>s fronteiras e dos símbolos!Nos versos do poema percebe-se que o ser humano vive uma "vi<strong>da</strong><strong>pr</strong>ovisória", ou seja, tratam <strong>da</strong> <strong>br</strong>evi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> humana. Pode-se dizer que apoeta alicerça a construção de uma lírica pessoal, através de um Eu poético quese caracteriza pelo desejo de realizações e buscas.A tônica do amor sublimado é uma constante na <strong>poesia</strong> kolodyana. Em“As o<strong>br</strong>as de misericórdia” (PI – VE), a poeta tece o poema escolhendo aspalavras como um pintor que escolhe cui<strong>da</strong>dosamente as cores, as imagens eformas, <strong>da</strong>ndo realce à <strong>pr</strong>oblemática social: o amor para com os "irmãos100
<strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong>: a <strong>poesia</strong> <strong>da</strong> <strong>inquietação</strong>pequeninos", dos que "Trazem o coração sangrando/ E sangrando o pensamento"(p. 189-190). O sujeito lírico se com<strong>pr</strong>az com a dor e o abandono <strong>da</strong>s criançasdesampara<strong>da</strong>s, de "rostos tristes", de "pés cansados" e "mãos vazias"; e é capazde um gesto de afeto, ao afirmar: "Aqueci no aconchego de meu carinho/ A almatriste <strong>da</strong>s crianças descalças" (p. 190).No referido texto, o amor aparece como sublimação, desejo de aju<strong>da</strong> porparte do sujeito lírico a seus semelhantes, de "existências ignora<strong>da</strong>s:/ olhos defome, olhos de fe<strong>br</strong>e, olhos de angústia,/ olhos ermos e indiferentes". O sujeitolírico "a<strong>br</strong>aseia-se" na ânsia de aju<strong>da</strong>r, "na ternura de querer, o ardor de consolar"(p.190). Percebe-se no texto, o conflito em que se debate o sujeito lírico,dominado pela consciência <strong>da</strong> necessária soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de para com os outros sereshumanos. O amor emerge como uma força sublime em que o sujeito líricoidentifica-se com os pequenos, os desamparados e despossuídos, em virtude <strong>da</strong>magnificação <strong>da</strong> dor de existir, afligindo-os para além de seu poder deresistência. Nesse sentido, a <strong>poesia</strong> de <strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong> é consciência <strong>da</strong>transitorie<strong>da</strong>de do ser e, ao mesmo tempo, aponta para os descaminhos sociais.Em Exílio (VB – VE, p. 114), percebe-se por parte do sujeito lírico, osentimento de incapaci<strong>da</strong>de em mu<strong>da</strong>r as circunstâncias existenciais e anecessi<strong>da</strong>de de aceitação de condições, por serem etapas a percorrer no <strong>pr</strong>ocessoevolutivo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> humana.EXÍLIOSomos tão estrangeiros nesta vi<strong>da</strong>!Vivemos doloridos e insatisfeitos.Há sem<strong>pr</strong>e uma farpaCrava<strong>da</strong> num nervo sensível.Em tudo, uma ausência,Um travo de imperfeição.O poema é composto por duas estrofes irregulares. A <strong>pr</strong>imeira é ummonóstico, em que o sujeito lírico declara: "Somos tão estrangeiros nesta vi<strong>da</strong>!"(p. 114). Já de início, salienta-se a questão do exílio e <strong>da</strong> <strong>br</strong>evi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Olexema "estrangeiros" denota uma carga semântica altamente significativa: aimpermanência.Na segun<strong>da</strong> estrofe, percebe-se a insatisfação e o sofrimento, em que sedepara o eu lírico, ao afirmar: "Vivemos doloridos e insatisfeitos./ Em tudo,101
- Page 2 and 3:
ANTONIO DONIZETI DA CRUZé professo
- Page 4 and 5:
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO P
- Page 6 and 7:
© 2010, Antonio Donizeti da CruzRe
- Page 9:
AGRADECIMENTOS SEMPREAgradeço ao p
- Page 15:
A alegria maior da vida é colher o
- Page 19:
SIGLAS DOS LIVROS DE HELENA KOLODYP
- Page 23 and 24:
PALAVRAS PRIMEIRASHelena Kolody: a
- Page 25 and 26:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 27 and 28:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 29 and 30:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 31 and 32:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 33 and 34:
desenvolvimento da cultura brasilei
- Page 35 and 36:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 37 and 38:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 39 and 40:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 41 and 42:
Feita de tortura e fel.Helena Kolod
- Page 43 and 44:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 45 and 46:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 47 and 48:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 49 and 50:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 51 and 52: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 53 and 54: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 55: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 58 and 59: Antonio Donizeti da CruzA única ju
- Page 60 and 61: Antonio Donizeti da Cruzpois, dessa
- Page 62 and 63: Antonio Donizeti da CruzJakobson co
- Page 64 and 65: Antonio Donizeti da Cruz"encantamen
- Page 66 and 67: Antonio Donizeti da Cruzmais difere
- Page 68 and 69: Antonio Donizeti da Cruza imagem co
- Page 71 and 72: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 73 and 74: A comunicabilidade na poesia kolody
- Page 75 and 76: Em “Inquietação”, o sujeito l
- Page 77 and 78: “Exílio” (SR, p. 12) é um exe
- Page 79 and 80: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 81 and 82: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 83 and 84: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 85 and 86: Chego a pensar, às vezes, comovida
- Page 87 and 88: significado das palavras, além do
- Page 89 and 90: A poesia de Helena Kolody funda-se
- Page 91 and 92: O poema enquanto presente original
- Page 93 and 94: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 95 and 96: poético. Percebe-se que a linguage
- Page 97 and 98: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 99 and 100: A tanka “Sabedoria” (RE, p. 60)
- Page 101: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 105 and 106: O haicai intitulado “Depois” (R
- Page 107 and 108: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 109 and 110: Pode-se dizer que a "semente" é me
- Page 111 and 112: A longa mão feita de sombraE tira
- Page 113 and 114: Ao calor do interrogar-senuvens ocu
- Page 115 and 116: dando um tom de irregularidade às
- Page 117 and 118: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 119 and 120: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 121 and 122: Lembra, sem o querer, numa impress
- Page 123 and 124: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 125 and 126: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 127 and 128: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 129 and 130: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 131 and 132: CONSIDERAÇÕES FINAISHelena Kolody
- Page 133 and 134: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 135 and 136: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASHelena
- Page 137 and 138: ATEM, Reinoldo. Panorama da poesia
- Page 139 and 140: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 141 and 142: JAKOBSON, Roman; POMORSKA, Kristyna
- Page 143: ANEXOS
- Page 147: 145
- Page 151: 149
- Page 155:
153
- Page 159:
157
- Page 163:
161
- Page 167 and 168:
2PRAÇA RUI BARBOSAQuando a conheci
- Page 169:
3A PRAÇAQuando a conheci, chamava-
- Page 173:
HAIGO171
- Page 177:
175
- Page 181:
179
- Page 185 and 186:
MANEIRAS DE SERHelena KolodyOs que