Antonio Donizeti <strong>da</strong> CruzEm “Saga” (IP, p. 45-46), o sujeito lírico revela sua origem ucraniana,situando-se como descendente de imigrantes, junto a seus ancestrais. Destaca-se,porém um amor especial pela terra onde vive, o Brasil:SAGANo fluir secreto <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>,atravessei os milênios.Vim dos vikings navegantes,cujas naus aventureirastraçaram rotas nos mapas.Ousados conquistadores,fun<strong>da</strong>ram Kiev antiga,plantando um marco na históriade meus ancestrais.Vim <strong>da</strong> Ucrânia valorora,que foi Russ e foi Rutênia.Povo indomável, não calaa sua voz sem algemas.Vim <strong>da</strong>s levas imigrantesque trouxeram na equipagema coragem e a esperança.Em sua luta sofri<strong>da</strong>,correu no rosto cansado,com o suor do trabalho,o quieto <strong>pr</strong>anto saudoso.Vim de meu berço selvagem,lar singelo à beira d'água,no sertão paranaense.Milhares de passarinhosme acor<strong>da</strong>vam nas <strong>pr</strong>imeirasmadruga<strong>da</strong>s <strong>da</strong> existência.Feliz menina descalça,vim <strong>da</strong>s cantigas de ro<strong>da</strong>,dos jogos <strong>da</strong> amarelinha,do tempo do “era uma vez...”Por fim ancorei para sem<strong>pr</strong>eem teu coração planaltino,Curitiba, meu amor!O poema é composto por oito estrofes em versos livres que diferem namedi<strong>da</strong> <strong>da</strong>ndo um tom de irregulari<strong>da</strong>de ao todo, podendo-se verificar uma sériede <strong>pr</strong>ocedimentos que identificam o <strong>pr</strong>edomínio do ritmo como elementofun<strong>da</strong>dor do poema. Em “Saga”, apesar de sua estrutura assimétrica, há muitasequivalências que lhe dão um caráter singular, fazendo-se <strong>pr</strong>esente os recursosrítmicos de associações dos <strong>pr</strong>ocessos reiterativos, e de enumeração. As estrofessegun<strong>da</strong>, terceira, quarta e sexta são inicia<strong>da</strong>s pelo lexema "vim". Também,nesses versos iniciais dessas estrofes ocorre paralelismo sintático e semântico.Na <strong>pr</strong>imeira estrofe do poema, o sujeito lírico afirma: "No fluir secreto <strong>da</strong>vi<strong>da</strong> / atravessei os milênios" (p. 65). Os versos remetem à segun<strong>da</strong> estrofe, quemostra a origem e fun<strong>da</strong>ção de Kiev. O sujeito lírico salienta: "Vim dos vikingsnavegantes" (p. 65), que fun<strong>da</strong>ram "Kiev antiga", e "plantaram um marco nahistória" de seus ancestrais. Os vikings foram um dos <strong>pr</strong>imeiros conquistadores <strong>da</strong>sterras que no futuro viriam a ser a Ucrânia. Na terceira estrofe, o sujeito lírico alude120
<strong>Helena</strong> <strong>Kolody</strong>: a <strong>poesia</strong> <strong>da</strong> <strong>inquietação</strong>à formação do Estado ucraniano: "Vim <strong>da</strong> Ucrânia valorosa, / que foi Russ e foiRutênia" (p. 65). E ain<strong>da</strong> caracteriza o povo ucraniano com o adjetivo "indomável",pois ele "não cala/ sua voz sem algemas" (p. 65).Na quarta estrofe, ain<strong>da</strong> de “Saga”, o sujeito refere-se aos seusantepassados, e imigrantes já em terras imigra<strong>da</strong>s: "Vim <strong>da</strong>s levas imigrantes",que trouxeram na bagagem "a coragem e a esperança". Salienta-se ain<strong>da</strong> a lutasofri<strong>da</strong> pelos imigrantes, pois em seu rosto correu "o suor do trabalho" e tambémo "<strong>pr</strong>anto saudoso", ou seja, a sau<strong>da</strong>de <strong>da</strong> terra natal e <strong>da</strong> pátria distante. Na sextaestrofe, o sujeito lírico refere-se à sua terra natal: "Vim do meu berço selvagem","lar singelo", no "sertão paranaense". Em relação a sua <strong>pr</strong>imeira infância, osujeito lírico relem<strong>br</strong>a saudoso: "Milhares de passarinhos/ me acor<strong>da</strong>vam nas<strong>pr</strong>imeiras/ madruga<strong>da</strong>s <strong>da</strong> existência" (p. 65).Na sétima estrofe, o eu lírico feminino situa-se no tempo e recor<strong>da</strong> comfelici<strong>da</strong>de "<strong>da</strong>s cantigas de ro<strong>da</strong>,/ dos jogos de amarelinha,/ do tempo do 'era umavez...'" (p. 66). Esses versos mostram a infância não só como uma época saudosa,mas como um estado de vi<strong>da</strong> plena, <strong>da</strong> "feliz menina descalça" (p. 66). Naúltima estrofe, o eu lírico recor<strong>da</strong>: "Por fim ancorei para sem<strong>pr</strong>e/ em teu coraçãoplanaltino,/ Curitiba, meu amor!" (p. 66). O poema a<strong>pr</strong>esenta a trajetóriaespaço/temporal vivi<strong>da</strong> pelo sujeito lírico, do "berço selvagem" ao "coraçãoplanaltino". A trajetória anterior a que se refere o eu lírico, "dos navegantesvikings", <strong>da</strong> Ucrânia valorosa" às "levas imigrantes" parece pertencer à <strong>pr</strong>ojeçãomental, de um tempo "mítico-histórico".“Origem” (TE – VE, p. 82-83) alude diretamente ao tema <strong>da</strong> imigração.A construção poética é determina<strong>da</strong> pelo ritmo, que por sua vez possui umamarca <strong>pr</strong>edominantemente acústica, com seus versos livres, simples e fluentes:ORIGEM(aquarela eslavo-<strong>br</strong>asileira)Na memória do sangue,há bosques de bétulas,estepes de urzes flori<strong>da</strong>s,canções eslavas.Arde o trópico nos nervos.Crepita a alegria <strong>da</strong> jovem pátria.A alma se aquece na chama <strong>da</strong>s cores.Dança o coração em ritmo sincopado.121
- Page 2 and 3:
ANTONIO DONIZETI DA CRUZé professo
- Page 4 and 5:
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO P
- Page 6 and 7:
© 2010, Antonio Donizeti da CruzRe
- Page 9:
AGRADECIMENTOS SEMPREAgradeço ao p
- Page 15:
A alegria maior da vida é colher o
- Page 19:
SIGLAS DOS LIVROS DE HELENA KOLODYP
- Page 23 and 24:
PALAVRAS PRIMEIRASHelena Kolody: a
- Page 25 and 26:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 27 and 28:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 29 and 30:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 31 and 32:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 33 and 34:
desenvolvimento da cultura brasilei
- Page 35 and 36:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 37 and 38:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 39 and 40:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 41 and 42:
Feita de tortura e fel.Helena Kolod
- Page 43 and 44:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 45 and 46:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 47 and 48:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 49 and 50:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 51 and 52:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 53 and 54:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 55:
Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 58 and 59:
Antonio Donizeti da CruzA única ju
- Page 60 and 61:
Antonio Donizeti da Cruzpois, dessa
- Page 62 and 63:
Antonio Donizeti da CruzJakobson co
- Page 64 and 65:
Antonio Donizeti da Cruz"encantamen
- Page 66 and 67:
Antonio Donizeti da Cruzmais difere
- Page 68 and 69:
Antonio Donizeti da Cruza imagem co
- Page 71 and 72: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 73 and 74: A comunicabilidade na poesia kolody
- Page 75 and 76: Em “Inquietação”, o sujeito l
- Page 77 and 78: “Exílio” (SR, p. 12) é um exe
- Page 79 and 80: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 81 and 82: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 83 and 84: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 85 and 86: Chego a pensar, às vezes, comovida
- Page 87 and 88: significado das palavras, além do
- Page 89 and 90: A poesia de Helena Kolody funda-se
- Page 91 and 92: O poema enquanto presente original
- Page 93 and 94: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 95 and 96: poético. Percebe-se que a linguage
- Page 97 and 98: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 99 and 100: A tanka “Sabedoria” (RE, p. 60)
- Page 101 and 102: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 103 and 104: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 105 and 106: O haicai intitulado “Depois” (R
- Page 107 and 108: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 109 and 110: Pode-se dizer que a "semente" é me
- Page 111 and 112: A longa mão feita de sombraE tira
- Page 113 and 114: Ao calor do interrogar-senuvens ocu
- Page 115 and 116: dando um tom de irregularidade às
- Page 117 and 118: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 119 and 120: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 121: Lembra, sem o querer, numa impress
- Page 125 and 126: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 127 and 128: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 129 and 130: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 131 and 132: CONSIDERAÇÕES FINAISHelena Kolody
- Page 133 and 134: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 135 and 136: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASHelena
- Page 137 and 138: ATEM, Reinoldo. Panorama da poesia
- Page 139 and 140: Helena Kolody: a poesia da inquieta
- Page 141 and 142: JAKOBSON, Roman; POMORSKA, Kristyna
- Page 143: ANEXOS
- Page 147: 145
- Page 151: 149
- Page 155: 153
- Page 159: 157
- Page 163: 161
- Page 167 and 168: 2PRAÇA RUI BARBOSAQuando a conheci
- Page 169: 3A PRAÇAQuando a conheci, chamava-
- Page 173:
HAIGO171
- Page 177:
175
- Page 181:
179
- Page 185 and 186:
MANEIRAS DE SERHelena KolodyOs que