Antonio Donizeti <strong>da</strong> Cruzidentifica-se com uma certa <strong>pr</strong>oblemática recorrente na <strong>poesia</strong> contemporânea:a busca de criação de uma <strong>poesia</strong> so<strong>br</strong>e a <strong>poesia</strong>, a tentativa de elaboração de umapoética ca<strong>da</strong> vez mais lúci<strong>da</strong> de si e capaz de revelar o poder <strong>da</strong>s palavras.Em “Rodeio” (IP, p. 49), poema dístico, percebe-se a luta constante dosujeito lírico com as palavras, como se observa:RODEIOTravo um combate sem tréguascom palavras indomáveis.Na luta com as palavras, fazer <strong>poesia</strong> é uma tarefa árdua, uma vez que aspalavras resistem à modelação que tem por objetivo transformá-las de "pedra<strong>br</strong>uta" em "diamante". Nota-se que a <strong>poesia</strong> pode ser considera<strong>da</strong> como uma"<strong>inquietação</strong> de um ofício", cuja tarefa requer, por parte do sujeito poético, umaluta incessante com as palavras. Ao mesmo tempo, ex<strong>pr</strong>essa uma intenção dehumano que se dedica "sem tréguas" em seu ofício, num labor inquieto perante ofazer poético. Se, para Octavio Paz, o que caracteriza o poema é sua necessáriadependência de palavra tanto como sua luta por transcendê-la (1982, p. 225), em<strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong>, o poema, “ser de palavras”, ex<strong>pr</strong>essa uma experiência concreta,de busca de liber<strong>da</strong>de e revelação humana.Os poemas, na lírica kolodyana, parecem surgir de uma <strong>inquietação</strong>interior, <strong>da</strong> luta constante com as palavras, a que todos os poetas estãosubmetidos, tal como diz Carlos Drummond de Andrade: “Lutar com palavras/ éluta mais vã./ Entanto lutamos/ mal rompe a manhã” (ANDRADE, 1984, p. 255-258). As palavras têm o poder de cristalizar o momento nascente de um <strong>pr</strong>ojetoestético, no qual a atitude do poeta é a de combate, de luta com as palavras<strong>pr</strong>ecisas, ou seja, não há hora demarca<strong>da</strong> para se travar a luta corporal, como dizDrummond. São versos que a<strong>pr</strong>esentam uma elaboração do fazer poéticocentrado no poder <strong>da</strong>s palavras e na concentração verbal, concretiza<strong>da</strong> na formade reinvenção <strong>da</strong> linguagem e do mundo. Mesmo que a luta com as palavraspossa parecer vã, o poeta edifica sua experiência poética mediante o poder decristalização dos instantes nascentes do poema tendo em vista o <strong>pr</strong>ojeto poético,com sua atitude de luta e combate com as palavras <strong>pr</strong>ecisas, travando, assim, asua luta corporal com as palavras.O haicai “Alquimia” (RE, p. 25) – e com seu caráter ideográficoexpandido: 5-7-5 sílabas aliterativas e assonantes – mostra que a <strong>poesia</strong> pode serpura alquimia:80
<strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong>: a <strong>poesia</strong> <strong>da</strong> <strong>inquietação</strong>ALQUIMIANas mãos inspira<strong>da</strong>snascem antigas palavrascom novo matiz.O poeta, inventor de formas e sentidos, é capaz de transformar empalavra "tudo o que toca". As palavras "antigas" são lapi<strong>da</strong><strong>da</strong>s pelas "mãosinspira<strong>da</strong>s" do sujeito lírico. O torneio coloquial e semântico aponta para o poderde nomeação <strong>da</strong> linguagem. A poeta é capaz de síntese perfeita, baseando-se nojogo de palavras e no seu poder de revelação, pois seu texto convi<strong>da</strong> àparticipação do leitor, com alto grau de comunicabili<strong>da</strong>de.Em “Elogio do poeta” (PI – VE, p. 30), a ideia de inspiração é associa<strong>da</strong>ao fazer poético, ou seja, ao trabalho que o escritor realiza, cuja tarefa consisteem fazer com que as palavras pesa<strong>da</strong>s e escuras tornem-se luminosas e ala<strong>da</strong>s:ELOGIO DO POETAAlvorecia a vi<strong>da</strong>E o céu <strong>da</strong> madruga<strong>da</strong> in<strong>da</strong> floria estrelas,Quando o poeta sentiu pulsar, indefini<strong>da</strong>,A <strong>pr</strong>ó<strong>pr</strong>ia inspiração.Im<strong>pr</strong>egnou seu olhar do mistério <strong>da</strong>s som<strong>br</strong>asE os olhos embebeu <strong>da</strong> clari<strong>da</strong>de astral.Penetrou o <strong>pr</strong>ofundo ignoto de si mesmoE bebeu água viva, emanação pereneDa fonte interior.Só então compôs para os homensA sua canção singular.Quando os homens viram os olhos do poeta,Acharam em sua luz a luz do <strong>pr</strong>ó<strong>pr</strong>io olharE no seu sonho o <strong>pr</strong>ó<strong>pr</strong>io sonho refletido.No ritmo do seu verso, então, reconheceramA canção que cantariam, se soubessem cantar.A "<strong>inquietação</strong>" é defini<strong>da</strong> pelo sujeito poético como uma "clari<strong>da</strong>deastral", um "pulsar" indefinido. O poeta sente-se im<strong>pr</strong>egnado ao olhar "domistério <strong>da</strong>s som<strong>br</strong>as". A figura do poeta que busca as respostas cifra<strong>da</strong>s em seumundo interior contrasta com as turbulências do mundo exterior. Ao mergulhar81
- Page 2 and 3:
ANTONIO DONIZETI DA CRUZé professo
- Page 4 and 5:
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO P
- Page 6 and 7:
© 2010, Antonio Donizeti da CruzRe
- Page 9:
AGRADECIMENTOS SEMPREAgradeço ao p
- Page 15:
A alegria maior da vida é colher o
- Page 19:
SIGLAS DOS LIVROS DE HELENA KOLODYP
- Page 23 and 24:
PALAVRAS PRIMEIRASHelena Kolody: a
- Page 25 and 26:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 27 and 28:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 29 and 30:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 31 and 32: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 33 and 34: desenvolvimento da cultura brasilei
- Page 35 and 36: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 37 and 38: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 39 and 40: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 41 and 42: Feita de tortura e fel.Helena Kolod
- Page 43 and 44: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 45 and 46: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 47 and 48: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 49 and 50: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 51 and 52: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 53 and 54: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 55: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 58 and 59: Antonio Donizeti da CruzA única ju
- Page 60 and 61: Antonio Donizeti da Cruzpois, dessa
- Page 62 and 63: Antonio Donizeti da CruzJakobson co
- Page 64 and 65: Antonio Donizeti da Cruz"encantamen
- Page 66 and 67: Antonio Donizeti da Cruzmais difere
- Page 68 and 69: Antonio Donizeti da Cruza imagem co
- Page 71 and 72: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 73 and 74: A comunicabilidade na poesia kolody
- Page 75 and 76: Em “Inquietação”, o sujeito l
- Page 77 and 78: “Exílio” (SR, p. 12) é um exe
- Page 79 and 80: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 81: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 85 and 86: Chego a pensar, às vezes, comovida
- Page 87 and 88: significado das palavras, além do
- Page 89 and 90: A poesia de Helena Kolody funda-se
- Page 91 and 92: O poema enquanto presente original
- Page 93 and 94: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 95 and 96: poético. Percebe-se que a linguage
- Page 97 and 98: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 99 and 100: A tanka “Sabedoria” (RE, p. 60)
- Page 101 and 102: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 103 and 104: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 105 and 106: O haicai intitulado “Depois” (R
- Page 107 and 108: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 109 and 110: Pode-se dizer que a "semente" é me
- Page 111 and 112: A longa mão feita de sombraE tira
- Page 113 and 114: Ao calor do interrogar-senuvens ocu
- Page 115 and 116: dando um tom de irregularidade às
- Page 117 and 118: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 119 and 120: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 121 and 122: Lembra, sem o querer, numa impress
- Page 123 and 124: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 125 and 126: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 127 and 128: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 129 and 130: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 131 and 132: CONSIDERAÇÕES FINAISHelena Kolody
- Page 133 and 134:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 135 and 136:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASHelena
- Page 137 and 138:
ATEM, Reinoldo. Panorama da poesia
- Page 139 and 140:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 141 and 142:
JAKOBSON, Roman; POMORSKA, Kristyna
- Page 143:
ANEXOS
- Page 147:
145
- Page 151:
149
- Page 155:
153
- Page 159:
157
- Page 163:
161
- Page 167 and 168:
2PRAÇA RUI BARBOSAQuando a conheci
- Page 169:
3A PRAÇAQuando a conheci, chamava-
- Page 173:
HAIGO171
- Page 177:
175
- Page 181:
179
- Page 185 and 186:
MANEIRAS DE SERHelena KolodyOs que